Quando Ned Stark proferiu uma das mais célebres frases de Game Of Thrones, “preparem-se, o inverno está chegando”, ele não estava brincando. Stark se referia ao período sombrio e rigoroso que aquele mundo criado por George R. R. Martin passaria a enfrentar dentro de algum tempo. Pois bem, o inverno chegou, e se traçarmos um paralelo com a novela de Westeros, podemos dizer que o inverno também chegou, não só para os criadores e principais roteiristas da série, David Benioff e D. B. Weiss, mas também para os fãs da série e dos livros. Com a demora (justa) de Martin para entregar o sexto (e possível penúltimo) livro, pré intitulado Winds Of Winter, percebeu-se que essa quinta temporada conseguiu não só alcançar os livros das Crônicas de Gelo e Fogo, como também já apresentou momentos e passagens que, até então, eram desconhecidas para seus leitores.
Pela primeira vez, com exceção da Casa Bolton, já estabilizada como a casa que domina o Norte, a quinta temporada mostrou uma certa homogeneidade entre os núcleos, uma vez que era normal um núcleo ser mais vitorioso ou bem-sucedido em relação ao outro. Ainda que do outro lado do continente, em Meereen, onde o deserto e o clima quente prevalecem, o inverno também chegou para Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), ainda que de forma figurada. Por conta de seu governo que, por um lado libertou os escravos, mas por outro acabou trazendo fome e miséria para a população, despertou a ira de um grupo conhecido como Filhos da Hárpia e passou aos poucos a dizimar a população, os aliados e alguns imaculados que servem Daenerys. E é justamente no núcleo de Daenerys que temos um dos primeiros acontecimentos que até então não havia registro nos livros. Após fugir de King’s Landing, junto com Varys (Conleth Hill), Tyrion Lannister (Peter Dincklage) é sequestrado por Sir Jorah Mormont (Iain Glenn), que tem como objetivo entregá-lo a Daenerys como prova de que agora está ao seu lado.
Aliás, vale destacar o quanto a Casa Lannister enfraqueceu com a morte de seu patriarca, Lorde Tywin. O rei Tommen (Dean-Cherles Chapman) é muito jovem e seu tio, Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau) está numa missão em Dorne para resgatar a jovem Myrcella (Nell Tiger Free), irmã de Tommen. Desta forma, Cersei Lannister (Lena Headay) ficou sozinha na capital e consequentemente, desprotegida. E, assim como os Filhos da Hárpia, um grupo religioso extremamente conservador, liderado pelo Alto Septão, começou a fazer justiça com os pecadores da cidade, o que gerou uma das mais memoráveis cenas desta quinta temporada.
Pela primeira vez conhecemos Dorne, a terra da Casa Martell, do Príncipe Oberyn, um dos personagens mais queridos da quarta temporada. Infelizmente, o que vemos em Dorne foi mal trabalhado. Mostrou-se tudo, mas não vimos nada. Conhecemos as filhas de Oberyn, e vimos pouquíssimo suas habilidades como guerreiras, sendo o destaque, apenas, um ótimo diálogo entre Obara Sand (Keisha Castle-Hughes) e o sempre sensacional Bronn (Jerome Flynn). O mesmo podemos falar da viagem de Brienne de Tarth (Gwendoline Christie) e seu escudeiro, Podrick (Daniel Portman), que esbarraram com Sansa Stark (Sophie Turner) no caminho para, depois, acabarem com o sofrimento de Stannis Baratheon (Stephen Dillane) em Winterfell. Aliás, o orgulhoso Stannis só colecionou derrotas e desgosto em sua jornada ao trono de Westeros. O único herdeiro ao trono por direito se aliou à feiticeira Melisandre (Carice Van Houten) que só trouxe desgraça para a sua família. Talvez, as coisas tivessem sido diferentes se Stannis ouvisse Sir Davos Seaworth (Liam Cunningham), que novamente, dividiu ótimas cenas com seus colegas, principalmente com a jovem Shireen (Kerry Ingram), que foi responsável pelo que talvez seja a cena mais chocante de toda a temporada.
