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  • Crítica | Tirando o Atraso

    Crítica | Tirando o Atraso

    Após uma abertura repleta de estilo, onde é demonstrada uma relação bastante íntima entre avô e neto, o drama de Tirando o Atraso se estabelece, através de uma comédia rasgada e sem escrúpulos. O parente mais novo é Jason Kelly (Zac Effron), um jovem advogado em vias de se casar e que desde cedo optou por uma vida mais pacata e tediosa. A marcação de seu casamento visa exatamente estabelecer essa maturidade pregada por si, enquanto, seu avô o General Richard Dick Kelly (Robert DeNiro) está claramente depressivo, graças a morte de sua companheira, vitimada por um câncer que durou dez anos. Ambos tem que fazer uma viagem até Boca Raton, na Florida, para exorcizar os demônios de ambos.

    No meio do caminho, em meio a reprimendas dos familiares e da esposa que espera pelo neto, a dupla de parentes passa por flertes com universitárias bonitas, se hospedam perto da praia e circundam uma festa de uma faculdade, tudo a fim de permitir que o idoso possa ter finalmente um intervalo em sua vida sexual inativa, já que nada ocorre consigo a mais de 15 anos.

    O que se vê é uma odisseia de farra e inconsequência, como se aquela viagem não fizesse parte da vida dos que a vivem, tendo este paradigma evidentemente invertido durante o decorrer da história. O diretor Dan Mazer está acostumado a trabalhar com Sacha Baron Cohen, tanto em Borat como em Ali G Indahouse há colaboração do mesmo nos roteiros, fato que ajuda a explicar um pouco da escatologia sem noção do filme.

    A jornada de reaproximação é tão íntima que o chefe de família chega a fazer comparações entre os pênis dos parentes, elogiando seu neto por ter um instrumento parecido com o seu próprio. Este pequeno trecho já demonstra o quanto politicamente incorreto é o caráter do filme e o quão despreocupado ele é com normas e regras sociais, fator que o fez ser encarado como exemplo do que é um cinema execrável.

    De fato, há um número elevado de piadas de cunho tanto homofóbico quanto racista, mas é deixado claro dentro do roteiro de John Phillips que aquela é uma atitude isolada, por parte de um personagem que reproduz toda sorte de preconceitos de sua época, mas que ainda tenta conviver com o diferente, por mais que isto o assuste. A direção de Mazer não faz de Dick um pobre coitado e injustiçado, ao contrário, só dá carisma a um sujeito que é inconsequente, mas que diante de situações limite, percebe os próprios erros e tenta realizar um mea culpa.

    Tirando o Atraso está longe de ser uma comédia perfeita, mas sua intenção não é sequer a de entrar nesse mérito, e sim de ser mais um filme humorístico despreocupado e descerebrado, que causa riso exatamente por sua falta de noção e seu descompromisso com o status quo. As acusações de misoginia extrema e demais perseguições parecem partir de uma vontade coletiva de se eleger um exemplar de ódio mútuo do que um argumento de unanimidade por parte do público cinéfilo, fato que chega a ser até irritante, não tanto por denegrir a real intenção do filme, mas sim porque atitudes como essa ajudam a mascarar outros produtos da cultura pop que pregam de fato uma segregação de minorias.

  • Crítica | Brüno

    Crítica | Brüno

    Bruno - poster

    A potência do humor depende da surpresa. De uma quebra de expectativa que conduz o público ao riso após conduzi-lo a um caminho não previsto. Contar uma piada pela segunda vez para um mesmo grupo requer habilidade de seu narrador. Sem um elemento surpresa, parte do impacto é absorvido e os risos não são tão efusivos como na primeira vez.

    Brüno é a piada contada pela segunda vez por Sacha Baron Cohen. Tentando evocar o mesmo humor do excelente Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, o comediante apresenta outro personagem excêntrico em um humor limítrofe entre o absurdo e o exagero, utilizando situações aparentemente reais como constrangimento para fazer rir.

    A produção segue o mesmo estilo da história anterior, uma espécie de documentário sobre um personagem exagerado que busca ascensão na vida. Bruno, um repórter de moda, reconhecido em seu país natal, a Áustria, inicia uma jornada rumo ao estrelado nos Estados Unidos. Conforme fracassa em sua intenção, o jornalista procura alguma maneira de alcançar a fama. Espaço em que se desenvolvem as esquetes encenadas – ou não –, que funcionam como uma fraca linha narrativa.

    Reconhecido por seu papel em Borat, Cohen teve dificuldades em gravar cenas dessa produção devido à falta de anonimato, sendo obrigado a se equilibrar entre o material que colocava o personagem fictício em situações reais e em outras encenações com atores (Borat teve somente um ato articulado e previamente combinado). Mais episódica do que a história do repórter do Cazaquistão, a trama carece de uma linha narrativa mínima e, por consequência, parece ainda mais superficial.

    Impossível negar que Cohen se dedica aos papéis que cria. Entrega-se de corpo e espírito, e em entrevistas afirmou sobre o desgaste em interpretar uma outra pessoa diariamente. Isso sem contar o fato de que, como comediante, é sempre necessário superar-se devido à expectativa do público. Como personagem, o repórter gay representa a tradicional tipificação dada aos homossexuais na ficção. Um estereótipo afetado entre frases e roupas chamativas, como se esses elementos fossem taxativos. Por outro lado, o mesmo exagero poderia ser uma representação do quanto tudo que é diferente é visto com maus olhos pela sociedade. Uma reflexão que pode surgir no debate desta obra, desde que se saiba que a intenção primordial é o humor agressivo.

    A sátira do comediante não é velada nem sutil, mas aguda e agressiva. Escancarando os preconceitos enraizados nos Estados Unidos como também ridicularizando aqueles que, a todo custo, buscam a fama sem nenhum talento de fato. Sua maneira cáustica de mostrar tais problemas é através do riso, do absurdo que deve ser alvo do riso. Mas o humor peculiar doura tanto a pílula do disparate que mais constrange do que faz rir.

    A repetição de um mesmo estilo cômico provou falta de eficiência como material de riso. Tanto que, três anos depois, Cohen desenvolveu O Ditador como uma obra de ficção, tentando focar em uma história além da excentricidade e qualidade de suas interpretações. Com distanciamento, é perceptível que Borat foi uma espécie de experimento funcional que não pôde ser repetido pela falta de ineditismo, nem mesmo duplicado por conta de sua qualidade como mockumentary/comédia. Infelizmente, o comediante precisou reforçar a dose pela segunda vez nesta produção para compreender que a reiteração de uma piada é quase fatal para o humor.