(Atenção: a crítica a seguir comenta acontecimentos dos números lançados de The Dark Knight III: The Master Race. Se não quiser saber nenhuma informação a respeito, interrompa a leitura – mas retorne a ela após ter lido as edições).
O desfecho de Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior mantém a narrativa em coerência com excesso de anti-clímax. Uma característica preponderante na nova empreitada de Frank Miller, em parceria com Andy Kubert, no (outrora) brilhante universo criado em 1985.
O último número, novamente, contraria o leitor, evitando qualquer cena épica para finalizar em grande estilo uma história arrastada. O grande embate com os kryptonianos é realizado sem urgência, como a ameaça de destruição mundial vinha sendo tratada nos últimos números. Mesmo retornando da morte, Batman é poupado por Superman, evitando outra morte. Miller ressalta a importância da existência de um homem-morcego mas, novamente, exagera ao extremo. Como a última parte da trama é narrada pelo próprio Cavaleiro das Trevas, há momentos de egocentrismo exagerado, ressaltando o herói como um personagem potente e necessário, até mesmo se vangloriando de sua capacidade física, comparando a violência como uma arte.
Batman pode ter sido o herói que desencadeou a ação em diversos momentos como no início da história quando ameaçou os kryptonianos, bem como foi o responsável por resgatar o Azulão do exílio. Porém, é excessivo até mesmo para um personagem que, nos últimos anos, é um paradoxo de um humano comum dentro do universo DC, porém, quase invencível.
Os outros heróis do panteão da Liga da Justiça que, aos poucos, reassumem seus mantos, não trouxeram nenhum acréscimo à trama. Mulher-Maravilha permanece em Themyscira; Lanterna Verde retorna somente para se vingar do grupo que lhe arrancou o braço com o anel e, por consequência, o poder. A cena é tão desproporcional que soa incoerente. Hal Jordan teve momentos de fraqueza, vide Crepúsculo Esmeralda, mas não é um personagem que age dessa maneira.
Por fim, o desfecho derradeiro, o final da ação com os vilões, utiliza uma das saídas mais incômodas em qualquer estilo narrativo: o personagem que surge no momento certo para resolver o problema, um recurso conhecido como deus ex-machina. Após passar a história toda preso no mundo subatômico, Átomo retorna no momento e na hora certa para encolher os kryptonianos e encerrar a trama. Ou quase, o vilão Quar é poupado para que Lara tenha uma última cena, destruindo-o. O drama em potencial para a dúvida da personagem entre vilã e heroína foi construído a toa, com pouca evolução na história.
Enquanto a série principal foi mediana do início ao fim, a história paralela configurou bons momentos. O último número apresenta Superman e a filha dialogando sobre o mundo heroico em uma espécie de síntese do que fundamenta o herói. A história e boa e poderia ser um bom ponto de partida da saga. Porém, ainda que exista uma lógica entre as ações da trama – Superman isolado, Lara voltando-se contra o seu povo – trabalhar com um cenário desolado de heróis para que Batman tivesse um destaque ainda maior se tornou inverossímil. Que tipo de heróis seriam esses que não reagiriam a um ataque de grande porte como o desenvolvido pela série?, o leitor pode se perguntar.
A última página de ambas as histórias são emparelhadas, ambas mostrando mestre e pupilo como se dessem continuidade a cada herói em uma nova geração. A cena, por si só, é um clichê, ainda que uma daquelas cenas que sempre despertam certa emoção no leitor. Mas demonstra um esgarçamento tão grande na criatividade narrativa que: o de Batman bisa a famosa capa original do Cavaleiro das Trevas, a sombra do morcego diante de um raio, imagem reverenciada e homenageada em excesso em diversas e diversas recriações; e a de Superman finaliza com Lara colocando um óculos no rosto, simbolizando sua vontade de compreender as motivações do pai e assumindo o mesmo tipo de disfarce que Clark Kent usou em sua vida. Interessante, mas implausível. Bobo, na verdade. Prova apenas que a personagem não compreendeu nada do que observou durante a ação da trama.
Anunciado com grande destaque, O Cavaleiro das Trevas – A Raça Superior foi divulgado como o retorno triunfal de Frank Miller em um universo consagrado. Aliado a outros grandes nomes da indústria dos quadrinhos, os leitores aguardavam uma trama que retomasse o melhor do Cavaleiro de 1985 e esquecesse os excessos da continuação. Mas não foi o que aconteceu. O resultado foi uma história alongada em demasia, exageradamente anti-climática e sem nenhum grande momento.
Miller se saiu melhor nas histórias paralelas, bem como pareceu mais enfocado na crítica submersa da trama, analisando o extremismo religioso, do que na composição substancial d e uma boa história em quadrinhos. Sem dúvida, foi um grande título em vendas. O tempo reafirmará melhor a recepção desta série mas uma breve previsão: Cavaleiro das Trevas III será esquecido em pouco tempo.
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