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  • Resenha | Trinity e Seus Companheiros

    Resenha | Trinity e Seus Companheiros

    Um filme que pra sempre fica sob a alcunha de penúltimo filme do mestre Sergio Leone, cineasta favorito de gente feito Quentin Tarantino. Quando o mesmo iniciou sua carreira, na época, as produções da Itália estavam deixando de atrair público aos cinemas de lá, fenômeno já visto no Brasil. Foi preciso então algo novo, um filme que fizesse sucesso ao ponto de virar referência. Antes de iniciar suas magnum opus tempo afora, como Três Homens em Conflito, Era Uma Vez na América e esse Trinity e Seus Companheiros, Leone, juntando suas forças aqui com Damiano Damiani, mais conhecido por seus filmes policiais dos anos 60 e 70, dirigiu e concebeu outros filmes, assim como seu colega de direção, em sua prolífica carreira na cadeira de direção.

    Falando aqui mais um pouco de história, a origem dos western spaghetti (filmes que mostravam o velho-oeste de um jeito mais verdadeiro do que o jeito americano) foi meramente política, como uma subjetiva estratégica no âmbito político em 1937. Mesmo assim, tudo se solidificou, se imortalizou, se estendeu para toda a Europa e se adequou também aos padrões geográficos do velho continente: Em 1957, o deserto de Almeria, a nordeste de Madri (Espanha) serviu de cenário para O Xerife de Queixo Quebrado, um western spaghetti britânico esquecido no tempo.

    O sentido de cenário externo deu certo, e a fronteira mexicana dos Estados Unidos serviu para gravar cenas da obra que iria se tornar parâmetro para o que iria vir, pelas mãos do maior nome do gênero: Leone, e seu Por um Punhado de Dólares, junto a uma das maiores trilogias de todos os tempos, a fantástica Trilogia dos Dólares – quem não viu, que vá e veja. Muito tempo se passou, e filmes como Era Uma Vez no Oeste, e na Uma Bala para o General, de Damiani, catapultaram a valia e o poder do cinema ao longo de suas primeiras sete ou oito décadas de coexistência com obras que deixaram seu legado de forma efetiva. Aliás, em ‘Trinity’, o amor de Leone e Damiani pelo cinema, mesmo, pela arte de contar histórias exala tão forte que essa talvez seja, pelo menos que eu me lembre, uma das poucas vezes que dois diretores dirigem um mesmo filme e o resultado é absolutamente pleno, e belo.

    Trinity e Seus Companheiros, todavia, sendo um dos menos famosos filmes de Damiani e Leone por ser uma reciclagem substancial de todas as suas outras empreitadas, carrega toda a assinatura de dois dos grandes estetas de uma arte e de um gênero que dedicaram suas vidas para refinar. Na trama, três bandidos, canalhas de moral absurdamente duvidosa muito antes da primeira interação dentre eles, buscam roubar uma boa grana de uma cavalaria indiana, apostando suas vidas nessa operação de risco, mero pano pra manga pra Leone e seu amigo destilarem seus estilos tragicômicos refletidos em suas técnicas cheias de closes, sons exagerados e brilho estourando na tela que, afinal, nos cativam pelo gosto inebriante de paixão pelo poder do Cinema que cada um dos seus filmes carregam, e carregam em abundância.

    Não apenas nos cenários, mas em figurinos, maquiagem, sons e outros aspectos técnicos, Damiani e Leone conseguiram o triunfo de manter suas identidades fielmente intactas até o final, e isso sem sombra de dúvida é um feito para poucos numa indústria que obriga seus artistas a se reinventarem o tempo todo, em ordem de sobreviver as novas tendências e exigências do público, sempre em constante mudança. Leone por exemplo inovou desde o começo até o fim na sua utilização de cenários, na forma impulsiva, ultra impactante e de tirar o fôlego de contar uma boa história, e assim influenciou gente do nível de Stanley Kubrick, Ridley Scott e George Lucas, em produções muito além do gênero faroeste.

