Crítica | Terra Selvagem
Taylor Sheridan teve uma carreira de pouco expressão como ator. Talvez ele seja lembrado por seu xerife David Hale na série Sons of Anarchy. Entretanto, como roteirista, Sheridan vem tendo uma carreira de grande sucesso. Terra Selvagem é seu segundo filme a estrear no circuito nacional no ano de 2017 – o primeiro foi o sensacional A Qualquer Custo que lhe uma indicação ao 02 de melhor roteiro – e o seu primeiro filme como diretor. Mais uma vez, Sheridan desempenha um grande trabalho como roteirista e mostra que é capaz de ser um grande diretor.
Na trama, uma jovem agente do FBI é designada para investigar a misteriosa morte de uma jovem dentro da reserva indígena Wind River, localizada no Wyoming. A vítima possui sinais de violência sexual, mas nenhum outro que possa indicar a sua causa mortis. Devido à natureza hostil do lugar, a agente solicita a ajuda de um rastreador radicado no local, uma vez que o local é extremamente frio e isolado. Entretanto, ao passo que a investigação se aprofunda, a dupla começa a perceber que as implicações desse assassinato são muito maiores do que imaginavam.
O agora também diretor Taylor Sheridan bebe muito da fonte de David Mackenzie e Denis Villeneuve, diretores de A Qualquer Custo e Sicario (filmes baseados em roteiros seus), o que significa longos planos que delineam as gélidas e desoladoras paisagens da reserva Wind River. Ao passo que tudo se desenrola, novos elementos são introduzidos à trama. O que poderia vir a fazer o filme perder o rumo, vai o tornando cada vez mais intrigante, muito graças à mão firme do diretor e ao seu roteiro conciso. Interessante observar que os longos discursos explanativos, sempre presentes no cinema hollywoodiano, não tem lugar aqui. A história vai sendo contada sem que o espectador seja subestimado, com um desenvolvimento bem ágil, entremeado por algumas sequências tensas e eletrizantes.
O roteiro trabalha com esmero as questões polêmicas e pertinentes a respeito da falta de estatística sobre mortes em reservas indígenas e, principalmente, da morte de mulheres indígenas. Tanto que a película é baseada em eventos reais. Porém, existe uma questão que é trabalhada de uma forma muito comovente e com uma sutileza difícil de ser encontrada: o luto. O personagem de Jeremy Renner é apresentado como um homem que sofreu algumas grandes perdas pessoais. Ao ser integrado à investigação, seu personagem funciona como fio condutor de vários eventos que decorrem a partir daí. Entretanto, ele é o elemento principal que ajuda na empatia do espectador com o que é apresentado em tela. Sua interação com o pai da moça morta, vivido pelo excelente Gil Birmingham (que trabalhou em A Qualquer Custo) rende os grandes momentos do filme, pois retratam dois homens enlutados cada qual à sua maneira, destruídos pela vida tentando se apoiar da maneira que for possível no momento. Outro ponto bem interessante são os diálogos breves sobre a perda dos valores culturais dos indígenas. Ainda no concernente às atuações, Elisabeth Olsen entrega um grande trabalho como a agente novata e idealista do FBI destacada para a investigação e o veteraníssimo Graham Greene entrega a habitual competência como o xerife cético que deixou suas raízes indígenas, mas que ainda possui grande consideração pelos seus pares.
Em suma, Terra Selvagem é mais um espetacular trabalho do talentoso roteirista Taylor Sheridan e que também demonstra seu potencial para consolidar uma bela carreira como um grande diretor.
https://www.youtube.com/watch?v=CVElCdD4rtw
Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.