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  • Crítica | Mulan (2020)

    Crítica | Mulan (2020)

    A nova versão de Mulan, dirigida por Niki Caro, esteve envolta em polêmicas praticamente desde que foi anunciada pelos estúdios Disney. A maior preocupação dos produtores era em arredondar o conteúdo para fazer sucesso entre o público chinês e, para isso, a diretora assumiu que cortaria a maioria das músicas, tiraria o mascote Mushu substituindo pelo símbolo da Fênix (que não seria o alívio cômico), e daria outro panorama a parte mágica bastante presente no clássico animado. Fato é que o Mulan de Tony Bancroft e Barry Cook não fez sucesso na China, e isso influenciou na escolha de  Yifei Liu, tradicional atriz com sucessos O Reino Proibido (e outros mal sucedidos, como O Imperador) para ser a personagem principal. Da parte dela, não há o que reclamar, afinal o desempenho é razoável, equilibrando bem as questões relacionados as batalhas e a carga mística que, por mais que tenha sido suavizada, ainda existe neste ponto.

    Devido a pandemia do novo coronavírus, o longa foi adiado algumas vezes e se tornou um dos testes entre os blockbusters a ser exibido direto no streaming, no  premier access do Disney + em que o assinante pagava um valor extra pelo filme. Caro ao menos teve uma coragem que Bill Condon não teve em A Bela e Fera, pois as mudanças no enredo são consideráveis. A estética de filmes de Hong Kong do sub gênero Wuxia também é acertada, há um bom resgate de momentos clássicos de obras como O Tigre e o Dragão e O Clã das Adagas Voadoras.

    Outra boa ideia desta encarnação, é o acréscimo da personagem Xianniang, de Gong Li, que serve de exemplo para a protagonista de como uma mulher de grande potencial desperdiçado. A associação das forças militares ao mal é uma ideia boa em premissa, mas é mal desenvolvida no roteiro, assim como a personagem de Li, mostrada como uma bruxa repleta de poder e com passado trágico mas que não é detalhado. Em um roteiro tão expositivo e óbvio, que faz questão até de explicar o que é ki, poderia contém espaço para nuances.

    Retirar as músicas não seria um problema se Mulan não parecesse tão genérico e isento de alma. O longa tem um vilão caricato e menos imponente que o Shan Yu original. E mais parece uma imitação dos filmes de época chineses do que outra versão de clássico Disney. Não acerta a lenda da personagem como Hua Mulan já havia feito, e pouco serve para refletir a respeito de uma jornada feminina edificante. Por mais que seja visualmente belo, fica aquém das expectativas mesmo do publico que aceitou as mudanças entre diferentes versões da mesma obra.

  • Crítica | Hua Mulan

    Crítica | Hua Mulan

    O longa Mulan –  no original Hua Mulan – de Jingle Ma e Wei Dong começa com uma cena estranha, com um homem de cabelos longos e esvoaçantes, no alto de um acampamento militar, aproveitando a brisa que corre o cenário. Logo se percebe que aquele não é um lugar isolado, as lideranças chinesas são avisadas do infortúnio, e soldados chineses são flechados.

    O cenário da China da antiguidade varia entre o melodrama da casa de Hua Mulan (interpretada por Wei Zhao), e o cenário dos servidores militares. As armaduras e os cenários de treinamento são muito bem feitos, transpiram fidelidade, e até por serem muito reais , não carregam o caráter épico do qual é conhecido o Mulan de Tony Bancroft e Barry Cook dos estúdios Disney. A lenda presente na Balada de Mulan é bem diferente das versões contadas no áudio visual, mas é difícil não estabelecer uma comparação com outra obra tão viva na memória.

    Não há muita preparação sobre os preceitos trabalhados na jornada da mulher que se põe como um homem, especialmente no que toca o disfarce dela. Dá para se notar facilmente que é ali uma mulher, querer fazer acreditar que é um alistado e não uma alistada. Fora isso, incomoda também o tom melodramático do filme. Para uma historia que busca desconstruir mitos de sentimentalismo ligados ao gênero feminino, peca-se  na tradução.

