Lançado em 12 partes nas revistas mensais de Batman e seus aliados, Contágio foi publicado no país em quatro edições pela Editora Abril, entre março e abril de 1998, em Batman – Vigilantes de Gotham #17 e #18 e Batman #17 e #18. O arco nunca foi relançado no país, mas, como é costume nos Estados Unidos, a saga foi republicada em uma edição compilada .
A intenção de Contágio é apresentar um elemento a mais nas tradicionais aventuras do Morcego. Em uma época em que Batman sofreu um grave acidente e sobreviveu à lesão na espinha, escolher como vilão um vírus com alto potencial destrutivo apresenta um novo elemento capaz de sobrepujar o herói e, talvez, amenizar os exageros cometidos dois anos antes na saga A Queda do Morcego.
Tratando-se de um herói que conquistou a fama de indestrutível por conta da capacidade estratégica, física e de arsenal ilimitado, um vírus letal é uma dimensão nova que vai além das tradicionais brigas com vilões. Vista com distanciamento temporal, a saga parece antecipar outras duas grandes histórias interligadas entre si: Terremoto e Terra de Ninguém, excelentes arcos publicados dois anos depois desta.
A narrativa inicia-se indo direto ao ponto. Azrael, um dos aliados do morcego – e quem veste o manto na época do acidente quase fatal – informa que um vírus letal, uma variante do Ebola, chegará a Gotham City através de um homem infectado. A personagem em questão é um rico empresário que deseja construir um condomínio de luxo autossustentável. Ironicamente, o ambiente controlado acaba sendo o ponto de partida da infecção na cidade. Tentando impedir o contágio, Batman e seu esquadrão assumem frontes distintas para descobrir a origem do vírus e procurar sobreviventes de uma epidemia anterior, ocorrida no Alaska. Por ser uma narrativa que atravessa as revistas de todos os personagens do universo do Morcego, Robin é o herói que mais se destaca, tendo como missão a busca e resgate de um sobrevivente de um contágio ocorrido anteriormente. No local, o menino prodígio conta com a ajuda de Mulher-Gato, vivendo, na época, uma relação conturbada com os vigilantes de Gotham.
A urgência prometida pelo tempo escasso não aparece nos quadrinhos. Como um líder informal da cidade, Batman pouco aparece no início da trama. Sua presença é inferida pelos personagens e não está ligado diretamente com a ação. A história desenvolve-se com seu esquadrão, Robin, Mulher-Gato e Azrael, procurando por sobreviventes. Enfocando mais a busca por uma vacina do que a destruição de Gotham, a dimensão da epidemia é diminuída, e a figura do morcego fica sem uma função específica na história. Por que sua presença na cidade é tão importante quando deveria ser ele o líder à procura da cura?
Para manter o ritmo narrativo das doze partes, surgem mais ganchos do que o necessário. Um esforço para acelerar um início levemente arrastado e sem uma tensão iminente devido ao contágio. Somente quando um dos heróis é afetado pelo vírus, a urgência aumenta e a trama torna-se mais ágil, dividindo-se entra a histeria coletiva da cidade, os vigilantes tentando proteger a população e um Batman ciente de que a cidade pode sucumbir a qualquer momento e nada fazendo para ajudá-la. A trama também traz o retorno de Gordon como Comissário no comando da polícia, em uma bonita cena em que ele e o Morcego discorrem sobre o amor e ódio que sentem pela amaldiçoada Gotham.
Mesmo não sendo um arco brilhante, Batman – Contágio demonstra a possibilidade de inserir novos elementos nas tradicionais tramas de heróis sem que estas se tornem destoantes. Uma vertente utilizada em grandes sagas pela DC Comics na década seguinte.
Na minha memória, eu confundia esse arco com O Legado do Demônio.