Tag: Luciana Paes

  • Review | Fora de Hora – 1ª Temporada

    Review | Fora de Hora – 1ª Temporada

    Comedia em formato de telejornal, o semanal Fora de Hora sofreu com a pandemia do novo Coronavirus (Covid 19), teve seu número de episódios reduzidos para nove capítulos e mais um que recapitula tudo, estava programa para ir ao ar até Abril mas encerrou antes. Criado por Caito Mainier e Daniela Ocampo, com redação final de Mainier e Mauricio Rizzo e supervisão artística de Marcius Melhem e Ocampo. O programa parece uma esquete em formato de paródia dos telejornais, semelhante ao que fazia Tá no Ar: A TV na TV, mas voltada basicamente para programas de informações.

    Após uma matéria da Revista Piauí, levantou-se a possibilidade de que este seria uma nova versão do Furo MTV, de novo protagonizado pelos humoristas Dani Calabresa e Bento Ribeiro. Tal citação é complicada de se comprovar, já que a matéria entrevistou a advogada de Calabresa, e não a própria, boa parte dos detalhes estão em segredo de justiça e a autoria ou ideia inicial do programa é uma questão bastante subalterna entre toda a troca de acusações envolvendo o diretor, supervisor e ator Marcius Melhem. Fato é que sua participações como ator são bastante reduzidas, se resumindo a sempre fazer um repórter que deveria estar em um lugar e está em outro.

    O programa tem dois âncoras, Paulo e Renata, feitos por Paulo Vieira e Renata Gaspar, que tem em comum não só seus primeiros nomes entre personagens e interpretes, mas também boa parte dos detalhes de suas formações e origens – Paulo é do Tocantins, como sua contra parte ator, por exemplo. Além disso, toda vez que o programa se inicia há uma piada criativa com o modo como a câmera age, seja se aproximando demais no close, ou indo para trás da bancada ou algo que o valha.

    Há um cuidado da produção em resgatar os bons momentos de outros humorísticos da Globo, dando vazão a números musicais e muitas imitações de políticos e de celebridades brasileiras e algumas do exterior, e é nesse ínterim que Marcelo Adnet e Welder Rodrigues brilham, seja no Jair Bolsonaro, Donald Trump ou Sergio Moro (Adnet) ou no Paulo Guedes (Welder). O fato do governo brasileiro ter se atrapalhado tanto no inicio de 2020 facilita é claro o trabalho dos redatores, que não conseguem ser criativos o suficiente para lidar com um deboche que soe escapista e distante da realidade.

    Além dos apresentadores, há alguns personagens, que variam entre boas apresentações e outras nem um pouco inspiradas, Mainier faz Pedro Resedá, uma versão de Datena/Marcelo Rezende, Veronica deBom faz Fabíola Argento, uma sensacionalista defensora do consumidor, Luciana Paes faz a sanitarista insana Clarissa Girão, ou o figurante com delírios de grandeza Miltinho, de Luis Lobianco. Há também reaparições, como o Ubirajara Dominique, o índio de Ta no Ar e muita piada com Big Brother Brasil, e isso deixa o espectador que não consome o Reality Show um pouco aéreo, divergindo um pouco da máxima de se valer do noticiário comum.

    Há uma intenção de primar por naturalidade, não são poucos momentos em que Vieira ou Gaspar deixam escapar risadas graças ao desempenho dos que visitam a mesa central do Fora de Hora. A atualidade é tão influente que no roteiro, se prevê que personagens estejam contaminados, e impossibilitados de aparecerem, inclusive antes da quarentena ocorrer. Os efeitos externos atrapalharam demais o trabalho, resultando em alguns momentos altos, especialmente as canções a respeito do governo e as críticas ao modo se toca a educação, economia cultura no governo Bolsonaro, mas claramente parecia haver mais a discutir e mais a aprofundar, o que se espera é que a segunda temporada não seja tão conturbada quanto esta.

  • Crítica | A Sombra do Pai

    Crítica | A Sombra do Pai

    Depois do sucesso de Animal Cordial, a diretora Gabriela Amaral Almeida prossegue em sua jornada de valorizar o cinema de gênero, dando a luz ao seu segundo longa A Sombra do Pai, um filme que se vale de sutilezas para construir o próprio terror, reunindo elementos caros ao cinema de horror brasileiro, tendo como base também um terror mais psicológico como o feito na Itália por Dario Argento e pelos diretores que fugiam de fazer meras cópias do que funcionava no cinema hollywoodiano.

