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  • Crítica | O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas

    Crítica | O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas

    Exterminador III 1

    O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas procura repetir os projetos anteriores ao iniciar-se com uma narração de um novo John Connor, vivido pelo feio ator Nick Stahl, andando pelas estradas em uma moto, ao modo de Edward Furlong. Sua desolação é notada tanto pela ausência de sua mãe quanto pela desconfiança em todo o cenário, que aparenta tranquilidade. Para o ex-futuro salvador do mundo, as histórias que o fizeram crescer ainda servem como premonição, e não são mais pesadelo indiscriminados.

    O nomadismo de John serve também como referência ao posto da cadeira de diretor da franquia, executada por Jonathan Mostow, bem como a péssima construção vilanesca da personagem de Kristanna Loken, T-X, que mostra-se primeiro com sensualidade extrema e, depois, desdenha de figuras estereotípicas femininas, tanto do arquétipo da moda, quanto da mulher preocupada com a outra. A análise abarca essa terrível problemática, que pode ser encarada como misógina, mas que é aplacada pelo fato de ser este um vilão. Além disso, um foco importante é dado na figura de Kate Brewster (Claire Danes), uma misteriosa mulher que teria uma parte importante na trama de O Exterminador do Futuro 3.

    As duas figuras heroicas do filmes são expostas de modo confuso. John Connor é um sujeito maltrapilho, que não inspira confiança e que se medica com medicamentos veterinários; já o Exterminador age de modo diferente, se aproximando nu de um clube das mulheres.

    É engraçado o modo como o roteiro trata John: um homem adulto, assustado, enjaulado diante da paranoia herdada de sua mãe, que destruiu por completo sua autoestima e o deixou à mercê da bondade de uma mulher pseudo desconhecida. Qualquer boa intenção em retratar o stress pós-trauma vai por água abaixo diante das cenas repetidas que sequer se aproximam do impacto dos primeiros filmes, bem como a construção  fraca tanto das cenas de ação quanto da figura do vilão.

    Mesmo o action hero parece cansado. Arnold Schwarzenegger aparenta fadiga física e psicológica, enfadado com o gênero de filmes que o tornaria famoso o suficiente para candidatar-se ao cargo de governador da Califórnia. O primeiro momento de leve inspiração de sua personagem se dá aproximadamente aos 40 minutos de filme, quando ele revela que o Dia do Julgamento Final só foi adiado, e não evitado.

    O caixão que o Exterminador usa para conter seu protegido é simbólico ao extremo, por homenagear o fim temporário que teria a franquia, relegada ao esquecimento graças ao fracasso do filme. A partir de 2003, a saga se bifurcaria, sendo levada para um seriado ruim, um spin off e uma continuação tosca, ambos de cabeças pensantes completamente diferentes. Uma esquizofrenia gigante por parte dos produtores, mais confusa que a formação poli mimética do vilão da fita.

    O final dos dois exterminadores é completamente anticlimático, com a corrupção do ethos do herói que antes se redimiu. A brincadeira envolve a necessidade de T-800 em variar de lado, não se esquecendo de suas origens enquanto ativista pró-máquinas, um conceito válido e interessante, mal executado ao extremo.

    Apesar de todos os tropeços ocorridos durante os  quase 105 minutos de filme, o final, fundamentado nos fracos personagens, serve de alento, já que é a prova cabal de que não importa o quanto tente se mudar o destino; o mesmo segue inexorável. A inevitabilidade da destruição humana viria através de sua própria arrogância, mesmo que o argumento usado seja fundamentado no complexo de  Frankenstein. Ainda assim, entrega-se muito pouco do que foi prometido para esta continuação, resultando em um filme pífio, que não provoca entusiasmo em qualquer fã da franquia.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final

    Crítica | O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final

    O Exterminador do Futuro 2 - O Julgamento Final

    Em geral, as sequências de grandes filmes de ação ou ficção tentam ser maiores e mais espetaculares que o original. Normalmente, isso acaba gerando filmes que, se não são completos desastres, em nenhum momento conseguem se aproximar do original. O espetacular O Exterminador do Futuro 2 é uma das exceções à regra. Orçada em estimados 105 milhões de dólares (filme mais caro da história até True Lies, coincidentemente também dirigido por James Cameron e estrelado por Arnold Schwarzenegger), contra o orçamento de 6,5 milhões de Exterminador do Futuro, a fita consegue unir perfeitamente uma boa história, interpretações inspiradas e efeitos especiais que, mesmo após 24 anos de seu lançamento, mantêm-se atuais e críveis.

    Na trama do filme, a Skynet envia o T-1000, um modelo avançado de exterminador ao ano de 1995 para eliminar John Connor, o líder da resistência humana contra as máquinas no ano de 2029, então com 10 anos. Porém, os humanos conseguem enviar um T-800 reprogramado para protegê-lo. Ainda que pareça simples, a trama vai se desdobrando à medida que o T-800, John Connor e Sarah Connor vão tentando desesperadamente fugir do assassino de metal líquido ao mesmo tempo que partem para impedir o “Dia do Julgamento” e reescrever o futuro.

    O diretor James Cameron mostra sua melhor forma, filmando grandes sequências de ação ao mesmo tempo que vai desenvolvendo bem a trama e as relações entre o trio de protagonistas. É interessante perceber como o filme é montado em pequenos arcos, com cada cena de ação sendo bem preparada antes de ocorrer. O ritmo inicial é alucinante e vai em um crescendo até que o diretor pisa bruscamente no freio para depois ir acelerando até o final da película. O trabalho técnico é irrepreensível. Com o orçamento turbinado pela Pepsi, que em troca do dinheiro investido teve uma exposição monstruosa de seus produtos ao longo do filme, a produção contratou a Industrial Light and Magic para cuidar dos efeitos visuais, o que resultou em um trabalho que não envelheceu nada desde 1991. Ainda que faça grande uso dos efeitos gerados por computador, os efeitos práticos não foram abolidos e foram idealizados por Stan Winston e sua empresa. O falecido mago da maquiagem e sua equipe possivelmente entregaram seu melhor trabalho de todos os tempos, trabalho esse que foi devidamente reconhecido com um Oscar, assim como os efeitos visuais.

