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  • Resenha | Os Pilares da Terra – Ken Follett

    Resenha | Os Pilares da Terra – Ken Follett

    Os Pilares da Terra - Ken Follett - capa

    Quando a obra de George R. R. Martin, As Crônicas de Fogo e Gelo, ganharam popularidade no país – e um alto índice de vendas – as demais editoras atenderam a uma demanda dos leitores – a procura de histórias semelhantes envolvendo fantasia e narrativas medievais – e inflaram o mercado editorial com novas franquias não publicadas no país e relançamento pontuais.

    Foi nesta ocasião que uma das grandes obras de Ken Follett ganhou uma edição a altura de sua narrativa, em sintonia com uma nova visão do mercado editorial brasileiro, preocupada em fornecer aos leitores um bom produto cultural. Lançado em capa dura pela Rocco, Os Pilares da Terra é um daqueles romances extensos que vale o quanto pesa.

    A trajetória de Follett como escritor foi elogiada desde o início quando publicou O Buraco da Agulha, excelente thriller de espionagem, vertente que explorou no início de sua carreira. Em 1989, o autor expandia seu universo narrativo, centrando-se em uma história situada no Século XII, em um período de instabilidade na Inglaterra, em que dois reis disputaram o trono. Neste cenário, Tom, um humilde pedreiro persegue o sonho de construir uma catedral.

    Diferentemente do autor de Game of Thrones e de outros que escolhem desenvolver sua trama a partir de um novo universo pontuado por novas regras de existência, como seres fantásticos, uso de magia, entre outros recursos, o espaço-tempo escolhido por Follett se baseia em fatos reais e históricos, ainda que, como naturalmente ocorre com toda ficção, há maior elasticidade de certos fatos para favorecer a ação. Se por um lado a escolha excluí elementos fantásticos, ganha melhor terreno ao destacar de maneira heroica os feitos de personagens fictícios em meio a um árido mundo real.

    Pela extensão da obra, é evidente que há uma dilatação no tempo para aprofundar os personagens iniciais e, aos poucos, apresentar outros núcleos que serão narrados de maneira alternada, entrelaçando-se em algum momento posterior. Como os personagens transitam por um mesmo local ainda que amplo, gradualmente, compõe-se as camadas sociais da época. Em uma terra em que o Rei é quase uma entidade desconhecida, a ascensão e queda se apresenta de maneira brutal, principalmente numa época em que havia embates pela coroa. A única autoridade presente se faz através da Igreja, um espaço que não só abriga os desvalidos como fomenta o crescimento de Kingsbridge, cenário central da narrativa. De qualquer maneira, os papéis de cada camada da sociedade são equilibrados sem nenhum maniqueísmo entre bom e mau, fator que faz da história sempre ambivalente, causando surpresas no leitor.

    Dessa forma, em cada núcleo narrativo, existirão personagens em conflito, muitas vezes, realizando feitos incômodos mas necessários para a sobrevivência. Follett compõe uma paleta de grandes personagens capazes de, sempre que possível, sobrepujar a miséria a favor da retidão. Ao criá-los sem extremismos, foge de estereótipos compondo personagens humanos e bem delineado em conflitos internos.

    A extensão da obra permite que o leitor acompanhe quase um século da história da Inglaterra, atravessando gerações de famílias e sua ascensão e queda. A riqueza de detalhes é precisa e, sem dúvida, o leitor se sentirá curioso para buscar as referências citadas pelo autor (não à toa, há sites que relacionam os locais reais, bem como as licenças poéticas em certos feitos).

    Extensa leitura e sempre prazerosa, Os Pilares da Terra é um grande épico narrativo que destaca o talento de Follett como narrador entre a ficção e elementos reais. O sucesso desta narrativa, gerou duas sequências situadas no mesmo local mas em espaços-temporais diferentes: Mundos Sem Fim (Editora Arqueiro) e A Column of Fire, a ser lançado em Setembro deste ano nos Estados Unidos.

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  • Resenha | O Buraco da Agulha – Ken Follett

    Resenha | O Buraco da Agulha – Ken Follett

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    Em um romance policial de suspense e investigação quanto menos se souber, melhor. É tênue a linha entre conhecer o argumento base da história e se deparar com elementos que somente no meio da trama são apresentados ao leitor mas que, de alguma maneira, a sinopse insiste em divulgar. Como de costume, sempre evito o resumo da contracapa. Normalmente, falam muito do que não deviam, estragando o que poderia ser uma surpresa.

    A capa de O Buraco da Agulha (Editora Record, Edições BestBolso, 434 páginas) revela a base necessária. O nome de Ken Follett aponta para uma possível trama investigativa com a possibilidade de utilizar-se de algum elemento histórico como pano de fundo. Afirmação corroborada pela suástica vermelha presa a uma agulha, aludindo ao título. É o suficiente para que se comece a leitura.

    Embora não seja o primeiro romance do britânico – o autor havia escrito quatro histórias anteriormente utilizando pseudônimos – é o primeiro que conquistou um grande sucesso e prêmios literários como o Edgar Award, maior prêmio para literatura de suspense e mistério, em 1979. A utilização da segunda guerra como pano de fundo para desenvolver esta história permite um brilho extra para a narrativa. Gera uma tensão ampliada pela ambientação devastada, de um momento histórico sensível em que potências em guerra escolhiam o momento certo para um possível ataque final.

    É neste contexto que Percival Godliman, um estudioso da idade média e antigo colaborador do MI5 é convidado para trabalhar em uma investigação que procura agentes infiltrados alemães dentro da Inglaterra. O embate da narrativa centraliza-se em Die Nadel, ou A Agulha, um dos poucos espiões em atividade em Londres que seria capaz de descobrir informações vitais que colocariam em risco a atividade britânica. É o suficiente para que dois grandes personagens lutem por seus ideais.

    A narrativa de Follett é composta de maneira tradicional. Em cada capítulo apresenta um ponto de vista diferente, equilibrando linhas paralelas da história com as doses precisas de informações e tensão. A escrita segura não tem medo se precisa dialogar mais intimamente com o leitor ou se estender a mais de um parágrafo na descrição de uma cena.

    Apresentando uma história de maneira neutra, sem julgamentos, o autor evita de cair na fácil armadilha de apresentar um lado da guerra como o melhor ou mais correto. Cada personagem convence por sua crença bem enraizada e sua trama chega a tocar em personalidades centrais da guerra como Hitler e Churchill, que dão mais credibilidade ao relato.

    O sucesso da carreira de Follett, as boas vendas e os comentários da crítica se justificam desde o primeiro livro. Demonstrando que, embora alguns considerem a literatura policial inferior as demais, há quem domine seus elementos e produzam estupendas narrativas. Sendo duplamente impressionante que esta tenha sido uma das primeiras narrativas do autor.

    O livro traduzido por Orlando Lemos pode ser encontrado em duas edições de bolso, uma contendo somente este romance (compre aqui) e outra em conjunto com Na Toca do Leão (compre aqui), também de Follett. O sucesso também gerou também uma adaptação cinematográfica realizada em 1981, com Donald Suthlerland e Kate Nelligan, lançando no fim do ano passado em DVD no país pela Classicline (clique aqui para comprá-lo).