Lançada em setembro de 1993, Arquivo X foi testemunha ocular de uma década em que muitas séries televisivas foram consumidas pelo tempo enquanto poucas se tornaram fundamentais para uma nova era na década seguinte.
Até mesmo os fãs mais agressivos da série são capazes de admitir a queda da qualidade nas últimas temporadas e o desfecho mediano. Porém, é inegável a competência do início do seriado que, em pleno horário nobre, apresentou uma estrutura ousada cuja temática envolvia uma trama central de conspiração entre governo americano e extraterrestres. Além de explorar tudo o que parecia inexplicável, apoiava-se no estranho e no bizarro através de roteiros bem conduzidos.
Criado por Chris Carter – que nunca repetiu o mesmo sucesso – os arquivos do título são uma divisão do FBI alimentada pela crença de um único agente federal, Fox Mulder que, na infância, presenciou a abdução de sua irmã mais nova. Fato que modificou sua maneira de agir, transformando-o em um homem obsessivo em descobrir a verdade por trás de fenômenos inexplicáveis.
Arquivo X surgiu em época analógica e, mesmo assim, produziu uma gama de fãs que consumiam revistas especializadas, escreviam suas próprias histórias dos agentes federais e participavam de fóruns virtuais sobre a série. No Brasil, a revista Sci-Fi News foi uma de suas maiores fontes, ainda que o país sempre tenha assistido à série com atraso em relação aos Estados Unidos, com episódios dublados na Fox ou na Record. De qualquer maneira, não havia quem ficasse impassível diante dos casos semanais.
A trama tem início quando a agente Dana Scully é convocada para acompanhar Mulder nas investigações do Arquivo X. Uma tentativa dos superiores de reprimir os impulsos do agente, tentando introduzir uma agente federal que possuísse fundamentos científicos e que fosse além das teorias pouco ortodoxas do parceiro. A discrepância entre a dupla produziu um dos grandes casais icônicos da televisão, com uma impressionante química entre uma personagem irreparavelmente crente no impossível e outra cuja base é a ciência.
A primeira temporada introduz os elementos que consagraram a série. Os 24 episódios desta temporada equilibram-se na trama mitológica – que transforma o governo americano em uma máquina de produzir mentiras – e em investigações que, supostamente, não possuem solução. Episódios conduzidos com boas doses de mistério e investigação policial.
Vinte anos após seu lançamento, alguns argumentos, demasiadamente apoiados em temas da década de 90, perderam a força e sentido aparente. Tais situações não caem no completo ridículo devido à química do casal e aos bons diálogos. Por outro lado, tramas ainda funcionais no presente e roteiros bem fundamentados resultam em episódios primorosos que ainda hoje mantêm um frescor assustador.
A série se tornou tão grandiosa que, ainda hoje, mantém-se no ar com reprises em diversos canais pelo mundo. Tal é a sua importância que, das mãos de J. J. Abrams, originou-se Fringe, uma herdeira que bebe da fonte destas investigações e, a partir da segunda temporada, escancara suas homenagens ao original.
No país, a Fox foi responsável pelo lançamento das nove temporadas da série. Na época, a chegada de uma temporada completa era novidade para o mercado brasileiro. Infelizmente, algumas legendas eram recheadas de erros – concordância, digitação –, além de traduções que se modificavam no decorrer dos episódios e omissões nos textos que não situavam o local em que ocorriam as ações. Problema que impossibilita a compreensão total do público que não é fluente em inglês.
Apesar de tais erros, a primeira versão do box, que ilustra este texto, se tornou um belo lançamento de uma época em que não havia contenção de gastos, o que facilitava que boas edições especiais surgissem no país. O digipack com luva metálica cobrindo a embalagem não se compara com a edição atual, econômica, sem o disco de extras. Um incômodo para aqueles que, além do material, prezam também pelo conteúdo gráfico.
Boatos dizem que a série está nos futuros planos do estúdio para um lançamento em alta definição. Um merecido box para uma série cultuada.