Crítica | Greyhound: Na Mira do Inimigo
Podemos dizer que o astro Tom Hanks tem uma relação bastante próxima com a Segunda Guerra Mundial, afinal, o ator americano estrelou uma das maiores produções do gênero, O Resgate do Soldado Ryan, um dos filmes mais sensacionais, impactantes e realistas sobre o tema. Na época, o filme de Steven Spielberg faturou cinco estatuetas do Oscar, inclusive, com Spielberg vencendo como melhor diretor.
Todos nós sabemos que Hanks é um ótimo ator e, ao longo de sua carreira, é possível mencionar pelo menos 30 filmes em que o ator estava presente e que foi marcante. Podemos dizer que sua participação em Greyhound: Na Mira do Inimigo certamente entrará nessa lista.
Inicialmente, a produção teria seu lançamento no cinema no mês de junho desse ano, mas em virtude da pandemia causada pelo vírus COVID-19 a estreia foi adiada e, consequentemente, os direitos de distribuição foram repassados ao serviço de streaming da Apple, a Apple TV e o filme chegou na plataforma em 10 de julho.
Hanks vive o religioso capitão Ernst Krause, que é designado para liderar o enorme destroier USS Keeling, mais conhecido como Greyhound, durante sua primeira escolta pelo Oceano Atlântico, juntamente com outros dois navios militares menores, protegendo diversas embarcações que levam diversos tipos de suprimentos para a Inglaterra, num dos momentos mais tensos da Segunda Guerra conhecido como Batalha do Atlântico, uma vez que os submarinos nazistas conhecidos como U-boat foram responsáveis por afundar milhares de embarcações por todo o oceano, causando a morte de milhares de pessoas. Durante a travessia, o comboio aliado fica sem nenhum tipo de apoio aéreo e precisa lidar sozinho com os mortais U-boats que surgem como moscas em cima de um animal morto.
O diretor Aaron Scheider que possui pouquíssimos filmes em seu currículo na cadeira de direção e diversas outras produções como diretor de fotografia, conduz Hanks com maestria. No transcorrer da fita, podemos perceber as sutilezas na mudança da personalidade do Capitão Krause, à medida que as coisas vão acontecendo e a tensão toma conta da tela logo nos primeiros 15 minutos, só deixando aquele que assiste respirar em seus momentos finais. Por opção e por ter uma missão a cumprir, o capitão deixa de se alimentar, privando-se inclusive do sono, sendo que o terror promovido pelos nazistas, a falta de alimentação e a falta de descanso são fatores fundamentais para a mudança do personagem durante o filme. É possível perceber de maneira sutil a sua degradação. Méritos também de Hanks que, além de ter sido o protagonista, escreveu o roteiro, baseado no livro The Good Shepherd, escrito em 1955 por CS Forester.
Outro destaque fica para o design de produção. Apesar do ambiente claustrofóbico (já que 95% do filme acontece dentro da embarcação), esse departamento dá show com a quantidade de detalhes de itens ou situações que são perceptíveis dentro do Greyhound. Aliás, o espectador sai com aquela sensação de que teve uma aula sobre como os navios eram operados durante a guerra e como seus tripulantes precisavam se portar, tanto em situações de tranquilidade, quanto em situações de risco ou em batalha. Inclusive é completamente entendível o porquê de certas pessoas terem sido condecoradas com atos de heroísmo. Além disso, que época complicada para ser soldado.
Com isso, pelo fato de Greyhound: Na Mira do Inimigo estar sendo um sucesso, podemos dizer que a Apple TV deu uma cartada certeira em adquirir os direitos de distribuição, fato esse que poderá aumentar a coragem dos distribuidores e investidores de produções. Enquanto isso, quem ganha é o espectador que, a cada dia que passa, pode ver produções incríveis por um baixo custo. De qualquer forma, seria legal ver esse filme nos cinemas quando a pandemia acabar, mesmo as chances disso acontecer serem remotas.
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Texto de autoria de David Matheus Nunes.