Crítica | It: A Coisa
Pennywise (Bill Skarsgård), o palhaço mais assustador da cultura pop, está de volta em mais uma adaptação da obra de Stephen King (Leia nossa crítica de IT – Uma Obra Prima do Medo). Com roteiro de Chase Palmer, Cary Fukunaga e direção de Andy Muschietti, o filme conta a história do autodenominado “Losers Club” (clube dos perdedores), um grupo de amigos, pré-adolescentes, que moram na pequena cidade de Derry, no estado de Maine, que começa a investigar o desaparecimento de várias crianças e adolescentes.
Enquanto tentam descobrir o que aconteceu aos desaparecidos, se deparam com Pennywise, o palhaço – uma encarnação do mal que tem espalhado mortes e violência na cidadezinha há séculos, desde sua fundação.
Grupo de crianças e/ou adolescentes são personagens recorrentes nas histórias de King. Quem não se lembra de Conta Comigo? Não há dúvida que a identificação do público com os personagens é facilitada, ocorrendo de forma mais intensa, pois as situações vividas pelas crianças sempre encontram correspondência na própria vivência do espectador. E, lógico, devido a essa identificação, o público se importa muito mais com o destino dos personagens, com o risco que correm. Em consequência, os sustos e as situações de perigo provocam reações potencialmente maiores.
O escritor também aproveita suas histórias para falar das dificuldades de ser criança/adolescente, dos percalços que a passagem à vida adulta traz. Em suma, suas histórias tratam basicamente dos ritos de passagem. No caso desta, todos os medos e anseios dos personagens são personificados de forma assustadora nas visões causadas por Pennywise. É um recurso bastante eficiente, que J.K. Rowling também usou – o Bicho-papão assumia a forma do maior medo de quem olhasse para ele. Mas com Pennywise, esse conceito é aplicado de modo exponencialmente mais horripilante, principalmente pelo fato de as visões serem muito mais realistas.
Bons sustos não faltam ao filme. E, o que é melhor, mesmo para os espectadores de filmes de terror mais “experientes”, nem sempre é possível antever o momento em que irão ocorrer. Muitos filmes o gênero sofrem do que se pode chamar de “clichê precoce”: situações recorrentes em que é quase certo que o personagem tomará um susto e, talvez, o público também. A cena clássica do susto ao abrir a cortina do chuveiro é um bom exemplo disso. Contudo, o roteiro consegue manejar bem os sustos, não só por não deixar óbvio o momento em que ocorrerão, mas também por gerar o susto de formas inusitadas, em locais tão inusitados quanto um ralo de pia.
Os roteiristas optaram por deslocar a história temporalmente para os anos 80 – no livro de Stephen King, ela se passa em 1958. E pode-se dizer que foi uma ótima escolha, já que essa década certamente gera um saudosismo muito maior do público atual. A reconstrução da época foi muito bem feita, desde o figurino, passando pelo cenário e até os programas de TV e as músicas tocando no rádio. Os espectadores que foram assistir E.T. – O Extraterrestre ou Conta Comigo no cinema se sentirão em casa.
O elenco infantil é sensacional. A sinergia que possuem faz com que consigam transmitir tanto a força dos laços de amizade quanto dos conflitos entre eles. E vale destacar a atuação de Skarsgård, irreconhecível sob a maquiagem de Pennywise e simplesmente aterrorizante.
Se você tem medo de palhaços, este filme definitivamente não é para você. E se você não tem, há grande probabilidade de passar a ter.
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Texto de autoria de Cristine Tellier.