A linha Ultimate lançada no ano 2000 foi o marco que reconstruiu a origem de diversos personagens da Marvel Comics em uma linha cronológica inteiramente nova. Inserindo seus heróis em um contexto contemporâneo, origens foram modificadas sem perder a essência original.
Quarteto Fantástico foi o quinto título a ser lançado pelo estúdio, quatro anos após o início da primeira aventura de Homem-Aranha que, em seguida, foi acompanhado por X-Men, Os Supremos e uma revista intitulada Marvel Team Up com crossovers entre esses heróis. Responsáveis pelas releituras, Brian Michael Bendis e Mark Millar se reuniram para recriar a origem da primeira equipe da Marvel. O primeiro arco de Ultimate Quarteto Fantástico foi relançado pela Panini Comics em um encadernado especial que vai em sincronia com o futuro filme cuja base está nesta versão. A parceria de Bendis e Millar foi realizada à distância, em mensagens virtuais, a fim de desenvolver a narrativa. Evitando disparidades entre o estilo de cada um, Millar se responsabilizou pelo argumento e Bendis pela finalização do roteiro, com base nas ideias compostas pelo parceiro.
Desde as primeiras páginas do arco Fantástico, Reed Richards surge em cena como personagem principal, desde a origem que recorre aos seus primórdios logo após seu nascimento a breves passagens por sua adolescência, estabelecendo o deslocamento social de incompreendido e inteligente. A visão pueril de Stan Lee é deixada de lado para criar raízes mais realistas de um jovem que sofre preconceitos familiares e agressões na escola. Seu único amigo é Ben Grimm, um garoto de grande porte considerado um dos melhores jogadores do colégio. É com ele que Richards dialoga sobre suas descobertas, como de um universo paralelo. Após uma feira de ciência que faz um experimento envolvendo teletransporte, o garoto é convidado para um escola especial apoiada pelo governo para a criação de projetos científicos. Localizada no Edificio Baxter, a instituição conta com um grupo liderado pelo Prof. Storm, que dá vazão às suas pesquisas ao lado de outras mentes brilhantes como Sue Storm, filha do professor, e um esnobe Victor Van Damme, antagonista com quem Richard decide trabalhar em parceria, devido à sua genialidade.
O evento que transformou o grupo no Quarteto Fantástico é apresentado de maneira diferente e mais caótica do que na versão original. A viagem a Lua se transforma em um experimento-teste para atravessar um objeto para este outro universo chamado de Zona Negativa. A presença de Ben Grimm e Johnny Storm é ocasional, um acidente diferindo da versão inicial na qual o quarteto forma um grupo de cientistas exploradores. Dessa forma, há mais espaço para tensão e explosões emocionais, uma maneira encontrada pelos roteiristas para compor uma origem mais crível que a anterior.
As páginas desenhadas por Adam Kubert se destacam pela originalidade dos quadros. Em cada página há apenas uma coluna central com longos quadros horizontais, primando por menos quantidade de imagens em cada página e maior concentração de diálogos em cada uma delas; uma clara composição mista entre as características de ambos os roteiristas. Como um arco de apresentação, a história insere cada personagem no seu respectivo papel heroico até o surgimento de um primeiro ataque na cidade. Neste primeiro momento, porém, Reed Richards é quem tem maior destaque, conduzindo a trama desde o início de sua jornada de vida. Os outros três integrantes aparecem pontualmente nas cenas em conjunto ou como alívio cômico. A escolha proposital de um único personagem central cria certa profundidade narrativa nas motivações do futuro Senhor Fantástico. Mesmo configurados como uma recém-equipe, o grupo será melhor desenvolvido no próximo arco que apresenta o destino de Victor Vam Damme.
Mantendo a mesma ação da história original de 1961, o vilão Toupeira promove a estreia do Quarteto Fantástico como superequipe. A construção do vilão também é apoiada por realismo e base psicológica. O Dr. Arthur Molekevic trabalhava com os alunos no Edifício Baxter, mas é afastado obrigatoriamente após experimentos com seres criados em laboratório. Um personagem incompreendido que cede à maldade por causa de sua marginalização e, literalmente, entra nas entranhas da cidade para compor um reino de seres geneticamente modificados, os Molóides.
Como história de origem, Ultimate Quarteto Fantástico se mantém em um bom linear, mas não desenvolve uma primeira trama de alto impacto, como Bendis em Homem-Aranha e Millar no espetacular Os Supremos. A composição em parceria parece deter a originalidade da obra, como se ambos, ao respeitar a visão criativa do outro, evitassem maiores riscos que poderiam elevar esta história. Não à toa, o arco seguinte, assinado por Warren Ellis, ganha maior força e dimensão nas personagens.