Review | Planeta dos Macacos
Primeira obra audiovisual sobre a franquia dos macaquinhos sem Arthur P. Jacobs, já falecido no ano de lançamento da produção, em 1974, o seriado Planeta dos Macacos acompanha a trajetória de Alan Virdon (Ron Harper) e Pete Burke (James Naughton), dois astronautas que caem no planeta dominado por Macacos, a bordo de uma pequena nave espacial.
Dessa vez são chimpanzés e um gorila que encontram o transporte interestelar, jogado próximo a uma floresta. A reação dos personagens diante da descoberta é assustada, amedrontada, diferente da curiosidade típica dos cientistas e da selvageria dos militares, representados pelas duas raças citadas. Um outro humano os auxilia, e ele também fala – aliás, quase todos os seres humanos falam, o que não faz sentido algum, e ainda têm uma cidade, Chalo. É como a inversão do conceito escravo mostrado no quarto filme
Um chimpanzé trabalha diretamente com o Presidente Zaius (vivido nesta encarnação por Booth Colman). Sua inteligência é maior que a dos outros, assim como sua filiação. Interpretado por Roddy McDowall, o chimpanzé, que se chama Galen, se apresenta como o sopro de ar fresco em meio a todo o ar tosco do seriado. Dentro deste mesmo círculo há um gorila, que não aparenta ser um sujeito vilanesco, chamado Urko – possivelmente uma referência ao General Ursus do filme dois –, encarnado pelo experiente Mark Lenard. Os sobreviventes Alan e Pete percebem ainda no início que aquele planeta é a Terra e são capturados por Urko, sendo feitos prisioneiros. Curioso, Galen se aproxima dos intrusos, mas logo os refuta.
A despeito da vontade de Urko, Zaius manda manter os dois homens vivos para estudá-los e tentar entender como eles vieram a produzir as armas de fogo que carregavam, como granadas sofisticadas e naves que cruzam o espaço. No entanto, a bondade do orangotango para por aí, pois ao ser questionado por Galen se humanos e macacos poderiam viver em paz como iguais, a resposta foi da total ignorância ao questionamento. Galen permite que os dois viajantes vão atrás de Zaius, descobrindo que outros homens evoluídos vieram antes deles, possivelmente alguns seres pretéritos aos mutantes. Logo, Galen é mantido cativo e os astronautas liberam o chimpanzé para que o trio tente alcançar a astronave e, através de um dos seus instrumentos, volte para casa.
É difícil alocar o seriado na cronologia do resto da franquia, pois, apesar dos nomes em comum com os espécimes do cinema e das citações a outros possíveis astronautas, na série o ano relativo à chegada da nave é 3.085, 900 anos antes de Taylor chegar ao planeta (seria 3.978). Com quase um milênio de distância, é possível acreditar que os homens que falavam foram aniquilados e que o Zaius desta produção seja um antepassado do outro, ainda que qualquer conjectura a esse respeito seja pura especulação. Se a preocupação da Fox fosse mesmo traçar uma linha cronológica decente, não se perderia tanto tempo com formatos de episódios tão batidos.
Mesmo que em alguns momentos Urko se veja obrigado a lidar com os homens de modo não belicoso e interdependente, ele prossegue em sua paranoia, caindo na armadilha do seu próprio complexo de inferioridade, se apegando a figuras comuns, como desenhos nas ruínas das cidades que mostram crianças humanas assistindo a um gorila dentro da jaula de um zoológico. Curioso é que mesmo com isso, a dupla de humanos segue nobre, como se precisasse provar seu valor, se comparando com os animalescos soberanos do planeta e infantilizando (ainda mais) a mensagem dos dois últimos filmes.
Dois fatores pontuais denigrem muito a série: o primeiro deles é a irrelevância com que a maioria dos roteiros é levada. Mesmo os episódios com boas premissas fazem com que acabam por diluí-las em razão do formato serial. A ideia é que os episódios não ultrapassassem 49 minutos para não enfraquecer os outros, e isso acaba pecando para o outro lado, pois assim generaliza-se o show, fazendo a trama do todo fraca e demasiadamente repetitiva.
O outro fator negativo são as maquiagens, que nem sempre funcionam. A decisão em pôr humanos falando seria, evidentemente, para baratear os custos, mas isso também acostumou mal a produção, que fazia com que os símios se apresentassem toscos na maior parte do tempo. Em oito anos após o filme de Franklin J. Schaffner, as bocas dos primatas estão piores, falar torna-se uma tarefa hercúlea, em alguns momentos até Gallen sofre com esse inconveniente, o que atrapalha a atuação até mesmo do mais talentoso membro do elenco, Roddy McDowall.
As incongruências continuam no roteiro, enquanto Urko prossegue louco para capturar os dois astronautas; eles seguem desfilando à sua frente, passeando pelo planeta sem qualquer disfarce. Mesmo supondo que, para os macacos, todo humano é igual – lembrando que isso é aventado na franquia cinematográfica, mas não é citado no seriado – seria tolo fazer isso, dando oportunidade para que eles fossem capturados em qualquer momento, novamente.
O último capítulo antes do cancelamento do seriado – motivado pela já esperada baixa audiência do programa – mostra um homem nativo, Konag (Martin E. Brooks), que busca superar seus próprios limites, inventando para seu uso pessoal um planador aéreo, pedindo a ajuda de Alan e Pete para torná-lo um objeto mais pernicioso. Mesmo alertado pela dupla de que os gorilas o caçariam pela audácia de pensar, ele prossegue em seu desejo de autossuperação. Em paralelo a esta trama, é seguida uma side-line, mostrando Gallen e outra chimpanzé, Carsic (Joanna Barnes), que tem em seus delírios de loucura a intenção de ascender com sua raça usando a mesma máquina de voo para fazer valer a supremacia dos seus e também munindo-se de uma caixa repleta de bombas. O que poderia ser um belo paralelo com a trajetória de Ícaro, unido a um comentário político mais adulto, acaba suavizado pelo viés episódico abobalhado que percorreu todo o show. Apesar deste Up Above the World So High ser o mais emocionante dos episódios, ele ainda é inconclusivo e deveras anticlimático.
Sem um fim definido, a programação foi descontinuada, sem qualquer menção a uma possível continuidade. Não à toa o caráter paupérrimo da obra é observado em todos os 14 episódios, e assisti-los é um exercício de difícil execução, especialmente se comparados aos melhores momentos da franquia cinematográfica.
Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.