Resenha | Amar é Crime – Marcelino Freire
Segunda edição desta obra de 2011 de Marcelino Freire, Amar é Crime foi relançado pela Editora Record em edição revista e ampliada, agora com dezenove narrativas cujo tema expõe lados obscuros de relações supostamente amorosas. Seguindo a tradição característica do autor, personagens marginalizados narram suas histórias como um desabafo. Apoiado na oralidade, cada personagem parece dialogar com o leitor sobre sua situação.
O escritor transita por diversos tipos de personagens destacando sempre o lado miserável da natureza do homem. A exploração sexual, os desejos escondidos, o amor por interesse, e outros sentimentos que traçam um panorama agressivo sobre a sociedade. O amor como crime presente no título parece rir de seus personagens, poucas histórias se destacam falando sobre um amor verdadeiro. Tratam-se de relações de poder, violências desgastadas de vozes cansadas da exploração.
Freire evolui em sua proposta estética fundamentada desde o primeiro livro de contos, Balé Ralé. Dando maior vazão a poesia de sua prosa crua, que ganha maior ritmo e mantém o resgate expressivo da oralidade com palavras típicas da fala. As personagens transitam entre um contexto empobrecido rumo a um enobrecimento narrativo. Uma tensão narrativa que destaca situações mundanas de seres que são vistos pela sociedade como pequenos e desvalidos, embrutecidos pela pobreza, seja ela explícita ou de alma. Cenas que sem nenhum pudor estético escancaram situações agressivas ou desamparadas.
O choque continua afiado em suas palavras, tanto nas imagens que propõe quanto no uso do sexo como transgressão, como a primeira narrativa do livro, um poema concreto semelhante em tema e impacto com Homo Erectus de seu primeiro livro, belo conto que questiona o quanto a sexualidade alheia é vista com interesse por outros. Relatos cotidianos que o leitor parece um intruso pela riqueza narrativa, transformando-o em um observador nato de situações em que o amor nem sempre é evidente ou puro.
Composto por contos breves, em sintonia com o universo contemporâneo de tempo escasso, a obra é um conjunto de narrativas ásperas que prezam o conceito do conto como uma narrativa de impacto preciso no leitor, um golpe rápido e certeiro que causa, no término de sua leitura, um vazio para a reflexão necessária.
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