Crítica | Os Fantasmas Se Divertem
Os Fantasmas se Divertem (Beetlejuice, 1988) talvez seja o primeiro filme que pode ser considerado um sucesso real dentro da filmografia de Tim Burton, ao menos o primeiro longa-metragem em que ele está livre para dar vazão a todas as maluquices que passavam por sua cabeça. O cenário inicial é o de uma cidade suburbana americana, com o casal recém-arranjado Adam (Alec Baldwin) e Bárbara (Geena Davis).
Na trama, eles se envolvem em um acidente de carro, e voltam para casa como se nada tivesse acontecido, exceto pelo fato de estarem mortos. Não há sequer dez minuto decorridos e os dois percebem que muitas coisas estão erradas. O além que Burton propõe é engraçado, repleto de elementos góticos e curiosos. Após uma breve introdução onde só se vê a silhueta de Beetlejuice (ou Besouro Suco, nas versões dubladas), a dupla de recém-falecidos percebe que não será nada fácil assombrar uma casa, e apelam então para o consultor fantasmagórico vivido por Michael Keaton, uma vez que sozinhos não conseguem assombrar os novos moradores de sua antiga casa.
Por sua vez, Keaton vive exatamente o resumo do que Burton acha agradável em matéria de cinema, suas falas e composições visuais tem muito a ver com os antigos curtas do realizador, especialmente Vincent (1982) e Frankenweenie (1984), enquanto seu modus operandi é completamente debochado, como nas comédias inglesas rasgadas. Apesar de carregar em si o nome original do filme, a jornada mostrada não é a de Beetlejuice, e sim do casal que não demora a encontrar entre os vivos que habitam a nova casa uma pessoa a quem se aliar, a adolescente problemática Lydia (Wynona Ryder), que diverge e muito dos parentes — novos ricos que só pensam em ascensão social e afins.
O desafio para Adam e Barbara é o de romper a condição de mortos-vivos bonzinhos, para enfim assombrar, e com isso, afugentar os compradores do lugar onde moravam. A cena do jantar com a dança Day-O’Dance, canção de Harry Belafonte, é homérica e inesquecível, mas não é assustadora o suficiente, e para variar as coisas saem do controle quando uma aparição de uma cobra sobrenatural ocorre, assustando a todos, mas sem grandes conseqüências. A sequência se utiliza de animações em stop motion, que ao menos aqui parecem defasadas, em comparação com o que viria em matéria de efeitos digitais, ainda que em alguns momentos referencie o cinema expressionista alemão.
Os momentos finais guardam uma boa convivência entre os residentes e as criaturas do além, tendo em Lydia o ponto de ligação entre os mundos. Essa questão poderia ter sido melhor trabalhada, já que haviam lacunas ali a serem preenchidas, e o final adocicado destoa um pouco da ambição de desconstrução do sub-gênero comédia de horror, mas ainda assim não invalida toda as bobagens nonsenses que Burton conduz através do texto de Michael McDowell, Larry Wilson e Warren Skaaren, que apesar de não ser a coisa mais bem urdida do mundo, ainda soa inteligente para as pretensões do filme.