    As batalhas não são mal coreografadas, de todos os momentos certamente são os que há mais esforço para parecerem reais. Irrita um bocado a utilização de Slow Motion, fruto talvez da popularização de 300 de Zack Snyder lançado três anos antes desse, mas em boa parte dos combates corpo a corpo, as armaduras não parecem meramente fantasias de Halloween. A fotografia de Tony Cheung também ajuda um pouco a compor o quadro bélico.

    A historia é bem diferente do que se conhece no Ocidente, mas também não contem alguns dos elementos conhecidos do conto chinês, como a forte presença da família da personagem-título. Havia expectativa de que o longa tivesse um pouco da estética Wuxia, que permeou filmes como O Tigre e o Dragão, O Clãs das Adagas Voadoras e Herói, mas não houve essa influencia clara, ao menos não muito. Aparentemente há uma preocupação dos cineastas em ser palatável para o público dos Estados Unidos, embora sua linguagem não seja tão universal.

    Jornada de doze anos de guerra, desejo de voltar para encontrar seus familiares se torna um bom mote para Mulan sobreviver, e esse talvez seja o aspecto mais semelhante entre esta obra e o filme animado. Apesar  de pesar um pouco a mão no melodrama, Ma e Dong conseguem equilibrar bem o drama, apresentando uma historia de guerra e superação, que se vale dos clichês de maneira inteligente, embora não seja exatamente econômica.

  • Crítica | Mulan (1998)

    Crítica | Mulan (1998)

    Baseado na lenda chinesa e no poema A Balada de Mulan, o épico produzido pela Disney se inicia com uma belíssima música instrumental, acompanhado de um desenho no papiro que emula a arte dos antigos contadores de histórias envolvendo a cultura milenar chinesa. Rapidamente, a ação em Mulan se torna frenética, e não se demora a introduzir o vilão Shan Yu, um sujeito de compleição mal encarada e intenções vis.

    No salão imperial, há urgência para agir e para fortalecer as fronteiras, enquanto na casa da família Fa, Mulan acorda para se preparar no sentido de impressionar a casamenteira, em uma demonstração do quão conservadora e presa a formulas era a sociedade chinesa e ao mundo.

    O filme de Tony Bancroft e Barry Cook  se vale demais de mascotes animais, contando com um cachorrinho que ajuda a protagonista nas tarefas, um grilo chamado Gri-Li que a avó da mocinha carrega e que supostamente dá sorte, o cavalo Khan e um pouco depois se introduz o dragãozinho Mushu, a rebaixada criatura que só toca o gongo, para acordar os verdadeiros guardiões da família.

    Mulan se interesse por exercícios físicos, por jogos lógicos normalmente exercidos por homens e não gosta de maquiagens ou roupas mais elaboradas, ela teme que não agrade um alguém, pede aos ancestrais que ajude ela a ser uma pérola para honrar seu clã. Obviamente ela não alcança êxito, mostrando ela como mais uma das protagonistas femininas dos filmes da renascença da Disney, onde são fortes, decididas e não se prendem ao arquétipo de meninas indefesas ou garotas refém. A cena em que ela tem dividida a face entre a maquiagem branca e sua pele limpa representa de maneira sui generis a confusão mental e ideológica da garota, em uma representação bem rica do choque de expectativas e realidade.

    O modo como lida com os ancestrais/espíritos é leve e engraçada. Apesar de curto, o filme consegue passar bem pelos cenários, seja os arredores da muralha, seja o acampamento em Whu Zong ou na mata e na neve, aliás, poucos filmes desta época usaram tão bem as cores. Quando as criaturas mágicas despertam a cena é belíssima, misturando efeitos tridimensionais e bidimensionais.

    As cenas de batalha são muito boas, onde os efeitos são mais utilizados, e de maneira bastante sábia. O escopo épico aumenta demais da metade para o final e casa bem com toda a jornada de identidade da personagem, que se mostra mais hábil e poderosa que os homens do exército chinês, ela não só não deve nada aos alistados, como é mais competente e forte até que seu instrutor, Chang.

    Os números finais, com Yao, Ling e Chien Po se travestindo é uma boa inversão de valores com apelo para o visual. Aliás, os aspectos visuais e multicoloridos compõe com a bela trilha tornando o espetáculo bastante semelhante aos musicais da Broadway. Os valores traduzidos em Mulan são nobres e desconstroem alguns mitos tradicionais tacanhos, embora se mire ainda na obediência e servidão a monarquia.