Crítica | Triplo X: Estado de Emergência
Sem conseguir repetir sequer o êxito do início do filme anterior, Triplo X: Estado de Emergência, substitui as homenagens a 007 para apresentar uma cópia muito mal feita da trilogia de filmes infantis Pequenos Espiões. O filme de Lee Tamahori começa com o segundo personagem mais famoso da franquia tentando fugir, mostrando August Gibbons (Samuel L. Jackson) junto a Shavers (Michael Roof) fugindo do seu atual QG, e que a agência de espionagem estava em perigo e havia sido descoberta. Um novo protocolo ocorreria e um novo agente XXX deveria ser recrutado.
Tamahori havia sido muito criticado por seu filme anterior, 007: Um Novo Dia Para Morrer, e demorou três anos para lançar um novo produto. Para tal, resolve referenciar o blaxploitation moderno da pior qualidade, lembrando demais o estilo de John Singleton em Mais Velozes e Mais Furiosos, seguindo na esteira de continuações dos filmes de Rob Cohen, conseguindo piorar o que já não era mal concebido. Neste Triplo X- Estado de Emergência o confuso texto começa introduzindo seu novo protagonista, o ex-operações especiais e presidiário Darius Stone (Ice Cube), antes mesmo de dar um parecer sobre o Xander Cage de Vin Diesel, que teria morrido na ilha de Bora Bora, em uma emboscada, fato este discutido em apenas uma frase de um personagem secundário.
Por mais que o primeiro capítulo não tenha uma dramaturgia minimamente aceitável, a sucessão de acontecimentos faz sentido, com as capacidades de Cage sendo demonstradas antes mesmo dele começar a agir como agente secreto, artificio que não se repete com Stone, que já inicia seus feitos como um super-homem negro, semelhante ao Shaft do próprio L. Jackson. A marca deixada na obra de 2002 é sumariamente ignorada, pondo no lugar uma identidade deteriorada, incapaz de rivalizar até com seus pares de época, como Aeon Flux, Doom e Sr. e Sra. Smith.
Em meio a tentativa de resgatar Gibbons, que foi raptado por infiltrados no meio da inteligência governamental americana, que planejam assassinar o presidente do país, o personagem-título se alia com personagens negros de seu passado, fazendo uma força tarefa repleta de melanina para tentar frustar os planos do grupo capitaneado pelo secretário general George Deckert (Willem Dafoe). Em nenhum momento a gravidade de um golpe de Estado é realmente aludida, pelo contrário, dá-se espaço demasiado para bobagens e cenas de ação mal orquestradas, que sequer levam trama e personagens a algum lugar.
No começo do filme, as cenas que exigem efeitos especiais são sofríveis. Nos vinte minutos finais, há uma perseguição de carro que apela ainda mais para artificialidade, com características que a fazem se assemelhar ao visto em jogos de videogame da geração 32 bits, ou seja, bastante inferiores ao que era comum no ano de 2005.
Triplo X: Estado de Emergência consegue ser ainda mais digno de pena que o seu antecessor, com um personagem principal que não convence como herói de ação, nem como conquistador e que não possui carisma algum, tanto o intérprete quanto o pretenso herói, recheando um roteiro vazio com referências a velhos clichês do cinema de protagonismo de negros, mas sem qualquer conteúdo de discussão ou de identidade racial que se esperava por parte de um personagem interpretado pelo antigo vocalista do NWA.