Resenha | Savage Dragon
A prova de que os quadrinhos da década de 90 foram, no mínimo, excêntricos é comprovada na leitura de qualquer título mensal lançado na época. Com cenas exageradamente coloridas, quadros irregulares com personagens invadindo outras cenas e um excesso de criatividade por parte dos desenhistas deram o tempero para atrair inúmeros leitores ainda que em tramas de qualidade duvidosa, mas divertidas. Não menos importante que tais características, em 1992, a Image Comics foi fundada para concorrer diretamente com a Marvel e DC Comics.
Criada por Todd McFarlane, Jim Lee, Whilce Portacio, Marc Silvestri, Erik Larsen, Jim Valentino e o “mestre” Rob Liefeld, todos oriundos da Casa das Ideias, a Image se tornou na época a segunda editora mais popular em vendas e reconfigurou a década com suas histórias focadas na ação e personagens excessivamente bem moldados, compondo novos heróis em notáveis edições.
Criado por Erik Larsen, o Savage Dragon como conhecemos foi reformulado e lançado em 1992. Anteriormente, três aparições deste personagem criado pelo autor em sua infância foram lançadas na década de 80. Bebendo na fonte da narrativa policial sem perder o foco de uma narrativa quadrinesca de divertimento com a clássica porradaria, a série da personagem foi uma das poucas lançadas na época no Brasil em formato americano. Embora a Abril Comics tenha lançado somente a minissérie especial que introduzia o herói e os 16 números da revista original, a série se tornou popular também no país. Mais três editoras lançaram o personagem em arcos específicos: Em 2001, a Pandora Books lançou um crossover com Hellboy; em 2007 foi a vez da HQM lançar a edição #0 narrando a origem e, recentemente em 2012, A Mythos publicou a saga Unidos, compilando seis números da série.
O número inicial de The Savage Dragon foi lançada no país em 1997 e em apenas 25 páginas estabelecem com qualidade a personagem e a ambientação. Savage Dragon é um super agente da polícia de Chicago. Sua memória mais antiga é despertar de um local em chamas (sua origem seria explicada em uma edição posterior, a tradicional número zero) , motivo que mantém sua origem desconhecida. Com superforça, invulnerabilidade e fator de cura, o policial se torna o personagem principal para proteger a cidade de ameaçar super-humanas.
Com um físico avantajado (a década de 90 e seus personagens com músculos mais definidos que os mais rigorosos body buldings), o personagem alinha bom humor e boas cenas de ação. Na primeira edição, Dragon lida com a ameaça de um rato gigante que mata impiedosamente a população da cidade. Ao mesmo tempo em que lida com as dúvidas sobre si mesmo e sua origem.
A trama estabelece com qualidade a ambientação do submundo de Chicago e a verve voltada para a violência. Narrado pelo próprio personagem, o tom relembra os clássico detetives policiais em um mundo decadente, agindo primeiro e perguntando depois. Como trabalha para a polícia da cidade, há um conjunto de regras que o herói tem de seguir mesmo que, em alguns momentos, tenha dificuldade de lidar com tais obrigações. Em poucas páginas, o eficiente roteiro de Larsen – que ainda hoje escreve para a revista – estabelece o interesse amoroso da personagem, o parceiro que ajudou-o a entrar na polícia, bem como aponta as primeiras parcerias heroicas com Barbarie e Ricochete.
Nos números seguintes, o roteiro mantém a tônica de ação, introduzindo personagens que farão parte do grupo heroico de Dragon (há algumas edições que apresentam pequenas histórias narradas pelos novos personagens). O segundo número, por exemplo, tem um eficiente crossover com as Tartarugas Ninja. Na época, o grupo foi incorporado no universo Image possibilitando esse encontro que funciona tanto como boa história como um chamariz a mais para o público leitor diante da novidade do novo herói.
Hoje reconhecido como um dos personagens mais populares da Image Comics. O início de Savage Dragon é divertido e bem desenvolvido em sua origem. Um início que merece ser relembrado em tempos presentes e revisto por novos leitores de quadrinhos.
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