Crítica | O Chamado 3
Quinze anos após o primeiro filme da franquia, O Chamado 3 parece uma grande oportunidade desperdiçada. A história de Samara Morgan (a contorcionista Bonnie Morgan), explorada na estreia do diretor F. Javier Guetierrez, pode até ser interessante, mas peca pela falta de ritmo e indecisão na escolha do tom. A cena inicial no avião não se conecta com o resto do filme, servindo apenas para introduzir a maldição dos “sete dias” e frustrar o espectador, que não verá algo tão grandioso durante o restante da projeção.
Talvez o problema dessa terceira incursão seja a expectativa criada e não aproveitada. O primeiro filme é extremamente dependente de tecnologias já ultrapassadas nos dias de hoje. A fita VHS com falhas no tracking e a estática dos televisores de tubo davam a atmosfera tensa que essa produção não consegue reproduzir. Criar um arquivo no computador está longe de ter o charme quase que fetichista de copiar uma fita no videocassete, e o toque do celular está longe do mistério de se atender a um telefone sem identificador de chamadas.
Na trama, Johny Galecki interpreta Gabriel, professor universitário que compra um antigo aparelho de videocassete que contém a fita amaldiçoada, cujo antigo dono havia morrido no acidente de avião do começo do filme. Gabriel, uma versão mais séria de Leonard – personagem de Galecki em The Big Bang Theory – desenvolve uma pesquisa através do conteúdo da fita que deveria provar a existência da vida após a morte, desenvolvendo uma rede de alunos universitários que voluntariamente assistem a fita (agora um arquivo de vídeo), fazem uma cópia e passam a um “seguidor”. Paralelamente, conhecemos o casal protagonista. Julia (Matilda Lutz) e Holt (Alex Roe), que tentam manter um relacionamento à distância enquanto o rapaz vai para a faculdade em outra cidade. Após certo tempo sem receber notícias do namorado, Julia vai até o campus investigar e descobre que Holtz está envolvido na pesquisa de Gabriel. A garota também assiste ao vídeo, mas a princípio se recusa a passá-lo a um seguidor. Ela acaba tendo visões que revelam o passado da garota morta no poço e o casal segue uma linha de investigação até encontrar o verdadeiro vilão da história, digna de um episódio de Scooby Doo.
A impressão que se dá é que cada um dos três atos são filmes diferentes, colados para dar forma a uma história mais ou menos razoável. O final, estragado tanto pelo trailer quanto pela premissa que não cumpriu, daria uma excelente história de terror caso houve maior ousadia do diretor espanhol ao invés da aposta no mais do mesmo que se tornou o miolo do filme. Sustos previsíveis, casal de protagonistas sem química nenhuma e um roteiro arrastado e fortemente calcado em coincidências para fazer a história andar, fazem do filme uma verdadeira decepção. A história da gestação de Samara e a identidade de seu pai biológico torna-se algo interessante em meio a tanto marasmo, mas não o suficiente para que o terror ou o suspense decole.
O Chamado 3 é claramente um caça-níquéis que não se importa em manter a qualidade e aposta que seus fãs sejam o suficiente para gerar uma boa bilheteria. Para aqueles que realmente gostam da franquia, seria melhor assistir ao crossover japonês O Chamado vs O Grito – pelo menos a diversão (e alguns sustos) parece mais garantida.