Levantando em conta o assunto que tem tomado boa parte das preocupações dos brasileiros, com a dificuldade de abastecimento de elementos básicos em virtude da greve dos caminhoneiros, separamos uma inusitada lista de filmes com essa temática, tanto sobre motoristas que comandam máquinas enormes, bem como filmes sobre essas máquinas mesmo. Brincadeiras à parte, a greve é justa e digna de respeito por cada um de nós!
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Agarra-me Se Puderes (Hal Needham, 1977) – Filipe Pereira
Filme indispensável para quem curte a Trucksxploitation, mostra a história de Bandit, vivido por Burt Reynolds, um sujeito turrão, engraçado e destemido. A personagem, basicamente, aceita o desafio de um sujeito que é seu desafeto e se mete em uma confusão que envolve-o até uma carga de mercadoria ilegal. O filme é só uma desculpa para colocar o carismático e canastrão Reynolds em ação. O par romântico do anti herói é Sally Field, de quem era noivo na época, e é co-estrelado por um carro esportivo, Pontiac Trans Am. O longa fez tanto sucesso, que deu origem a uma trilogia engraçadíssima, que obviamente vai perdendo forças com o passar de suas continuações.
Comboio (Sam Peckinpah, 1978) – Bernardo Mazzei
Estrelado por Kris Kristofferson, Ally MacGraw e Ernest Borgnine, e dirigido por Sam Peckinpah (do clássico Meu Ódio Será Sua Herança), Comboio narra a história de Rubber Duck (Kristofferson), um honesto caminhoneiro que resolve se rebelar contra a corrupção policial comandada pelo xerife Lyle (Borgnine), um antigo desafeto. Após ser roubado, agredido e humilhado pelo corrupto agente da lei, Duck convoca um enorme protesto da classe. Com sua namorada na boléia, Duck lidera os caminhoneiros em uma grande jornada das estradas do Arizona rumo ao México. Ainda que longe das grandes obras do diretor Peckinpah, Comboio é um corajoso filme que se propõe a discutir questões sociais que permanecem pertinentes até hoje, tais como a luta de classes, preconceito racial e de gênero. Entretanto, o grande mérito aqui são as boas cenas de ação e perseguição orquestrada pelo diretor e a boa atuação do elenco principal.
Aventureiros do Bairro Proibido (John Carpenter, 1986) – por Filipe Pereira
Clássico máximo da Sessão da Tarde, e um dos bons filmes leves de John Carpenter, Aventureiros do Bairro Proibido parte de um protagonista que emula características de brucutu, vivido por Kurt Russell. Jack Burton é um caminhoneiro de carga pesada, que tem sua namorada raptada por um motivo esdrúxulo, Para salvá-la, deve enfrentar uma turminha do barulho, em Little China, para deixar a mocinha a salvo. O filme é engraçadíssimo e mostra como a cultura pop trata as figuras que comandam os grandes veículos de transporte. Mistura elementos de faroeste com um pouco da temática dos filmes de artes marciais de Hong Kong, além de também ter personagens bastante carismáticos.
Comboio do Medo (William Friedkin, 1986) – por Bernardo Mazzei
Dirigido por William Friedkin e protagonizado por Roy Scheider, O Comboio do Medo é um filme que teve dois azares: o primeiro foi ter estreado quase que simultaneamente ao primeiro Star Wars. O segundo foi não ter sido compreendido na época de seu lançamento. Na trama, quatro homens expatriados que vivem nos confins da América do Sul são contratados por uma empresa petrolífera americana para transportar uma carga de nitroglicerina. Caso cheguem vivos ao destino, terão sua situação regularizada e receberão 10 mil dólares. Película um tanto quanto experimental, o longa possui altas cargas de suspense. O roteiro também é bem interessante, pois fornece background para todos os protagonistas, o que facilita a empatia do espectador. Ainda que episódica, a narrativa é bem fluída e prende o espectador na cadeira, principalmente quando o filme vai chegando ao seu final. Uma ótima obra do diretor de O Exorcista que merece ser assistida com bons olhos.