    Há também uma mudança de tom em relação ao original. Enquanto o primeiro filme é praticamente todo passado à noite e possui uma fotografia bem escura, provavelmente para esconder as limitações referentes ao orçamento e a outras eventuais falhas, O Exterminador do Futuro 2 é um filme bastante “iluminado”, com grandes sequências ocorrendo durante o dia, principalmente no início da fita, e mesmo quando passa para locais fechados, em nenhum momento assume um tom dark. Podemos inclusive associar essa mudança de tom ao fato da diferença de objetivos de cada filme. Se no primeiro o futuro se pronunciava implacável e imutável, só restando a Sarah Connor sobreviver, nesse segundo surge a possibilidade de alterar e reescrever o futuro, aniquilando a existência da Skynet ainda nos primórdios de seu desenvolvimento.

    O roteiro de William Wisher e do próprio Cameron é bem escrito e acaba por estabelecer algumas discussões profundas, como a relação paterna que acaba surgindo entre o T-800 e John Connor. Nesse âmbito, cabe ressaltar as atuações de Arnold Schwarzenegger e Edward Furlong. O primeiro, ciente das suas limitações dramáticas, usa isso a seu favor e acaba entregando uma excelente interpretação para o papel que nasceu para fazer, pois o ator literalmente se torna uma máquina que vai evoluindo aos poucos para se tornar mais humano. Já o segundo consegue cativar a plateia com sua interpretação para um garoto longe de ser prodígio, mas que é muito inteligente e safo. Linda Hamilton cria com competência uma Sarah Connor amargurada e paranoica que passou anos preparando seu filho para se tornar o líder da resistência. Uma mãe superprotetora, mas que acaba se tornando muito mais um general do que uma figura materna, ainda que preserve resquícios de ternura.  Já Robert Patrick, o T-1000, se estabelece como uma presença constante e um perseguidor implacável, ainda que não tenha o carisma de Arnold quando interpretou a máquina assassina do primeiro filme.

    Clássico instantâneo, assim como a primeira parte, O Exterminador do Futuro 2 é um filme que, apesar de ter sido lançado há quase 25 anos, mantém-se atemporal e eletrizante, mesmo que seja visto pela milésima vez.

  • Crítica | O Exterminador do Futuro

    Crítica | O Exterminador do Futuro

    Lançado no longínquo ano de 1984, O Exterminador do Futuro utiliza uma fórmula simples, mas muito bem executada, para fazer transcorrer a narrativa: um assassino está caçando sua vítima. Na trama, Sarah Connor (Linda Hammilton), uma garçonete comum, é duplamente perseguida por um homem (Michael Biehn) e um ciborgue assassino do futuro (Arnold Schwarzenegger).

    A abertura deixa mais ganchos do que respostas sobre o que estamos vendo naquela Los Angeles do futuro. O filme já começa apresentando o vilão, e logo em seguida o herói. Há pouquíssimos espaços vazios entre uma cena ou outra, e sequer vemos passar as quase duas horas de duração com alguma cena monótona.

    O trunfo do roteiro do diretor James Cameron ao aplicar nessa mesma fórmula de assassino à solta e um escopo de viagem no tempo é dar poucas explicações sobre que ocorre no futuro, mostrando migalhas em boas elipses entre algumas cenas. Tudo para exatamente manter o foco de que manter Sarah viva no passado é muito mais importante do que saber o que aquele futuro traz.

    Acompanhamos no início do filme três núcleos de personagens que vão se encontrar futuramente. Existem detalhes narrativos para contextualizar onde cada peça se encaixa no roteiro. A sensação de terror que o Ciborgue poderia nos trazer é em parte arranhada pelo sotaque carregado do Schwarzenegger, mas que compensa muito bem intimidando fisicamente, com a câmera fazendo questão de mostrar que o vilão é infinitamente superior ao herói, como deve ser.  Talvez o elemento que mais tire a tensão a todo o momento é a trilha sonora sintetizada, que parece ter sido feita toda em MIDI.

    Sarah se passa por vítima, como qualquer pessoa comum se sentiria ao ser caçada, mas conforme Kyle vai contando sobre o futuro, e dando seu parecer sobre o que ela representa, existe um crescimento na construção da personagem, que passa a lutar pela própria sobrevivência e a do seu filho prometido, que algum dia irá salvar a humanidade. Linda Hammilton consegue encarnar as duas facetas naturalmente, fazendo de fato parecer que houve ali uma tomada de decisão para a mudança quando tudo parece já estar acabado.

    É realmente intimidadora a forma como o ciborgue, já sem sua carapaça humana, é apresentado. O alto número de cenas de ação também serve para justificar a degradação do seu corpo, para finalmente, na cena final, ressurgir das chamas para matar. E, a despeito de o vermos muito pouco, é o suficiente pelo filme inteiro.

    Apesar de já ter visto mais de uma vez o segundo filme da franquia, nunca havia assistido o primeiro. Tal qual um Exterminador, voltei no tempo hoje e vi pela primeira vez o início de uma das franquias mais populares de ficção científica que pouco envelheceu em qualidade, e ainda nos traz um belo registro visual do que eram as roupas e penteados nos EUA dos anos 1980, que certamente deixam saudade.

    Texto de autoria de Halan Everson.