Tag: sistema carcerário

  • Crítica | Juízo

    Crítica | Juízo

    No inicio do documentário de Maria Augusta Ramos, sobre menores infratores, há um aviso de que as imagens utilizadas dos tais menores de idade, são dramatizadas pois a justiça brasileira não permite o uso da imagem de julgados com menos de 18 anos. Juízo se parece demais com Justiça, filme anterior da diretora, com os julgadores sendo extremamente severos com os réus, quando não falando em tom professoral, em tom de bronca, com postura semelhante ao de uma mãe dando lição de moral em seus filhos.

    A paciência dos juízes é ligeiramente maior do que o que se assiste em Justiça, isso é “culpa” evidentemente da baixa idade dos investigados. Repara-se facilmente na baixa escolaridade da maioria dele e a escolha por dramatizar as situações com esses menores ajuda a aproximar o espectador das barbáries que ocorrem dentro e fora do ambiente de julgamento, seja pelos maus tratos da promotoria e juiz, ou pelos crimes cometidos, que em alguns momentos recaem sobre crimes pesados, como assassinato após maus tratos ao acusado.

    A juíza que normalmente verifica as situações é extremamente grosseira e impaciente. A empáfia que é vista nos personagens de Justiça aqui é extremamente amplificada. A postura é tão passivo agressiva que, mesmo quando o menor sai da sala com uma sentença favorável a si, se retirar do local com as mãos para trás, como se estivesse manietado, preso em corda imaginárias.

    O exercício feito em Juízo tem muito a ver com os elementos vistos em seu predecessor, mas em momento nenhum ele soa redundante ou repetitivo, ao contrário, há uma clara evolução de narrativa e de estudo sobre como se julgam as pessoas no Brasil, em especial as camadas mais populares e de pouca instrução, não chegando ao ponto de vitimizar os personagens documentados, mas sim mostrando o quão crua e direta pode ser a lei com esses que não tem muitos recursos para recorrer.

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  • Critica | Justiça

    Critica | Justiça

    O documentário de Maria Augusto Ramos mostra pessoas sendo julgadas em um ambiente impessoal, com a câmera flagrando a conversa entre réu e a autoridade judiciária, onde acontece normalmente uma conversa bastante isenta de maiores sentimentos, especialmente pelos juízes, em confronto com palavras francas e simples do que se defendem. Justiça visa mostrar o quão complicado e distante é a relação do Estado com a massa carcerária, e consequentemente, com o pobre sendo julgado.

    A estética que Maria Augusta utiliza é fundamentada demais no naturalismo. Quando não está em sessões jurídicas ou em aulas direito — onde os personagens estão obviamente microfonados — a maior parte dos outros momentos tem apenas o som direto como base. O barulho das engrenagens das cadeias e o burburinho dos detentos transbordam verdade e veracidade, mostrando uma realidade elitista e hipócrita.

    Há perfis variados entre os juízes flagrados pela câmera de Ramos, mas um especial chama muita atenção pela empáfia ao conversar com o réu e demonstrar seu enorme desprezo por esses, algumas vezes agindo inclusive com grosseria, talvez evocando a sua opinião já formada de que estaria ali lidando com criminosos incorrigíveis.

    A visão que o documental de Maria Augusta Ramos tem sobre o judiciário em geral é bem clara, enxergando os que julgam os mais simples como entidades conservadoras, reacionárias e que se julgam acima das camadas sociais em que habitam esses infratores ou supostos infratores. Das denúncias que faz, a mais forte certamente é a desumanização com que são tratados os julgados, e nisso, Justiça acerta em cheio, pois mostra o quão frios são os tratamentos aos mais humildes.

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  • Crítica | Corpo Delito

    Crítica | Corpo Delito

    Corpo Delito é um filme que acompanha Ivan Silva, ex-presidiário, que tenta levar sua vida comum apesar de sua tornozeleira eletrônica. A estética escolhida por Pedro Rocha é de extremo naturalismo, com a câmera acompanhando o documentado ao longo dos 73 minutos de sua exibição.

    Os dias de Ivan são sempre os mesmos, como se estivesse em uma prisão, dando um significado extra para o termo prisão domiciliar. A maior das tentações e desejos de Ivan é conseguir se locomover sem a máquina que indica seu paradeiro, para basicamente ter uma vida comum e normal, andando pela Favela dos Índios e arredores de outras comunidades da capital cearense, Fortaleza. Durante sua exibição, acompanhamos a ida do rapaz a um evento social. Enquanto ele se diverte, ocorre uma revista que o relembra dos motivos em andar sempre receoso desde sua condenação pela justiça.

    Mesmo que não seja de forma oficial, Corpo Delito pára quando ocorre um fato importante na trajetória de Ivan, evento que cerceia sua esperança de viver e o recoloca em uma situação que o este jurou não viver mais. Essa virada seria mais valorizada caso tivesse um pouco mais de ação dentro do filme de Rocha, já que o diretor pareceu muito preso ao formato que escolheu primariamente para sua obra. Ao menos, se demonstra uma face do Brasil que é sumariamente ignorada pela elite do país.

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  • Crítica | A Gente

    Crítica | A Gente

    Em 2013,o cineasta bahiano Aly Muritiba apresentou em alguns festivais o documentário A Gente, que investiga a rotina de um presídio paranaense. O diretor trabalhou na unidade durante sete anos, e depois de inaugurar seu cinema, ele decide voltar ao seu antigo trabalho para mostrar o mundo como é o dia a dia da equipe Alfa, que lida diretamente com os encarcerados.

    A aura naturalista do longa é fortificada pelo uso curioso do som, gravado com microfones, mas permitindo a captação de sons típicos do ambiente das prisões. Ao contrário do que se pensa comumente, o ambiente documentado não é sujo ou hostil, ao contrário, a rotina e ambientação da cadeia no Paraná é limpa e o caráter dos funcionários é bastante humanizado, principalmente por conta ao enfoque em um personagem que tem em sua intimidade, uma fé inabalável.

    Muritiba tenta aproximar seu espectador de um homem de fé, a fim de universalizar seu discurso, e em alguns pontos o credo se torna um atalho dramático. Apesar do detalhamento do cotidiano, o fato do protagonista se agarrar a fé limita um pouco a discussão em torno do que é de fato o comum na vida dos presos e dos funcionários que lidam com esses.

    A visão de um homem preso essencialmente aos seus princípios funciona como uma faca de dois gumes, que ao mesmo tempo anestesia um pouco o espectador diante das situações limites que são vividas todos os dias, como também demonstram que para quem lida com essas tarefas diariamente, é preciso um distanciamento ou uma forma de distração para o que lá se vive. Apesar de limitante, o caráter dúbio não é de todo mal por denunciar o quão penosa e humana pode ser a vida desses agentes retratados no documentário.

    Ainda assim, o acuro visual e a fotografia empregada no filme de Muritiba ajudam a diferenciar ele de outros tantos documentários genéricos. O valor diferenciado de A Gente certamente é a fuga do maniqueísmo com que normalmente se tratam as prisões brasileiras.

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