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  • Crítica | Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América

    Crítica | Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América

    Em 2006 o ator e comediante Sacha Baron Cohen trouxe aos cinemas um de seus personagens mais famosos e caricatos entre as paródias que fez: Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América. Borat Sagdiyev é apresentado com um sujeito simples, de inglês carregado de problemas de conjugação e gramática e com um sotaque diferenciado. Ele se veste de modo peculiar, um terno que claramente não comporta seu corpo alto e esquálido.

    O formato de falso documentário se popularizou bastante nos anos 2000 por iniciativas como essas e por trás das câmeras está Larry Charles, que ficou famoso pelos roteiros de comédia de situação como Seinfeld. A forma como a realidade é apresentada é grotesca, e obviamente, muito engraçada. Os personagens que cercam Borat parecem tirados de esquetes de humor. As palhaçadas de Cohen ao atravessar a rua, lavar roupas no rio ou confundir o elevador com um quarto de hotel obviamente são as partes mais escrachadas e extremas da forma maldosa como os Estados Unidos veem os estrangeiros que chegam na sua “terra da liberdade”, e a construção dessa crítica foge de obviedades e didatismos bobos.

    Apesar de se apelar para estereótipos, clichês e piadas sujas é notado um aprofundamento no estudo de personagem. Borat é absolutamente aberto e sincero, tão verdadeiro que é impossível não se afeiçoar por sua personalidade, apesar de sua ignorância e mentalidade quase infantil. Ele é uma esponja que diante de uma cultura diferente absorve conhecimento e conceitos éticos à sua própria forma. Não há complacência com seu estranho estilo de vida, mesmo em suas futilidades, e em sua busca por encontrar Pamela Anderson, no que acaba sendo a desculpa perfeita para ele dirigir e viajar por todo o país.

    A maior parte do humor reside na forma como as pessoas lidam com o protagonista, em especial no choque que ele causa não só por questões culturais, mas também por sua aparência e falta de tato social ao forçar uma suposta intimidade com ilustres desconhecidos. Ainda assim, é incrível como boa parte dos preconceitos do casaque não soam tão estranhos aos homens normais. Seu problema com ciganos é um bom exemplo disso, certamente se houvesse mais enfoque na sua fobia a judeus, o quadro seria diferente e ele, mal visto. Por outro lado,  lida bem com a Parada Gay, e acha o povo LGBT + simpático e receptivo, perdendo seus pudores e rejeições ao ter contato íntimo com os gays, mostrando que sua homofobia é mais algo reproduzido do que naturalmente adquirido.

    Parte do humor mais acertado mora nas questões de etiqueta, e apesar dele ser rasgado em alguns pontos, há também um pouco de sátira ácida ao abordar o modo como as pessoas mais abastadas buscam a formalidade e o politicamente correto. Nessa necessidade de super educação ela expões seus preconceitos, mostrando que por mais que haja um esforço para manter as aparências, elas não sobrevivem ao contato direto com algo realmente chocante. A edição opta por não dar tanta gravidade a esses momentos, intercalando instantes em que o texto é mais politizado, com piadas pueris, variando para não parecer uma produção pedante.

    Não há nobreza nas intenções ou ações de Borat. Ele quer fazer o documentário para ganhar notoriedade, por interesses mercadológicos próprios, e ascender na área de jornalismo de seu país, e o fato de não tentar subestimar o espectador ao colocá-lo como um sujeito idôneo e honrado expõe todas as nossas idiossincrasias.

    Apesar do final não ser tão poderoso como o início da jornada, o longa segue como um exercício insano, engraçado e bastante válido de crítica social. Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América é um bom retrato do quão tosco e banal pode ser a mentalidade do americano médio e as hipocrisias da sociedade nos dias de hoje.

    https://www.youtube.com/watch?v=j4W51ndJ8Mc

  • Crítica | Brüno

    Crítica | Brüno

    Bruno - poster

    A potência do humor depende da surpresa. De uma quebra de expectativa que conduz o público ao riso após conduzi-lo a um caminho não previsto. Contar uma piada pela segunda vez para um mesmo grupo requer habilidade de seu narrador. Sem um elemento surpresa, parte do impacto é absorvido e os risos não são tão efusivos como na primeira vez.

    Brüno é a piada contada pela segunda vez por Sacha Baron Cohen. Tentando evocar o mesmo humor do excelente Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, o comediante apresenta outro personagem excêntrico em um humor limítrofe entre o absurdo e o exagero, utilizando situações aparentemente reais como constrangimento para fazer rir.

    A produção segue o mesmo estilo da história anterior, uma espécie de documentário sobre um personagem exagerado que busca ascensão na vida. Bruno, um repórter de moda, reconhecido em seu país natal, a Áustria, inicia uma jornada rumo ao estrelado nos Estados Unidos. Conforme fracassa em sua intenção, o jornalista procura alguma maneira de alcançar a fama. Espaço em que se desenvolvem as esquetes encenadas – ou não –, que funcionam como uma fraca linha narrativa.

    Reconhecido por seu papel em Borat, Cohen teve dificuldades em gravar cenas dessa produção devido à falta de anonimato, sendo obrigado a se equilibrar entre o material que colocava o personagem fictício em situações reais e em outras encenações com atores (Borat teve somente um ato articulado e previamente combinado). Mais episódica do que a história do repórter do Cazaquistão, a trama carece de uma linha narrativa mínima e, por consequência, parece ainda mais superficial.

    Impossível negar que Cohen se dedica aos papéis que cria. Entrega-se de corpo e espírito, e em entrevistas afirmou sobre o desgaste em interpretar uma outra pessoa diariamente. Isso sem contar o fato de que, como comediante, é sempre necessário superar-se devido à expectativa do público. Como personagem, o repórter gay representa a tradicional tipificação dada aos homossexuais na ficção. Um estereótipo afetado entre frases e roupas chamativas, como se esses elementos fossem taxativos. Por outro lado, o mesmo exagero poderia ser uma representação do quanto tudo que é diferente é visto com maus olhos pela sociedade. Uma reflexão que pode surgir no debate desta obra, desde que se saiba que a intenção primordial é o humor agressivo.

    A sátira do comediante não é velada nem sutil, mas aguda e agressiva. Escancarando os preconceitos enraizados nos Estados Unidos como também ridicularizando aqueles que, a todo custo, buscam a fama sem nenhum talento de fato. Sua maneira cáustica de mostrar tais problemas é através do riso, do absurdo que deve ser alvo do riso. Mas o humor peculiar doura tanto a pílula do disparate que mais constrange do que faz rir.

    A repetição de um mesmo estilo cômico provou falta de eficiência como material de riso. Tanto que, três anos depois, Cohen desenvolveu O Ditador como uma obra de ficção, tentando focar em uma história além da excentricidade e qualidade de suas interpretações. Com distanciamento, é perceptível que Borat foi uma espécie de experimento funcional que não pôde ser repetido pela falta de ineditismo, nem mesmo duplicado por conta de sua qualidade como mockumentary/comédia. Infelizmente, o comediante precisou reforçar a dose pela segunda vez nesta produção para compreender que a reiteração de uma piada é quase fatal para o humor.