Review | Resident Evil 2 (2019)
Estamos vivendo uma onda de remakes e retomadas de franquias clássicas. Dentre os anúncios mais bombásticos dos últimos anos, Resident Evil 2 talvez tenha sido um dos mais relevantes, afinal o famoso survival horror da Capcom é um dos mais queridos dos fãs da franquia. Lançado para Xbox One, Playstation 4 e PC, aqui temos um legítimo remake, que pegou a assência do original e deu uma roupagem nova, tanto visual quanto de jogabilidade.
Interessante notar que a franquia Resident Evil, em seus primeiros três jogos, popularizaram o gênero survival horror, que havia recebido sua estrutura pelo também clássico Alone in the Dark. O discípulo superou o mestre, e muito, pois Alone in the Dark envelheceu bem pior que a franquia da Capcom. A partir de Resident Evil 4, a jogabilidade mudou completamente, com a famosa “câmera sobre os ombros”, e novamente, não foi o pioneiro, mas tornou-se uma das principais referências.
O estilo seguiu em Resident Evil 5 e 6, mas teve uma quebra no 7, que optou pela visão em primeira pessoa. Ao anunciarem o remake do 2, surgiram algumas dúvidas: qual estilo de jogabilidade a Capcom fará? Opções não faltam. De uma forma acertada, optaram pelo estilo do 4, que é mais “moderna” e certamente mantém um pouco mais da essência do original do que fazer em primeira pessoa. E convenhamos, aquele estilo de câmera fixa dos primeiros jogos trazem algumas limitações.
Não espere uma reprodução fiel dos cenários e puzzles. Temos o caminhão no início? Sim. A delegacia? Sim. Peças de xadrez? Sim! Só que a maioria das coisas mudaram. O jogo é diferente, até mesmo na história. Portanto, se você terminava o original de olhos fechados, saiba que isso não lhe ajudará aqui.
É óbvio que haveria um apelo à nostalgia. Ao chegar na delegacia, por exemplo, ela é muito parecida com a versão do Playstation, dando um ar de familiaridade, apesar de diferente. E ver estes cenários familiares com os gráficos da nova geração é muito gratificante. Aliás, este novo motor gráfico da Capcom é muito bom, proporcionando bons gráficos e performance satisfatória (versão de PC está bem otimizada).
Os inimigos também estão muito legais. Destaque para os Lickers, aquelas malditas criaturas que andam feito aranha e têm o cérebro exposto. Os detalhes desses monstros são dignos de nota, exaltando o grotesco peculiar da franquia. Estes seres são cegos, o que traz uma dinâmica interessante ao encontrá-los: mova-se sem fazer barulho, e talvez eles não percebam sua presença.
Neste ponto, o jogo é muito bom. O clima de tensão de Resident Evil 7 foi trazido para este remake, tornando o jogo bem diferente do original. Porém, a falta de agilidade dos protagonistas atrapalham em alguns momentos. Um ataque físico mais eficiente faz falta, como os chutes em Resident Evil 4, pois o jogo acaba de obrigando a matar zumbis em momentos que seria bem melhor apenas fugir. Torna-se irritante quando tentamos passar ao lado do zumbi com a intenção de fugir e ele dá um bote que te pega a longas distâncias. Além do que, alguns zumbis comuns demoram pra morrer, mesmo atirando na cabeça. Haja munição. As limitações de movimentação e escassez de munições são elementos básicos de um survival horror. OK, ponto pacífico. Isso não impede, porém, de haver mecanismos que possibilitem a fuga.
É necessário passar pelos mesmos locais diversas vezes, e neste meio tempo, novos zumbis aparecem. Eles adentram a delegacia pelas janelas, sendo necessário lacrá-las com ripas de madeira. Outros locais não têm esse problema, mas ficamos um bom tempo na delegacia, então se prepare.
Um dos elementos de maior tensão é quanto um velho conhecido inimigo lhe persegue em diversas situações. Por vezes os momentos são os piores possíveis, atrapalhando a resolução de algum puzzle e, somando-se aos inimigos comuns espalhados, sua jogatina se tornará um inferno. Agora, justiça seja feita, houve um cuidado de game design absurdo aqui. Tinha tudo pra dar algum bug ou ser bem desbalanceado, mas no final das contas, apesar de eventualmente frustrante, funciona. E meus amigos, que trabalho de som! Os passos do monstro ecoam em distâncias e profundidades diferentes, dando uma sensação assustadora de perseguição no melhor estilo dos filmes slashers. Use bons fones de ouvido nestas partes, a experiência é sensacional.
A Capcom acertou neste remake, que agarrará os fãs pela nostalgia e atrairão novos jogadores por terem modernizado a jogabilidade e implementado elementos de terror e violência mais gráfica. Existe uma boa quantidade de conteúdo que remete ao original: duas opções de protagonistas, dois caminhos diferentes, personagens extras… divirta-se!