Crítica | Animal Cordial
Os méritos de Animal Cordial passam fundamentalmente pelo talento de sua diretora, Gabriela Amaral Almeida, cineasta que faz parte de uma nova safra de cineastas brasileiros, com linguagem, identidade e personalidade. O longa reúne elementos que Almeida já havia levantado em trabalhos anteriores, em especial o curta Estátua, protagonizado por Maeve Jenkins, onde já se percebe a obsessão da realizadora com temas de suspense envolvendo anomalias mentais humanas.
A história do filme mostra um restaurante comandado por Inácio (Murilo Benício), um sujeito de classe média que comanda o lugar com mão de ferro, autoritário ao extremo. Essa postura causa atritos com os funcionários, em especial com Djair, o ótimo cozinheiro vivido por Irandhir dos Santos que sempre é humilhado pelo patrão, e claro, a garçonete Sara (Luciana Paes), também tratada bastante mal por Inácio. Esse seria o último dia de trabalho de Djair, que pediria demissão, mas seus anseios de se retirar acabam interrompidos por um assalto ao lugar e a partir daí se inicia uma nova trajetória, onde os problemas de relacionamento das pessoas se agravam e novas situações se desenvolvem.
Apesar de não haver nenhuma manifestação clara do sobrenatural na trama, existe uma carga sobre os personagens que pode significar alguma ação espiritual, em especial com dois personagens. O primeiro deles é Inácio, que foge demais do estereótipo bonzinho que normalmente o ator está habituado, mostrando um homem inseguro com sua masculinidade e poder. O segundo personagem é Sara, uma mulher que muda drasticamente de acordo com o decorrer da história, inclusive de intenções, servindo aquele a quem antes desprezava, variando de um estado de covardia emocional para dominação sexual.
A primeira exibição de Animal Cordial foi prontamente comparado com uma peça de teatro, já que possui praticamente uma única locação, o restaurante e suas dependências internas. Isso não é um demérito, inclusive facilita o desempenho dos atores. A parte final revela um bom ritmo e uma crescente absurda ao se aproximar de seu desfecho. O longa de Almeida propõe inúmeras discussões e demonstram, infelizmente, um fiel retrato do Brasil atual, que aparece apelar para o bizarro como única alternativa viável de vida.
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