Crítica | Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas
Talvez Peixe Grande e Suas Historias Maravilhosas tenha sido a ultima parte da Era de Ouro da filmografia de Tim Burton, não que não haja filmes bons posteriores a 2003, as animações Noiva Cadáver e Frankenweenie são realmente muito boas e inventivas, mas algo em Burton foi encerrado com esta produção, ele jamais voltaria a ser o mesmo, ao menos como regente de filmes, suas produções seriam mais comerciais e menos comprometidas com o lúdico.
Não há uma enorme introdução ao drama presente no roteiro de John August por sua vez baseado no livro de Daniel Wallace. A historia é narrada por Ed Bloom, em sua versão mais moça, nessa encarnação feito por Ewan McGregor, mas no tempo presente era interpretado por Albert Finney. Ele, já idoso, adora contar suas historias, mas sempre que o faz, é cortado por seu filho, Will Bloom (Billy Crudup), que está cansado da mania do pai em contar as historias de seu passado, em especial porque ele as ficcionaliza demais.
A estrutura dramática de Peixe Grande é bem simples, a narração ajuda a colar os momentos distintos, entre o presente com Ed já velho e seus mini contos hiper fantasiosos, servindo assim de epitáfio pelo mal que em breve deve atingi-lo, uma vez que ele está doente, ao ponto de inclusive largar a quimioterapia que fazia. A relação do velho com seu herdeiro segue apesar do desprezo do segundo, que até começa a mudar sua postura, ligeiramente, se tornando simpático ao paterno basicamente por compaixão via convalescência.
Por ser um filme dividido por contos, a historia é episódica, semelhante a Amazing Stories, uma série antiga que Steven Spielberg produziu, essa por sua vez tentava modernizar os temas de Twilight Zone e Quinta Dimensão com uma roupagem mais fantasiosa e lúdica. A abordagem circense que Burton produz aqui já reúne alguns dos elementos visuais que se desgastariam em sua filmografia, há muito em comum dessa obra com os futuros A Fantástica Fábrica de Chocolate e Alice no País das Maravilhas e até O Lar das Crianças Peculiares, em especial na questão de envernizar figuras bizarras com uma atmosfera hiper colorida e repleta de fofura, mas aqui, cabe, já que até isso é discreto. O que pesa contra a obra é que a fotografia e direção de arte em alguns pontos se confrontam, e dessa forma, a fotografia de Philippe Rousselot de Emannuel Lubezki em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, até por conta de serem espíritos bem diferente entre um filme e outro, mesmo que Rousselot fosse conhecido por seu trabalho em Entrevista com Vampiro, que foi inclusive premiado nessa categoria.
Ao mesmo tempo, o filme dá voz a quem geralmente não tem, não só a flagelados e excluídos, mas também aos que não são agressivos. O modo como Ed conquista o amor de uma garota por exemplo é inusual por completo, pois geralmente quem usa de força e ganha uma batalha é que se torna o par ideal e aqui o sujeito consegue o feito apanhando.
Apesar de alguns segmentos serem mais legais, divertidos e interessantes que outros, Peixe Grande e Suas Historias Maravilhosas tem uma tônica muito bem seguida, e serve bem de epitáfio ao personagem central. Se as historietas contadas tem ou não base na realidade, pouco importa, a fantasia estabelecida no carisma de Ed é propagada assim mesmo, e por fim, o longa é um belo epitáfio, orquestrado com ares grandiosos por seu realizador, que dali para frente, já não seria tão prolífico e criativo.