Um deslumbre visual em 3D! Isso é o que se pode resumir da nova empreitada do diretor Carlos Saldanha e sua produtora Blue Sky, a continuação das aventuras de Blu, a ararinha azul criada em Minnesota. Com muita música e visual fantástico, Rio 2 prende a atenção do espectador por ser divertido e nada mais. O roteiro, assinado por Saldanha e Don Rhymer, não é uma obra-prima e peca pelo excesso de clichês, mas isso não é um impedimento para a plateia mais jovem da sala — decididamente, o público-alvo que vai comprar os bonequinhos e outras peças de merchandising.
O filme começa no ano-novo do Rio de Janeiro com uma linda sequência musical, mostrando pessoas vestidas de branco na praia, fazendo oferendas a Iemanjá, tendo o Cristo Redentor ao fundo, além de muitos fogos de artifício. A música, parte em inglês, parte em português, é bastante chamativa, e as coreografias dos pássaros são belíssimas. Essa cena de abertura dá o tom do resto do filme. Para quem não gosta do gênero musical, isso incomoda bastante. Cada momento de drama, ação ou desenvolvimento de roteiro são intercalados por sequências musicais.
Blu vive em um santuário para pássaros criado por Túlio e Linda no final do primeiro filme e localizado na Floresta da Tijuca. Leva uma vida confortável com sua esposa Jade e seus filhos Tiago, Bia e Carla, adaptando o american way of life ao “jeitinho brasileiro”. Blu não quer nada além da boa vida nos trópicos e das comodidades que a tecnologia moderna pode oferecer. Mas tudo muda quando Jade descobre através do noticiário que existem evidências de que uma família de ararinhas azuis vive na Amazônia. Como acreditavam ser os últimos representantes de sua espécie, essa informação vem como um golpe na vida das aves. Jade fica extremamente animada para conhecer outros membros de sua espécie, esperando talvez encontrar algum familiar perdido. Blu, por sua vez, não quer deixar a comodidade de seu lar para se arriscar numa viagem tão longa e perigosa.
E então esse conflito se resolve de forma tão rápida que acabamos esquecendo dele. Blu concorda em viajar, mas tem que convencer seus filhos e… Opa, já conseguiu também! A viagem até a Amazônia se resolve com mais um número musical e, de repente, opa de novo! Nossos heróis encontram a família de Jade! Tudo muito rápido, muitas coincidências e, claro, com muita música! Falando em coincidência, adivinha quem avista o grupo de pássaros assim que eles chegam a Manaus? Nigel, vilão do filme anterior, que quer se vingar de Blu por não poder mais voar.
A partir desse ponto, temos mais e mais clichês saltando da tela: madeireiros explorando a floresta ilegalmente, ecologistas que querem salvar a floresta, a capanga que se apaixona pelo vilão, e Blu entrando numa fria maior ainda com a família (trocadilho intencional). O pai da garota que é um ótimo avô mas não vai com a cara do genro. O amigo de infância bem-sucedido que desperta ciúme no marido. A gangue rival. O concurso de talentos. O conflito resolvido com um tipo de esporte. Rivais percebendo que têm algo em comum. A batalha campal para derrotar os vilões. Piadinhas infames. Está tudo lá, numa salada de clichês envolvida em muito samba e maracatu. Tem até um desfecho shakespeariano para o casal de vilões!
Ao fim, parece que nos são apresentados personagens demais, tramas demais e resoluções fáceis demais para os conflitos. Mas o deslumbre visual — e por que não dizer, também, musical? — consegue prender nossa atenção sem tornar o filme enfadonho. Pode ser uma propaganda do Brasil para o ano da Copa, uma máquina caça-níquel de produtos relacionados ou uma opção para pais que querem algo leve para seus filhos pequenos assistirem. Mas Rio 2 parece conseguir se firmar como uma franquia de sucesso, e não nos surpreenderia se mais uma sequência for lançada nos próximos anos.