A vida de Arya (Maisie Williams) também foi dura. Mesmo chegando sã e salva a Braavos, e após encontrar seu “velho amigo”, Jaqen (Tom Wlaschiha), começou seu treinamento para se tornar uma Sem Face, mas o treinamento é mais difícil do que aparenta ser, o que deixa a menina completamente desmotivada. Pela primeira vez na história do seriado, o arco de Arya foi desinteressante e o mesmo seguiu com sua irmã, Sansa, que foi deixada em Winterfell pelo “mindinho”, Lorde Petyr Baelish (Aiden Gillen) para se casar com o cruel Ramsey Snow (Iwan Rheon), que agora detém o sobrenome Bolton. Aliás, o jovem ator Iwan Rheon merece ser elogiado por suas ótimas atuações que não vêm desta temporada. Ramsey já é mais odiado que o falecido Geoffrey por toda crueldade (merecida, diga-se) cometida a Theon Greyjoy (Alfie Allen), que foi transformado praticamente num cão doméstico, além de cometer outros atos cruéis e sádicos de gostos duvidosos que causaram muita ira e controvérsia aos fãs, como o estupro de Sansa, assistido por um arrependido Theon, que cresceu junto a Sansa como se irmão fosse.
Um pouco mais ao norte de Winterfell está A Muralha defendida pela Guarda da Noite, e que agora tem um novo lorde comandante, qual seja Jon Snow (Kit Harington), que liderou e saiu vitorioso na batalha contra parte dos selvagens liderados por Mance Rayder (Ciaràn Hinds). Jon, que contou com o apoio de Stannis Baratheon para aprisionar Mance, se viu numa situação difícil, tendo que recusar, inclusive, o sobrenome de Stark oferecido por Stannis caso a Guarda da Noite o ajudasse em sua investida contra os Bolton em Winterfell. Porém, presenciou um dos momentos mais sensacionais da temporada, quando liderou uma expedição à terra dos selvagens para oferecê-los ajuda e abrigo no Castelo Negro. A investida não deu muito certo e Jon e a Guarda da Noite tiveram a certeza de que o inverno tinha chegado por conta da horda de White Walkers que atacou a vila dos selvagens. Não sei se foi intencional, mas, aqui, os efeitos especiais lembraram muito (claro, com a tecnologia dos dias atuais) os do primeiro Fúria de Titãs, além de remeter e muito ao jogo Diablo. Aliás, seria muito bom se todas as casas de Westeros parassem de guerrear umas com as outras e se unissem contra os White Walkers. Realmente, o que vai acontecer daqui pra frente é uma incógnita. O que nos resta é acreditar que, de fato, esses seres são coisa séria.
De qualquer forma, ainda que essa quinta temporada tenha sido morna, o maior seriado da história do canal HBO e o mais pirateado do mundo continua com sua qualidade inegável. Infelizmente, os arcos não emplacaram, muito menos empolgaram, exceto por uma vez ou outra. Porém, não se sabe o que aconteceu, uma vez que o time de roteiristas continuou o mesmo. O que mudou muito em relação às outras temporadas foi o time de diretores, sendo que muitos deles dirigiram a série pela primeira vez. Não tivemos grandes nomes como Alan Taylor (que dificilmente retornará, por ter feito filmes como Thor: O Mundo Sombrio e O Exterminador do Futuro: Gênesis), David Nutter, Michelle McLaren e Neil Marshall. Mas, ainda assim, fica aqui a curiosidade sobre qual será o desfecho dos personagens nas próximas temporadas, uma vez que deixou claro que muitos deles já fizeram as suas últimas curvas para o final da história, que deverá ser em mais duas ou três temporadas.
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Texto de autoria de David Matheus Nunes.