Crítica | Busca Implacável 2
Liam Neeson não é um ator novato. Há mais de 30 anos ele dá vida a personagens em Hollywood e o faz com bastante propriedade, diga-se de passagem. Desde 2000, entretanto, podemos dizer que os holofotes tem se virado muito mais brilhantes para ele. No curriculum, o inglês tem o orgulho de ostentar nomes muito poderosos. Nas telonas, nesses últimos 12 anos, o cara já viveu Qui-Gon Jinn, Ra’s Al Ghul e até o soberano do Olimpo, Zeus.
O papel mais importante de sua carreira recente, entretanto, foi o não tão renomado Bryan Mills, protagonista do filme Busca Implacável (“Taken”, no título original). O fodalhão agente da CIA aposentado foi o personagem central de um filme que chegou bem quietinho aos cinemas mas causou um frisson em sua desesperada busca pela filha, sequestrada por uma rede internacional de prostituição e tráfico humano. Até 2008, ano em que o filme foi lançado, Neeson nunca havia demonstrado tamanha aptidão para representar um astro de um thriller de ação como fez naquele filme. Foi uma grata surpresa.
Protagonista de uma das frases mais empolgantes do cinema deste século, o ator chegou a ilustrar, também, um meme relativamente espalhado através da comunidade 9gagger do planeta (você talvez não saiba o que é o 9gag, mas certamente já viu alguma pérola de lá traduzida na sua timeline do facebook). A célebre citação figura entre uma das minhas preferidas do cinema dos últimos anos (dos últimos anos!):
“I don’t know who you are. I don’t know what you want. If you are looking for ransom, I can tell you I don’t have money. But what I do have are a very particular set of skills; skills I have acquired over a very long career. Skills that make me a nightmare for people like you. If you let my daughter go now, that’ll be the end of it. I will not look for you, I will not pursue you. But if you don’t, I will look for you, I will find you, and I will kill you.”
O filme foi um sucesso tão grande e inesperado ao redor do mundo, que obviamente não passaria sem uma continuação. Em 2012, chegou as salas de cinemas Busca Implacável 2.
Na sequência do thriller de ação de 2008, Bryan Mills precisa enfrentar o pai de um dos homens que ele executou no primeiro filme e que trama uma vingança contra ele. Em busca de retaliação pela trilha de cadáveres que o ex-agente havia deixado no primeiro filme, o pai de Marko sequestra ele e a esposa. Enfrentando uma grande quantidade dos homens do albanês Murad, Mills precisa evitar que a filha seja também sequestrada e salvar a ex-esposa das garras do inescrupuloso pai colérico.
O personagem de Neeson continua brilhante, sereno e estrategista, três das características que garantiram o sucesso do primeiro filme. Todo o restante do elenco, entretanto, começa mal e decai fortemente no decorrer da trama. A bela Maggie Grace (Emili Warnock no “horrível/terrível/não veja” Sequestro no Espaço) vive novamente a filha de Mills, que foi sequestrada no primeiro filme e que parece ter superado bem o trauma gerado pelos efeitos de seu violento sequestro. Famke Janssen (a Jean Grey da trilogia X-men) interpreta a ex-exposa do agente Mills mas não convence, como não havia convencido na primeira vez que interpretou a personagem.
O ritmo do filme segue mais ou menos a pegada do primeiro, mas desta vez ele demora um pouquinho mais para acelerar. Dividindo um pouco genericamente, eu diria que enquanto Taken demora uns 20% do tempo para acelerar, Taken 2 leva 50% do tempo na tela para ganhar ritmo e tornar-se propriamente um filme de ação. Mesmo quando entramos na parte mais porradeira do filme, ainda, ele perde em adrenalina para a primeira obra, o que prejudica um pouco a avaliação geral do filme.
O roteiro das duas produções é, também, bastante distinto. Enquanto a primeira filmagem ocupa-se unicamente em mostrar o personagem principal em sua “Busca Implacável” (sacou, sacou?!) pela filha, o segundo mostra um Bryan Mills não tão infalível e que envolve, vejam só, a própria filha em sua escapada do cativeiro. Há, sim, alguns momentos muito interessantes que mostram o quanto o agente é um gênio e como consegue reagir inacreditavelmente diante situações de crise, mas a trama se sairia muito melhor com o personagem salvando o dia sozinho novamente.
Existem situações pontuais da trama que mostram uma certa incoerência com a construção do personagem principal feita no primeiro filme, e estas questões fazem deste um filme muito abaixo do primeiro. Isso sem falar das falhas grosseiras como, por exemplo, o agente disparar sua pistola uma quantidade impossível de vezes com o mesmo cartucho de projéteis. Há uma ceninha de luta desarmada no final que também é totalmente desnecessária e fora do comportamento padrão deste que foi um dos personagens originais mais impressionantes que vi nos últimos anos.
A sequência de Busca Implacável só está nas salas hoje graças ao sucesso inesperado do primeiro filme e por isso não acho descabida a óbvia comparação com o primeiro título. Maggie Grace trabalha melhor no primeiro filme, quando é apenas uma vítima dos acontecimentos que precisa ser salva pelo personagem principal. Em alguns momentos da trama, ela chega a trabalhar como uma parceira do pai em sequências que, apesar de serem até bem filmadas pelo diretor Olivier Megaton, desviam-se bastante do que emplacou o sucesso do primeiro filme.
Não é a primeira vez que Megaton (que tem o pseudônimo mais sem sentido que eu já vi na vida, seu nome de batismo é Olivier Fontana) recebe uma continuação forçada pela indústria para dirigir. Ele é o diretor do fraco Carga Explosiva 3, e já deveria ter aprendido a lição. Hollywood precisa aprender a deixar seus sucessos em paz. Infelizmente, ao que tudo indica, a continuação de Busca Implacável virá até as telonas, mas já não posso mais afirmar com tanta certeza que irei conferi-la no cinema.