    A trama começa com a visita de uma mulher do censo IBGE, conversando com Cristina (Luciana Paes), que é a mulher mais velha da casa, que cuida da criança recém órfã de mãe Dalva (Nina Medeiros), e que mora com seu pai. Essa configuração familiar se mostra um pouco complicada, pois Dalva é louca para casar e sair dali, e por isso faz rezas constantes a Santo Antônio, enquanto Jorge (Julio Machado), o pai da menina trabalha demais na construção civil e não parece ter qualquer vontade de conversar com quaisquer pessoas, especialmente as que moram com ele.

    Enquanto isso, Dalva tenta viver sua infância normalmente, embora não consiga estabelecer isso nem minimamente. As outras crianças a evitam, de tanto sofrer rejeição por acharem que ela tem poderes misticos, ela passa a acreditar, ainda mais quando seu feijãozinho plantado não desabrocha. Ela passa a acreditar que é incapaz de gerar vida, talvez se fosse grande poderia acreditar talvez em infertilidade, e para tentar compensar isso ela passa a fazer exercícios espirituais ligados a necromancia, claro, com que ela tem acesso, fato que é encarado por alguns como afeição a macumba.

    No núcleo adulto, em especial o que toca o trabalho de Jorge, há uma reflexão sobre a situação trabalhista do Brasil, onde por de cortes de custos, um dos amigos de Jorge é demitido. Até este momento, o longa dialoga demais com Arábia de Affonso Uchoa e João Dumans, e ele passa a ter rumos diferentes a partir daí, e que facilmente poderiam ocorrer com a trajetória de trabalhador acidentado vivido por Aristides de Souza no filme mineiro, com o tal companheiro de Jorge morrendo após cair de um andar alto da obra. A discussão sobre se aquilo foi um suicídio ou acidente permeiam todo o filme, mas da parte do ai de Dalva, a declaração era de quem foi um acidente de trabalho, para que a família do mesmo pudesse ter alguma indenização dos patrões.

    A forma como o roteiro lida com os dons de Dalva é muito inteligente e gradual. O mistério demora e ser revelado e a aura de suspense funciona muito bem, por conta dos pequenos eventos estranhos que vão aos poucos ocorrendo. A iluminação e trabalho da direção de fotografia de Barbara Alvez ajuda a criar uma sensação de estranheza constante, mas não prenuncia nada, a natureza da influencia sobrenatural jamais fica clara e esse mistério ajuda o filme. O choro do pai sem razões explicadas, as aparições espirituais, rumores de fantasmas tudo colabora para o mistério.

    Dalva em alguns pontos do filme revela ser avatar de algumas das preferências da diretora, uma vez que ela está sempre assistindo filmes de terror em preto e branco. A predileção da menina por brincadeiras que lidam com o sobrenatural também soam muito verdadeiras. A opção pelo jogo do copo situa o filme em uma brasilidade que não  tem espaço para pudor. Quase todo grupo de crianças e adolescente já brincou com isso, seja para sentir medo ou só para ter alguma chance de interação sexual, visando quebrar a timidez típica das pessoas que ainda não são adultos. No entanto, a recepção de Jorge a esse tipo de atitude de sua filha é agressiva, e talvez daí venha o titulo do filme, uma vez que a menina não consegue fazer o que quer e nem manifestar seus poderes graças a limitação de seu parente.

    Quase todas as tentativas de Jorge em normalizar a família fracassam. Quando ele leva Dalva no parque, eles brincam no balanço ele quase a mata de medo ao utilizar muita força ao empurra-la. O homem desesperado não sabe o que fazer ao perceber que está adoecendo e ao perceber o apodrecimento de sua própria carne, e não sabe lidar com o crescimento da criança. A mediunidade principiante que ela apresenta pode ser apenas um paralelo para uma feminilidade que cresce e se torna um comportamento feminismo, e o macho alfa do alto de sua masculinidade tóxica não pode coexistir com isso, mas essa é somente uma possibilidade de leitura para esse embate, que parece ser mais trivial do que ideológico.

    Dalva parece saber o que está fazendo, ela erra em alguns pontos, mas também se instrui corretamente e dá inicio a rituais de limpeza usando tesouras para cortar os laços do mal. Aos poucos, a frustração pelo seu pé de feijão não ter crescido dá vazão  uma nova manifestação estranha e frondosa, que faz a menina acreditar piamente que é capaz de realizar outros desejos seus, anseios esses ligados a falta de ter uma família estruturada de completa. O desfecho de A Sombra do Pai consegue ser onírico e trágico e o equilíbrio que a diretora estabelecer aqui é sui generis, tanto no sentido de apresentar uma historia fantástica, quanto mostrar um exemplar preocupado com causas sociais e com o momento político do país.

