Review | O Exterminador do Futuro: As Crônicas de Sarah Connor
Começando a partir do ponto onde termina O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, sabiamente ignorando a parte três da franquia, o seriado derivado das aventuras narradas por James Cameron, O Exterminador do Futuro: As Crônicas de Sarah Connor acompanha a personagem título, vivida por Lena Headey, que ainda gozava do prestígio de ter feito um papel importante em 300 de Zack Snyder, e que, de certa forma, reprisava o arquétipo de mulher durona, no proceder de proteger o futuro salvador da Terra.
As primeiras cenas já inserem Sarah em posições constrangedoras, com ela sendo detida usando uma saia de tamanho mínimo, resgatando o rapaz em puberdade, John (Thomas Dekker), que é obrigado junto a ela a exercer uma vida nômade, sem qualquer garantia de continuidade de uma vida normal. John troca de nome a todo momento, e tenta se apegar a rotina comum, frequentando escolas, tentando interagir com garotas, até encontrar Cameron Phillips (Summer Glau), uma moça interessante, que estranhamente lhe dá condições de flerte amoroso.
As incongruências são vistas já no primeiro episódio. Mesmo levando e contra a suspensão de descrença em relação ao estranho fato de John estudar normalmente, fica difícil considerar interessante que a alcunha fake que ele use tenha por sobrenome Reese, tampouco é interessante que a dupla de familiares não mude sequer o tom dos cabelos, ou arranje qualquer outro meio de disfarçar a própria aparência. Nem mesmo a questão de se inserir um Exterminador mulher em fase adolescente, bem na época em que os hormônios do rapaz começam a eclodir é tão irritante quanto o fato de choverem androides assassinos a cada mísero episódio.
A posição de Cameron é, supostamente a de um modelo mais avançado que os personagens de Arnold Schwarzenegger, chamado de TOK715. Sua busca é a de proteger John, passando-se então por sua irmã. A partir desta estranha união, surge a ideia de investigar as ocorrências de robôs assassinos atrás do núcleo familiar. A partir dela que ocorre a esdrúxula ideia de resgatar uma máquina do tempo, que os levaria ao momento e, que a Skynet seria criada, onde começaria mais uma frustrada tentativa de mudar os fatos através de viagens temporais, pulando então de 1999 para o ano de 2007.
A trama paralela, envolve o agente do FBI James Ellisson (Richard T. Jones), que está a caça de Sarah pelo assassinato de Miles Dyson, e que se vale das informações de Charley Dixon (Dean Winters), antigo noivo de Connor, um homem que não aceitou bem a rejeição que lhe foi imposta.
O decorrer da primeira temporada desvela uma quantidade enorme de coincidências e conveniências, como a reaproximação oito anos depois dos Connors com os Dixons – que não acha nem um pouco incongruente toda a história de viagem no tempo – além de acréscimo do personagem Derek Reese (Brian Austin Green). No final da última temporada há uma leve subida na qualidade do folhetim, com um emocionante encontro em que Derek leva seu sobrinho para conhecer a contraparte de seu pai, Kyle Resse, ainda um infante, brincando com o paralelo do próprio Derek quando criança, além de uma cena interessante, filmada abaixo de uma piscina enquanto um dos vilões exterminadores aniquila todo uma patrulha do FBI, exibindo a crueldade típica dos vilões dos filmes de James Cameron.
O segundo ano começa cheio de reviravoltas, com uma tola troca de lado por parte da androide sensual Cameron, logo restaurada a sua programação boazinha. John começa a quebrar paradigmas, se permitindo interessar por meninas, apesar dos reclames de sua mãe, aludindo a uma adolescência normal que jamais poderia ser alcançada.
A derradeira temporada tinha tudo para explorar de maneira mais demorada muitos dos conceitos lançados no ano inicial, e a intenção é até interessante, mas se perde em meio a tramas paralelas bobas, como a de Catherine Weaver (Shirley Manson), uma T-1001 que age infiltrada como SEO de uma empresa, a busca de impedir a criação da Skynet. A ideia poderia ser boa, a de um modelo mais avançado do vilão do segundo filme ao lado dos “mocinhos”, mas o que sobra são momentos de absoluto constrangimento visual.
Em paralelo com toda a esquisita história, começa um treinamento liderado por Reese, para pretensos resistentes, onde ataques a noite são impetrados ao exterminadores que aparecem. As roupas camufladas e a noite fazer ficar ainda mais ridícula a pecha utilizada no primeiro filme, de que os humanos se sentiam mais seguros ao lutar a noite, já que para uma máquina daquele porte, isso pouco importaria, graças a visão de infravermelho.
O restante do folhetim serve para inserir as personagens em situações toscas de disfarce, com Sarah e Cameron fingindo interesse nas rodas de pessoas ricas, ou investigando a participação de exterminadores genéricos pelo passado. Mas nada é tão imbecil quanto a sede por sangue de Catherine, que propaga uma chacina na empresa aonde trabalhava – e se disfarçava – após sofre um jato de urina de um funcionário, uma vez que ela usa suas capacidades transmórficas para assumir a forma de um mictório.
Após muitas viradas de roteiro, despedidas de personagens fixos, que até emocionavam mais que pouco acrescentavam a trama, o seriado tenta em seus últimos momentos fazer algum sentido, mas se perde em meio aos muitos plots mal explorados e engendrados, especialmente no que toca os disfarces de Sarah, que em muitos momentos parece mais preocupada em parecer descolada, do que treinar seu filho para se tornar a lenda que seria prevista por seu pai, O Exterminador do Futuro de 1984. Apesar de Thomas Dekker não comprometer, falta a ele uma história que apoiasse sua atuação, sua sorte não foi nem de longe a mesma de Edward Furlong em Exterminador 2, ao contrário, as tramas paralelas também tiraram sua importância, inclusive na mirabolante trama do “programado” John Henry, que põe Garret Dillahunt em uma nova função, variando entre a máquina vilanesca até uma inteligência artificial bem intencionada, treinada pelo agente da lei Ellison. Apesar da bela intenção, o plot soa bastante imbecil.
O Exterminador do Futuro As Crônicas de Sarah Connor termina sem um vilão interessante. Mesmo as poucas figuras maléficas da trama vão se voltando para o lado da humanidade, como se houvesse uma previsão da derrota, justificando uma desistência coletiva que acaba ocorrendo. O grupo que seria o embrião da resistência ao invés de se esgueirar se preparar para o futuro, serve na prática como uma tola tropa de resgate, desafiando qualquer conceito básico de estratégia e tática furtiva.
No episódio derradeiro, John está só, Sarah está presa e Cameron finalmente entrega sua nudez ao adolescente que não consegue se livrar de sua virgindade, para executar um movimento semelhante a interação sexual, mas só serve de paralelo, não de realidade. O desfecho, ocasionado sem prévia pelo cancelamento reúne Sarah, John, Ellison e Weaver em torno do mesmo objetivo, com cenas que relembram a parte três da saga, ainda que os efeitos especiais sejam ainda piores, condizentes com a união estúpida de antigos antagonistas. Apesar da boa intenção, e das ligações ditas somente nos dez minutos finais da série, mais uma vez se apela para a viagem temporal, dessa vez para o futuro, com John se encontrando com Derek, Kyle Reese e com a versão carnal de Cameron, em um momento que deveria ser emotivo, mas que beira a pieguice, finalmente reunindo romanticamente o casal que jamais teve um enlace de fato.