Se situarmos somente as obras de Frank Miller sobre Batman, é notável o contato íntimo que o escritor tem com a personagem, sabendo estudar suas nuances com clareza e desenvolver histórias formidáveis. Desde seu primeiro roteiro do Homem-Morcego até os últimos lançamentos – considerando as obras de maior destaque lançadas, normalmente, como edições especiais ou minisséries – é possível traçar uma balança invisível que equilibra Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um de um lado e Cavaleiro das Trevas 2 e Grandes Astros Batman do outro. Uma representação que demonstra que o autor teve altos e baixos utilizando a personagem, ainda que em maior ou menor grau seu Bruce Wayne sempre tenha sido o mesmo.
Após uma sequência considerada péssima, em que a metáfora de Miller foi além da narrativa que desejava contar, a recepção do anúncio de um novo Cavaleiro das Trevas foi misto. Notícias diziam que a saúde do autor seria preponderante para esta nova narrativa; outros acreditavam que a história traria o autor a velha forma. Considerando que Cavaleiro das Trevas explorava criticamente a mídia, é interessante observar que Cavaleiro das Trevas III se apoiou na divulgação e em uma maciça publicidade com diversas capas variadas para promover seu sucesso antecipado.
Lançado em 25 de Novembro nos Estados Unidos em edição física e plataformas Digitais, The Dark Knight III: The Master Race #1 é a primeira edição de oito apresentando uma nova aventura de uma visão futurista sobre um dos personagens fundamentais da DC Comics. Dessa vez, Miller assina o roteiro em parceira com Brian Azzarello, deixando os traços com Andy Kubert e as cores por Klaus Janson, um time de primeira linha – sem mencionar os diversos autores que desenharam artes alternativas para a capa – que demonstra o quanto a obra tenciona ser fundamental e comercial simultaneamente.
Como lidamos com uma história seriada ainda em publicação, o primeiro número de The Master Race retoma a atmosfera das duas narrativas anteriores, estabelecendo sua trama. O roteirista mantém o diálogo com nosso presente e mantém sua proposta ao mostrar a mídia como um importante instrumento de comunicação. Dessa vez, inicia sua narrativa por intermédio de uma conversa de mensagem instantânea, contextualizando a atual era de informação cujo diálogo e propagação de imagens acontece por intermédio da tecnologia. Nesta conversa entre dois amigos, há um registro fotográfico que flagra o retorno do Homem-Morcego. O início aponta a modificação contemporânea do poder midiático que perdeu a supremacia de monopólios para focar qualquer um que possa registrar um acontecimento e publicá-lo na rede. Diante deste cenário de retorno do lendário herói, três personagens se destacam nesta primeira edição: A Mulher-Maravilha, a ex-Robin Carrie Kelley e a Comissária Ellen Yindel.
Se Miller foi fundamental na modificação dos quadrinhos em anos passados devido a sua abordagem, a evolução narrativa dos quadrinhos e as influências de outros autores agora refletem-se em sua narrativa. Quando o Morcego retorna a Gotham e – em uma cena comum a muitos roteiristas do Morcego – foge da polícia, tanto os traços estilizados, bem emulados por Kubert, quanto o retorno mítico da personagem, trazem à tona outras versões da personagem, como a leitura de Paul Pope em Batman – Ano 100, obra que também observava um futuro para Batman. Uma confluência de referências naturais que serão lidas direta ou indiretamente por cada leitor.
Esta primeira edição é composta de duas histórias. Além da primeira parte de Cavaleiro das Trevas III, uma trama escrita e desenhada por Miller com Elektro como personagem e narrador principal. Uma história que se entrecruza em seu final com a obra principal. Como enredo, a personagem analisa o fato de não ser um grande herói em comparação ao panteão da Trindade, em falas que parecem resvalar no próprio autor comentando sobre sua obra e erros e acertos de sua trajetória, ainda mais voltados à história de Cavaleiro das Trevas. A arte continua em boa forma, com os desvios de proporção e estética que popularizaram os traços do autor, causando estrahamento e, ao mesmo tempo, admiração.
Mesmo que seja cedo para dar aval a sua nova obra, o início de The Dark Knight III – The Master Race desenvolve um bom argumento que anuncia uma história sólida com prováveis grandes conflitos. Se uma primeira parte de uma história é focada em captar o leitor e impressioná-lo, Miller, Azarello, Kubert e Janson cumpriram sua missão.
A segunda parte da série será lançada em 23 de dezembro. Até o momento da composição desta crítica, os dados de vendas de novembro ainda não tinha sido divulgados, mas é evidente que o retorno de Miller a uma história clássica deve ter atingido o número um em vendas.
Mas então… é uma bosta ou não é a revista?
Começa muito bem. Mas muitas edições 1 de séries ou começo de roteirista também começam, por isso fico bolado de dizer que vai ser foda e depois tudo ir por agua abaixo. Então, ainda espero ser convencido de que vai ser mesmo uma boa história. Vamos ver o número 2 se vai manter a qualidade.