Resenha | Wolverine Noir
Chegou às bancas mais um lançamento do selo Marvel Noir. Depois de Homem-Aranha, X-Men e Homem de Ferro, a editora Panini traz agora ao Brasil a reinterpretação sombria do mutante mais famoso e casca-grossa dos quadrinhos. Wolverine Noir tem roteiros de Stuart Moore e desenhos de C.P. Smith e, ainda que tenha seus problemas, traz uma aventura que parece ter se encaixado melhor do que seus antecessores na proposta da linha.
Enquanto os autores das citadas histórias concentraram-se em transpor os elementos de cada herói para a estética noir (entre acertos e equívocos), aqui temos uma trama verdadeiramente desse gênero, na qual a presença de Wolverine e de seus coadjuvantes parece mera coincidência. Para isso, o roteiro parte dos clichês mais monumentais do estilo: Jim Logan é um detetive particular, sentado na escuridão de seu escritório tendo pensamentos melancólicos sobre esta droga de mundo e querendo matar seu parceiro, o grandalhão simplório chamado Cão. Quase dá pra ouvir sua narração com uma trilha de jazz ao fundo e sentir o cheiro da fumaça. Eis então que surge a femme fatale Mariko Yashida, que vai arrastar Logan para um caso em que as coisas definitivamente não são o que parecem.
A partir daí, a história se divide entre duas linhas temporais. Enquanto o presente incorpora diversos elementos das passagens de Wolverine no Japão, temos flashbacks de alguns anos antes que são uma adaptação fiel e bastante interessante da minissérie Origem. James é mostrado como um tímido filho de um pastor cujo tema preferido para sermões é o conflito do homem com seus instintos bestiais. Quem conhece um mínimo de Wolverine já imagina o quanto isso afeta o caráter do jovem James, consumido por uma sede de violência que não compreende, além de desejos pouco puros pela bela ruiva Rose. Ele aprende a controlar seus impulsos com as lições do jardineiro Smitty, que o instrui na técnica e filosofia dos samurais. Mas a presença de Cão desencadeia uma tragédia.
A opção por contar duas histórias em uma tem um resultado ambíguo. O passado acaba engolindo o presente, torna-se mais interessante. Embora isso possibilite um bom desenvolvimento do personagem Logan e do conflito interno que o move (ou o impede de se mover na vida), a trama no presente se torna rápida e apressada demais no espaço que lhe é dedicado. Não há uma investigação aprofundada, um grande trabalho detetivesco. As coisas simplesmente acontecem e pronto, com direito inclusive a sub-aproveitamento do vilão Creed (pra quem não sabe, o Dentes de Sabre, arqui-inimigo do herói) e do inusitado plot de ninjas agindo na New York dos anos 1930.
Pode-se dizer que temos um conto noir no lugar de um romance, algo não necessariamente ruim, mas que poderia ter rendido mais. Vale ressaltar, porém, que a fidelidade à proposta é mantida com louvor: o tom é pessimista e profundamente amargo do início ao fim. Sobre a arte, houve uma certa inconstância. Alguns momentos são brilhantes dentro dos já citados clichês, ao trabalhar muito bem luz e sombra (ou sombra e sombra), focando apenas nas silhuetas. Mas em outros o artista apresenta um traço “sujo” burocrático, chegado a ser feio e com anatomias questionáveis. Reflexo talvez da variação do próprio roteiro. No saldo final, Wolverine Noir não é uma obra magnífica, mas tem qualidades que a fazem merecer ser lida.
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Texto de autoria de Jackson Good.