Tag: Sandra Huller

  • Crítica | Toni Erdmann

    Crítica | Toni Erdmann

    toni-erdmann

    O longa-metragem de Maren Ade é uma biografia dupla sobre os dois personagens interpretados por Peter Simonischek, sendo o primeiro Winfried, um professor de música de meia-idade que está bastante debilitado por uma enfermidade emocional e outro seu alter ego, Toni Erdmann, personagem que dá título ao filme e que representa sua versão mais farsesca. Após se sentir solitário, ele vai ao encontro de sua filha Ines (Sandra Hüller), uma mulher independente, bem sucedida e que leva sua carreira como ponto prioritário de sua vida.

    O reencontro entre os dois começa tímido, com a mulher de negócio normalmente ignorando a presença de seu pai, que acaba por ser um peso em sua rotina, atrapalhando as negociatas que ela tenta levar. Após uma despedida emotiva, o patriarca retorna usando uma nova história para Erdmann, munido de uma dentadura falsa e de uma peruca fajuta, tentando se inserir no meio empresarial e causando na sua filha uma experiência de vergonha e de descoberta da própria identidade, que por sua vez está enterrada abaixo de toda a burocracia que seu cotidiano exala.

    O roteiro busca acertar uma questão filosófica sobre a existência e a convivência pacífica com a felicidade, sem necessidade de tornar este sentimento em algo obrigatório, mas ainda dando bastante importância a ele. O conjunto de piadas funciona quase a perfeição e o espectador tende a gargalhar com os modos excêntricos de Toni, bem como as reações da rica personagem Ines. Aos poucos, ela se torna também uma Erdmann, ainda que a vazão para essa insanidade seja bastante diferente.

    Há um problema de ritmo no filme, claramente, tendo partes extensas demais perto do que seria o ideal. A ideia de ter cenas longas mostrando a rotina da filha visa demonstrar o enfado e o caráter desagradável do mundo corporativo, mas a mensagem é plenamente passada já nas primeiras passagens. Ainda que incorra em obviedades, o filme é terno e carismático, como seu herói.

    A jornada vista em Toni Erdmann varia entre o burlesco e o agridoce, tendo uma sequência próxima do final que desconstrói por completo a ideia burocrática e engessada do empresariado comum, mostrando uma espontaneidade por parte de Ines ainda não vista e comprovando que em suas veias corre o mesmo sangue que o de seu pai. A discussão sobre rupturas e tentativas de retornar a uma relação terna novamente é encantadora e sucinta, servindo esse de exemplo para todo o filão de filmes americanos guiados sob a pecha desnecessária de água com açúcar.

  • Crítica | Movimento Browniano

    Crítica | Movimento Browniano

    Movimento Browniano

    Um quarto vazio, ordenado e silencioso. Os primeiros minutos de filme já indicam perfeitamente o ritmo da narrativa que vai se suceder a partir de então em Movimento Browniano, da diretora holandesa Nanouk Leopold: lento e inexpressivo.

    Charlotte (Sandra Hüller) é uma médica que vive em Bruxelas com seu marido Max (Dragan Bakema) e seu filho pequeno. Divide sua vida familiar e de trabalho com os encontros íntimos que tem com os pacientes que atende no hospital. Quando Max descobre as traições de sua esposa, passa a levá-la a consultas psiquiátricas, além de ter que lidar com a perda da confiança de sua mulher.

    Ausência de expressão, frieza e distanciamento são palavras que ilustram bem a atmosfera do filme. Os poucos diálogos da obra dão lugar à escolha estética narrativa de suspensão de informação. Não há trilha sonora alguma no filme, apenas sons ambientes. Olhares, sorrisos e respirações. Os sons dão lugar às sensações na maior parte do tempo. Assim como Max, somos levados a tentar entender as motivações misteriosas de Charlotte, porém o filme nos faz acreditar que tudo aquilo é mais profundo do que podemos imaginar. Não há nada certo. Tudo permanece em suspeição.

    Os planos abertos, de longa duração, a direção distante e a utilização da câmera de maneira imparcial são todos usados com o intuito de dar uma entonação reflexiva ao filme. Movimento Browniano arrisca em escolhas que poucos filmes possuem coragem de fazer. Leopold é corajosa e abstrai as aparências externas para causar reflexão nos espectadores, quase como se estivesse invadindo a mente destes mesmo sem perceberem.

    Existe muito mais no vazio do que aparentemente acreditamos. No vazio existem pensamentos e estes são tão grandiosos quanto qualquer outra forma de expressão do ser.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.