Resenha | A Saga do Monstro do Pântano – Livro Quinto
O mundo quase acabou, e a ressaca de ter sobrevivido ao apocalipse é forte nesse quinto volume d’O Monstro do Pântano, numa nova etapa da obra assinada por Alan Moore em sua magistral e profunda abordagem de fantasia e ficção científica para a lenda do personagem, nos anos 80 – pré-Watchmen. Após ter ajudado a salvar nossa realidade da sua literal destruição mística, o Monstrão agora tenta se acostumar com a volta para casa, escondido da civilização entre os jacarés e as árvores de seu solitário pântano, na Louisiana, sul dos Estados Unidos. Ele só não esperava que sua amada Abigail, enquanto o Verdão trabalhava onde céu e paraíso se chocam, estivesse presa por ter sido filmada escondida, beijando o monstro. Toda cidade a enoja, e presa, a sentença de Abigail por crimes contra a natureza é impiedosa, mas até parece que seu namorado vai deixar a (in)justiça dos homens recair sobre ela, tão fácil.
Com todo o poder que tem, afinal o Monstro do Pântano é o arauto ambulante de toda a força natural da mãe Terra, quando a entidade descobre que Abigail foi detida como louca no hospício Asilo Arkham, em Gotham City, sua cólera é imensa, indo reverter a situação. Na breve história Consequências Naturais, vemos um ex-ser humano, transformado pelo destino em um Deus, dominar com suas raízes uma corte e uma metrópole inteira para que lhe devolvam a mulher que ama, desarmada sob a égide do estado americano. Diante da calúnia que Abigail foi trancafiada no Arkham pelo seu ato desumano e esquizofrênico de ter relações sexuais com uma criatura abominável, e asquerosa (o que, tecnicamente, é verdade, devido ao visual dele), vemos a ira irrefreável da natureza irromper dos bueiros, se edificar mais alto que qualquer arranha-céu, e dominar a paisagem urbana que aprisiona a “noiva do Frankenstein”. O monstro está na área pra reclamar o que é seu, sem lembrar que a área pertence ao Batman.
Na divertida O Jardim das Delícias Terrenas, eis o famoso e tão esperado embate entre os dois personagens mais sombrios da DC (uma vez que o mago Constantine foi tirar umas férias depois do quase-apocalipse que rolou, já que assunto de marido e mulher não o interessa), numa Gotham que mais parece a floresta Amazônica e que dá inveja até a Hera Venenosa. Se vale tudo mesmo para resgatar Abigail, a Besta das Matas agora enfrenta o Cavaleiro das Trevas em casa, enquanto não move esforços para provar porque devemos temer quando a natureza se enfurece, e decide exibir sua soberania nesse mundo, convencida de sua óbvia vitória sobre os sistemas dos homens… mas sem saber que Lex Luthor, o gênio careca já acostumado em encarar o imbatível, foi recrutado em Gotham para bolar um plano e vencer essa ameaça onipotente. Alan Moore reitera, mais uma vez, sua exímia habilidade em balancear elementos clássicos da DC em suas histórias de mistério e ação, caprichando no suspense e nos fazendo duvidar se, de fato, o Monstro do Pântano é tão infalível, assim.
Prestes a deixar a saga do Verdão para trás, após participar de uma colaboração de quase uma década que marcou época, nas HQ’s, revitalizando um personagem esquecido e dando-lhe novos encantos, e possibilidades, podemos notar entre as edições 51 e 56 que Alan Moore já deixou de lado os grandes arcos do Livro Três, e Livro Quatro, voltando-se a partir deste Livro Cinco a histórias menores, bem menos ambiciosas ou elaboradas, mas ainda assim surpreendentes devido a sua dinâmica, ótimos personagens e boas sacadas no roteiro. Um exemplo disso é a bela Meu Paraíso Azul, na qual nosso monstro (que de terrível, guarda só a aparência) viaja para dentro de sua consciência e imagina uma dimensão baseada em seu amor incomensurável por sua Abigail, dando a ela cabelos de margarida, e uma aura angelical. Falar de amor numa história do Monstro do Pântano nunca é cafona com Alan Moore, que ainda contava com desenhistas da magnitude de um Rick Veitch e John Totleben para ilustrar painéis de beleza avassaladora, nunca antes vistos com tanta paixão, e exuberância numa HQ, todas publicadas, com a devida pompa, pela editora Panini, no Brasil.
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