    É claro que a genialidade e o visionarismo dos dois diretores italianos não se esgotam em Trinity, longe disso, porém já há sinais de cansaço e exaustão assombrando a recepção daqueles já familiarizados nesse universo certamente constituído por comicidade, e tragédia. Aqui, personagens simples são promovidos, outros dos típicos heróis sem passado nem futuro de Leone, como exercício de dualidade, ou seja: Pessoas constantemente presas entre bem e mal na sobrevivência que precisam levar numa terra de ninguém, num Estados Unidos árido que Deus e o Diabo ou já tinham se esquecido, ou ainda não o tinham descoberto em meio aos estereótipos dos seus protagonistas, suas fugas (pra onde?) e das paisagens ao redor.

    Uma vez enxergando esses detalhes em todo esse bang bang irresistível no meio do nada, chega-se ao território da filosofia Damiânica e Leônica, por excelência: Todas essas histórias, esses conflitos são sobre o quê? Para quê? Apenas por um punhado de dólares, por uma morte a mais, sempre, ou existiria algo mais forte e profundo por trás? No seu último faroeste, Leone diz que sim, há algo mais valioso que rege essa realidade, e o momento em que retifica esse aprofundamento de significados é seguramente um dos mais belos de toda a filmografia destes velhos mestres. Quando as moedas, pela primeira vez ali, não foram o sentido da vida.

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  • Crítica | Meu Nome é Ninguém

    Crítica | Meu Nome é Ninguém

    meu nome e ninguem

    Baseado numa ideia de Sergio Leone – e esta é a única prerrogativa a ele alcunhada nos créditos – Meu Nome é Ninguém chegaria aos cinemas em 1973, sobre a régia de Tonino Valleri, de O Dia da Ira, e protagonizado pelo amigo da família e bom moço – já não tão moço – Henry Fonda e o herói cômico Terence Hill, famoso por seu cowboy Trinity, até por esse arquétipo há uma expectativa em relação à história que será contada.

    Nobody – Hill – é um sujeito maltrapilho, rápido no gatilho e que passa a seguir Jack Beauregard – Fonda – seu herói de infância, que oscila entre a figura do paladino e a do assassino a sangue frio com uma facilidade mórbida.

    Mas o tom de comédia é o que prevalece. Terence Hill é muito carismático e tem uma veia cômica muito eficiente, mas esse estilo cabe mais nos produtos de Trinity e Bambino. O filme fica cansativo e enfadonho, especialmente no meio da fita. A trilha de Ennio Morricone é boa, mas ajuda a forçar ainda mais o tom humorístico. É um western leve, quase não há sangue, a temática é até infantilizada, como um filme de super-herói no ambiente árido do oeste americano. O excesso de piadas empobrece o roteiro, mas não faz dele algo reprovável.

    Os indícios e pistas dados no começo aos poucos se desenrolam, formando a emboscada de Nobody como um mosaico somente para mostrar qual o intuito do bem-feitor desconhecido. A referência a Sam Peckinpah prenuncia o epílogo, e é claro, explana a larga influência dele nos realizadores italianos. A despedida de Sergio Leone do gênero é com uma temática bem diferente do habitual, a não ser pelas últimas cenas.

    Nobody quis libertar Jack de um desfecho anônimo para o seu destino, e deu fim à sua existência humana para torná-lo uma lenda. O discurso do “morto” evidencia o rompimento como uma época romântica, a do faroeste clássico, e a abertura para uma exploração menos idealizada do Oeste Selvagem, como era retratado no Western Spaghetti e sobretudo na filmografia de Leone, que por sua vez dá lugar a uma forma de crime mais organizado. O final maravilhoso tem um tom de profecia, como um axioma do que aconteceu após a queda de popularidade do gênero e consequente substituição do tema por ternos de risca de giz, o cinema acompanhou a realidade e mudou o foco de sua criminalidade, retratando-a de forma mais ostentosa, honrada e sofisticada. O roteiro nesse ponto é tocante e de uma sensibilidade única.