Desta vez o É Tudo Verdade foi inteiramente exibido online, com transmissões via streaming da Mostra Competitiva e algumas retrospectivas, envolvendo o cantor Caetano Veloso e o diretor Ruy Guerra. Confira um pouco do melhor que ocorreu no festival.
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Fuga (Jonas Poher Rasmussen, 2021)
Filme de abertura do Festival, Fuga é um documentário animado bastante bonito, que conta a história de um refugiado afegão que tem que lidar com o truculento modo de pensar e governar de seu país. Rasmussen faz uma bela viagem pela cultura, credo e contradições de um país conservador, e que infelizmente encontra ecos em tantos outras cenários, fazendo isso através da ternura da visão e depoimento de uma testemunha anônima.
Coração Vagabundo (Fernando Grostein Andrade, 2008)
Esse foi um documentário famoso da década passada. O Filme acompanha Caetano durante a turnê do disco A Foreign Sound, de 2004, por São Paulo, Nova York, Tóquio e Quioto. É bem íntimo, mostra a vida de Caetano enquanto criador e trabalhador, indispensável para quem gosta do personagem.
Eu e o Líder da Seita (Atsushi Sakahara, 2020)
Trata da seita apocalíptica Aum Shinrikyo, de Tóquio, secto-religioso que cometeu o maior ato terrorista do Japão. O diretor, Sakahara estava em um dos trens e sofreu danos permanentes no sistema nervoso por conta do ataque, e diante desse trauma, decidiu falar com Araki, o atual líder do grupo, onde travam uma conversa sobre liberdade religiosa e terrorismo. O filme é parado, um bocado morno, mas toca em assuntos bastante pesados.
Glória a Rainha (Tatia Skhirtladze, 2020)
Documentário sobre um quarteto de mulheres enxadristas que fizeram história na União Soviética, Glória a Rainha é um filme diferenciado especialmente graças ao seu formato. A partir dele é fácil notar a diferença cultural do Leste Europeu com a ocidental. O filme destaca como Nona Gaprindashvili, Nana Alexandria, Maia Chiburdanidze e Nana Ioseliani inauguraram uma nova tradição de competições esportivas na Rússia e demais países da União Soviética, mesmo que atualmente hajam menos mulheres jogando xadrez de forma competitiva.
Charlie Chaplin, o Gênio da Liberdade (Yves Jeuland, 2020)
Apesar de estar fora da Mostra Competitiva, o documentário francês é de suma importância dentro da curadoria. Jeuland traça todo um perfil do gênio do cinema Charlie Chaplin, contando seus primórdios nas artes cênicas até o ingresso dele como realizador do cinema. O filme esteve em mostras do Festival de Cannes, e é uma boa parte de entrada para quem não conhece a obra do cineasta.
Máquina do Desejo (Lucas Weglinski e Joaquim Castro, 2021)
Documentário sobre a Companhia Teatro Oficina, esse é um filme bastante lúdico, que varia entre peças filmadas, comerciais, imagens de arquivo com Zé Celso e outros personagens históricos do Teatro Oficina e outros momentos marcantes do lugar. Essa imagens ajudam a contar a história do lendário palco e i filme mira ser um objeto ensaístico, mas não acerta em sua tentativa de entreter.
Mil Cortes (Ramon S. Diaz, 2020)
Impressiona assistir o cenário político das Filipinas a partir da subida ao poder do reacionário presidente Rodrigo Duderte. O presidente, cuja plataforma era famosa pela briga contra das drogas bastante intensa, fez a imprensa ser perseguida, presa, ameaçada via internet e pessoalmente. O retrato do país não é muito diferente dos desmandos e loucuras do governo atual brasileiro comandado por Jair Bolsonaro, fato que torna esse possivelmente em uma obra profética.
Dois Tempos (Pablo Francischelli, 2021)
Documentário sobre dois violonistas, o argentino Lucio Yanel, e seu pupilo brasileiro Yamandu Costa. É um filme sobre relações sentimentais de admiração e de transa artística, a trilha sonora é belíssima, embalada pelo trabalho dos dois instrumentistas, que em meio a virtuosidade de seus personagens, revela uma franca sintonia repleta de admiração mútua e sentimentos familiares. Uma verdadeira ode a música de seis cordas.
Paulo César Pinheiro- Letra e Alma (Cleisson Vidal e Andrea Prates, 2021)
Outro belo documentário sobre musicistas. Dessa vez o foco é no compositor popular Paulo Pinheiro, que narra sua própria história e jornada como interprete e compositor da cena da MPB nas décadas de 60, 70 e 80 principalmente. A trilha que Pinheiro fez em sua vida beira a poesia, e o resgate dos vídeos de arquivo é sensacional, o longa faz um bom trabalho em dar voz ao cantor que encanta com seus causos. Pinheiro é um personagem sagaz, inteligente, sarcástico, especialmente quando fala das dificuldades que tinha para trabalhar na época da Ditadura Militar.
Zimba (Joel Pizzini, 2021)
Documentário sobre Ziembinski, o ator e diretor de teatro polonês radicado no Brasil, famoso por adaptar Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues, mas também por inspirar e ensinar boa parte do corpo de atores do Brasil como um todo. Os depoimentos de atores e atrizes que trabalharam com Zimba, alguns já em memória, dão conta do quão importante e impreterível Ziembinski era para a construção do que se entende por teatro e por trabalho dramático, que se alastrou por toda a gama de arte encenada em frente as pessoas ou ao audiovisual.
Os Arrependidos (Ricardo Calil e Armando Antenore, 2021)
Baseado no livro O Terror Renegado de Alessandra Gasparotto, Os Arrependidos é de rasgar o coração, o filme mostra o estranho movimento de ex-guerrilheiros que durante a Ditadura Militar no Brasil, se entregaram para afirmar junto a imprensa que se arrependiam da luta armada. Calil e Antenore conversam abertamente com alguns desses “arrependidos”, que não tem pudor em assumir que fizeram aquilo sob tortura, que mentiram de maneira deslavada e que todas essas versões causaram marcas terríveis em moral e pensamento da vida de cada um daqueles jovens.
Edna (Eryk Rocha, 2021)
O filme de Eryk Rocha fala com uma senhora, que mora à beira da rodovia Transbrasiliana. O relato mistura elementos reais da vida de Edna com escritos de um diário que ela mantém por toda vida, que não apenas a realidade, mas também seus sonhos e anseios. Apesar da premissa curiosa, o filme resulta em algo que chama atenção por sua forma mais do que pelo conteúdo. Rocha já fez bons filmes, como Cinema Novo e Campo de Jogo que dentro das suas propostas, conseguem conversar melhor com o espectador que este Edna.
9 Dias em Raqqa (Xavier de Lauzanne, 2020)
Mostra a dura repressão politico-religiosa sobre o povo da Síria, tomando como exemplo a cidade de Raqqa, um lugar destruído e repleto de cinzas. A câmera acompanha Leila Mustapha, prefeita da cidade que tenta resgatar a glória de outros tempos sobre o lugar. Cada capítulo do filme mira um dia, e impressiona a facilidade com que tanques e veículos de guerra transitam facilmente sobre a cidade e sobre outros lugares do país que tem intimidade com os jihadistas. O final do filme é até otimista, dada a condição desse cenário, no entanto o maior legado do filme dele é mostrar uma realidade tangível e ignorada por boa parte do mundo, involuntária ou deliberadamente.