Crítica | Straight Outta Compton: A História do NWA
Straight Outta Compton: A História do N.W.A. era um dos filmes mais aguardados pelos fãs de rap e de música alternativa em geral dos últimos anos, e conseguiu entregar o que prometeu: a cinebiografia de um dos principais grupos da história do hip-hop.
Na metade dos anos 80, cinco jovens da cidade de Compton, Califórnia, se juntam e fundam o grupo de hip-hop N.W.A. e acabam se destacando no meio do cenário local, e depois nacional, com a proposta de músicas mais realistas, que retratam a rotina violenta das gangues e do tráfico de drogas. Assim nascia o gangasta rap.
O roteiro de Jonathan Herman e Andrea Berloff, baseado na história escrita por ela, Alan Wenkus e S. Leigh Savidge, preferiu seguir a ordem cronológica dos eventos que levaram a formação do grupo de rap e o consequente sucesso local e nacional. No entanto, faltaram mais informações para ajudar na contextualização e dar ao espectador uma melhor compreensão da origem do N.W.A., de como eles se conheceram até o sucesso consolidado, entender como funcionava aqueles bastidores. As informações são brutas, jogadas. Faltou lapidar, deixar o roteiro mais didático. É nítido o descaso com a narrativa no início até a metade do filme. Uma ou outra cena também podem incomodar por causa do maniqueísmo desnecessário que acabou por dar um tom panfletário, como na cena da abordagem no estúdio de gravação e quando a polícia interdita o show.
O roteiro evolui bastante quando começam as desavenças internas e Ice Cube e Dr. Dre deixam o grupo, enquanto Easy-E tenta segurar os outros junto do empresário. A ruptura através do bom personagem do Suge Knight e os bastidores da Death Row ajudaram a elevar os conflitos, e as rápidas aparições de Tupac e Snopp Dogg deram um ganho substancial de qualidade ao filme. Apesar de centrar boa parte da narrativa na figura de Easy-E, um grande acerto foi não criar protagonistas, deixando o grupo como um personagem enorme e disforme, um Frankenstein cheio de conflitos. A conclusão foi satisfatória: a morte de Easy-E não representou somente a morte do grupo, mas sim de uma era. O gangsta rap precisava acabar ali para evoluir e evoluiu.
Os atores que interpretaram e os integrantes reais do N.W.A. Mais informações aqui.
Nenhuma das atuações foi memorável, porém nenhum ator comprometeu o personagem em algum momento. O filme poderia ter um bom diferencial dramático, mas acaba preferindo se segurar no roteiro. Dos destaques, O’Shea Jackson é a cara do pai, Ice Cube, e o bom Paul Giamatti consegue dar qualidade sempre que aparece.
Como diretor, F. Gary Gray podia ter exigido um melhor tratamento para o roteiro. Seu domínio da narrativa visual não condiz com o material que recebeu, e o resultado final acaba ficando incompleto. Faltou uma direção de atores mais atenciosa. É nítida a sua negligência com o elenco principal.
A fotografia levemente estilizada de Matthew Libatique ajuda na retratação da época. O ótimo fotógrafo, de filmes como Cisne Negro e Réquiem Para Um Sonho, conseguiu dar qualidade à obra nas cenas de festas e dos shows.
A edição de Billy Fox e Michael Tronick poderia ter cortado cenas desnecessárias, e dar mais ritmo ao filme teria tornado-o melhor. No geral, a edição foi satisfatória: como a fotografia, ela se destaca nas cenas de festas, de shows e nas cenas da Death Row.
Straight Outta Compton: A História do N.W.A. vale a pena para quem é fã do universo musical. Para quem gosta de rap, é essencial. Apesar das críticas, o filme acaba funcionando no quadro geral.
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Texto de autoria de Pablo Grilo.