Na última quinta-feira (28/02), estreou nos cinemas o documentário Tá Rindo de Quê?, que se propõe a discutir o humor nos tempos da Ditadura. Para saber um pouco mais sobre o filme, conversamos com um dos diretores, Álvaro Campos. O documentário passou em alguns festivais, e agora correrá o circuito comercial. A conversa exclusiva você lê abaixo:
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Vortex Cultural: Desde quando surgiu a ideia do filme e como foi conduzir um longa-metragem a seis mãos (o documentário foi realizado em parceria por Campos, Claudio Manoel e Alê Braga)?
Álvaro Campos: O filme surgiu de vontade de documentar a evolução do humor nacional na história. Há muito pouco produzido nesse sentido, e a reação excepcional do público jovem ao filme nos mostra que era um trabalho necessário. E sobre a condução, somos os três muito diferentes, em todos os sentidos. Negociar constantemente pra atender ao filme nos ajudou a contar e respeitar um registro plural da época, em que vozes dissonantes de personagens muito diferentes podiam co-existir, revelando de forma potente o espírito da época e suas múltiplas dimensões.
Vortex Cultural: Duas falas me surpreenderam: Carlos Alberto de Nóbrega, no sentido de ter um asco enorme da repressão e tortura sobretudo pela época em que o documentário se debruça; e Roberto Guilherme (Sargento Pincel, do programa Os Trapalhões), que achava que na época da ditadura militar havia respeito. Curiosamente, esse último é um dos poucos que não condena o período. Foi difícil selecionar as falas dos entrevistados, deixar material de fora e encontrar o contraponto à visão negativa dos militares?
Álvaro Campos: A gente partiu de uma lista de setenta entrevistados que pra gente formava o pilar da classe na época. E a partir das vozes deles – e não das nossas teses ou opiniões – o roteiro do filme nasceu. É lógico que imparcialidade absoluta não existe, afinal escolhemos as imagens, mas não cabia a nós buscar essa ou aquela opinião em busca do que nós pessoalmente consideraríamos contrapontos. Nos cabia criar um atmosfera em que as personagens falassem livremente e a partir de seus encontros e contrastes, revelar as sensações desses comediantes sobre esse tempo que, obviamente, não foram poucas. Nenhum de nós tinha a pretensão de esgotar o tema no filme gerando uma ideia de completude. E nem seria possível. São vinte anos de história. E cortar sempre é difícil, principalmente quando você tem a fala dos gênios do porte que tínhamos.
Vortex Cultural: No final do filme existe um aperitivo sobre o novo documentário de vocês (Rindo à Toa). Existe alguma ligação entre os filmes? Qual a previsão de estreia para ele?
Álvaro Campos: Sim, os filmes foram gravados juntos. O Rindo à Toa chega aos cinemas entre maio e junho. O objetivo é buscar uma trilogia que documente uma certa genealogia do humor brasileiro desde os anos 60. (Tá Rindo de Quê? vai de 60 a 80, Rindo à Toa vai de 80 a 2000). Assim mostraríamos que nenhuma voz daquelas é uma expressão independente, por maior que sejam seus nomes. Que todos aqueles mitos foram influenciados e influenciaram outros comediantes. E ao montar isso mapearíamos, mesmo que à grande distância, a evolução da classe e desse gênero artístico tão poderoso e popular. E que muitas vezes é muito menos creditado do que deveria em relação à contribuição que deu (e dá) à nossa cultura nacional.
Vortex Cultural: Em atenção ao governo que subiu ao planalto, cujos principais nomes são bastante simpáticos ao período militar, e levando em conta que seu filme estuda as formas de humor brasileiro do passado, como você acreditaria que seria uma versão de Tá Rindo de Que? a respeito das comédias atuais?
Álvaro Campos: Esse é um dos possíveis motes do que pode ser o terceiro filme da trilogia. Esperemos, até porque o objeto do filme está em plena atuação.