Falcão: O Campeão dos Campeões (Menahem Golan, 1987) – por Filipe Pereira
Sylvester Stallone gozava de uma popularidade monstruosa em meio aos anos 80. O sucesso de Rambo e Rocky permitiu que pudesse viver outros papéis icônicos, como esse do caminhoneiro com problemas familiares. Lincoln Hawk e seu filho protagonizam um Road movie, descobrindo uma afinidade meio perdida graças a ausência do pai. O filme de Menahem Golan consegue ser bem especial, no sentido de mostrar um problema grave em quem trabalha na estrada, que é o fato de nem sempre poder estar em casa, um drama é presente na vida dos homens que passam seus dias atrás do volante gigante e das máquinas que cortam as estradas do Brasil e do mundo. Tudo isso evidentemente envolto em uma historia heroica, cheia de clichês, mas que compensa tudo isso com o charme e carisma do personagem de Sly, que sempre que vira seu boné parece ganhar mais força, com mais uma demonstração de um placebo legal de Hollywood.
Comboio do Terror (Stephen King, 1986) – por Bernardo Mazzei
Escrito e dirigido pelo mestre Stephen King, Comboio do Terror é trash. Muito trash mesmo. Muito se discute sobre as adaptações das obras do autor, mas ele é responsável por aquela que talvez seja a pior adaptação de uma obra escrita por ele mesmo. Porém, isso tem uma justificativa: o próprio King admitiu que estava drogado durante todo o tempo em que a produção foi filmada. O ponto de partida do filme ocorre quando um cometa passa pelo nosso planeta fazendo com que as máquinas ganhem vida e se voltem contra os humanos. É nesse momento, que o nosso herói Emilio Estevez cria um grupo de resistência quando estes são cercados por caminhões assassinos em um restaurante de beira de estrada. O filme é uma bagunça narrativa. Não há a menor coesão no que se vê na tela e tudo é feito de uma forma tão escrachada, que os risos acabam saindo involuntariamente. Os pontos altos são a presença dos caminhões assassinos, especialmente o “Duende Verde”, e a atuação de Estevez. Entre caras, bocas e poses de herói galã, o ator aqui entrega algo muito mais engraçado do que o visto em Máquina Quase Mortífera. Parece que ele desencanou e resolveu embarcar na galhofa. Ah! A trilha sonora é inteiramente da banda AC/DC, pelo único motivo de ser a banda preferida de King.
Encurralado (Steven Spielberg, 1971) – por Filipe Pereira
Dirigido por Steven Spielberg, o personagem que se destaca no thriller é um caminhão. Por mais que a premissa pareça engraçada em um resumo, trata-se de uma obra série e muito bem produzida, apesar das condições paupérrimas. Encurralado é na verdade um telefilme, foi rodado em poucos dias e, apesar da qualidade, possui alguns momentos de humor involuntário. O Peterbilt clássico que persegue o personagem de David Mann (Dennis Weaver) é simplesmente gigantesco, parece um kraken deslizando sobre o asfalto e a motivação por trás desse terror parece ser nenhuma além de causar terror, nesse ponto, parecido com o clássico Tubarão do mesmo diretor que ensaia neste filme a mesma câmera subjetiva do filme do monstro.
Bônus Track
Carga Pesada (1ª Fase: Daniel Filho, Ferreira Gullar, Gianfrancesco Guarnieri e Walter G. Durst, 1979-1981 |2ª fase: Ecila Pedroso, Mara Carvalho, Walther Negrão e Walcyr Carrasco, 2003-2007) – por Filipe Pereira
Para não dizer que não falamos de produções brasileiras, há o seriado protagonizado por Antonio Fagundes e Stênio Garcia, que viviem Pedro e Bino, dois caminhoneiros que cruzam o Brasil e vivem aventuras que variavam entre denúncias sociais e um culto ao folclore brasileiro. A primeira versão foi criada por Daniel Filho, Ferreira Gullar, Gianfrancesco Guarnieri e Walter G. Durst, tinha duração de mais ou menos quarenta minutos por episódio e ficou no ar entre 1979 e 1981, já a versão mais recente tinha histórias de Ecila Pedroso, Mara Carvalho, Walther Negrão e Walcyr Carrasco, e foi ao ar entre 2003 e 2007. Infelizmente na segunda versão, conhecida pelos jovens como Carga Pesada Shíppuden, o programa passava num horário muito tarde, fato que dificultava sua visualização, mas ainda assim era uma série muito marcante e divertida em alguns pontos, especialmente quanto a dupla passava por apuros, ou pelas ciladas que aconteciam com os dois inseparáveis Pedro e Bino. Hoje se mantém no imaginário popular, principalmente por conta de piadas virtuais, demonstrando a força e o carinho do público pela série.
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