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  • Crítica | Animal Cordial

    Crítica | Animal Cordial

    Os méritos de Animal Cordial passam fundamentalmente pelo talento de sua diretora, Gabriela Amaral Almeida, cineasta que faz parte de uma nova safra de cineastas brasileiros, com linguagem, identidade e personalidade. O longa reúne elementos que Almeida já havia levantado em trabalhos anteriores, em especial o curta Estátua, protagonizado por Maeve Jenkins, onde já se percebe a obsessão da realizadora com temas de suspense envolvendo anomalias mentais humanas.

    A história do filme mostra um restaurante comandado por Inácio (Murilo Benício), um sujeito de classe média que comanda o lugar com mão de ferro, autoritário ao extremo. Essa postura causa atritos com os funcionários, em especial com Djair, o ótimo cozinheiro vivido por Irandhir dos Santos que sempre é humilhado pelo patrão, e claro, a garçonete Sara (Luciana Paes), também tratada bastante mal por Inácio. Esse seria o último dia de trabalho de Djair, que pediria demissão, mas seus anseios de se retirar acabam interrompidos por um assalto ao lugar e a partir daí se inicia uma nova trajetória, onde os problemas de relacionamento das pessoas se agravam e novas situações se desenvolvem.

    Apesar de não haver nenhuma manifestação clara do sobrenatural na trama, existe uma carga sobre os personagens que pode significar alguma ação espiritual, em especial com dois personagens. O primeiro deles é Inácio, que foge demais do estereótipo bonzinho que normalmente o ator está habituado, mostrando um homem inseguro com sua masculinidade e poder. O segundo personagem é Sara, uma mulher que muda drasticamente de acordo com o decorrer da história, inclusive de intenções, servindo aquele a quem antes desprezava, variando de um estado de covardia emocional para dominação sexual.

    A primeira exibição de Animal Cordial foi prontamente comparado com uma peça de teatro, já que possui praticamente uma única locação, o restaurante e suas dependências internas. Isso não é um demérito, inclusive facilita o desempenho dos atores. A parte final revela um bom ritmo e uma crescente absurda ao se aproximar de seu desfecho. O longa de Almeida propõe inúmeras discussões e demonstram, infelizmente, um fiel retrato do Brasil atual, que aparece apelar para o bizarro como única alternativa viável de vida.

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  • Review | Me Chama de Bruna

    Review | Me Chama de Bruna

    Após uma boa aceitação do público ao filme Bruna Surfistinha, protagonizado por Deborah Secco e dirigido por Marcus Baldini, o seriado em oito episódios Me Chama de Bruna é uma produção envolvendo o próprio Baldini e Roberto Berliner (Nise – O Coração da Loucura e Júlio Sumiu). A série é protagonizada por Maria Bopp, atriz cujo currículo envolve poucas aparições em segmentos conhecidos.

    A escolha de Bopp para o papel principal leva em conta não só a beleza da nudez da intérprete, mas sim suas semelhanças tanto com Deborah Secco, quanto com Raquel Pacheco (nome da co-autora do livro O Doce Veneno do Escorpião). Fato é que a maior parte dos momentos em que ela está em tela, não há uma exposição realmente interessante da história. As curvas dramáticas pelas quais ela passa são comuns demais e quando se exige um maior empenho dela, é entregue uma performance normalmente engessada da atriz.

    O diferencial do programa televisivo para o de cinema são as histórias paralelas. Apesar de Bopp não conseguir traduzir dramaticamente bem seus problemas e anseios, há um bom desempenho por parte dos personagens periféricos, ainda que não exista tempo suficiente para que se explore minimamente bem seus momentos. O núcleo de mulheres que habitam a mesma casa que Bruna/Raquel, é composta pela cafetina Stella (Carla Ribas) e por outras meninas, entre elas Jéssica (Nash Laila), Georgette (Stella Rabelo), Mônica (Luciana Paes) que normalmente entregam bons momentos, além disso, há também JR (Jonathan Hageensen), filho de Stella, que se envolve romanticamente com Bruna.

    A questão primordial é que a maioria das situações comuns fora da casa de tolerância são completamente bobas e sem apelo emocional. Gravidez sem planejamento, romances entre as pessoas que orbitam o bordel e todo o resto soa infantil e não condizente com a questão adulta que aborda a premissa do programa. Mesmo em situação mais comuns entre os programas, como demonstração de golden shower, entre outras fantasias, são retratadas de maneira muito tímida.

    Entre o quinto e o sexto episódio é apresentada uma trama policial, que perde força graças a dedicação de tempo a questões triviais, nem quando há um ensaio para um momentos mais audacioso a importância se concretiza. Me Chama de Bruna começa insossa, e não tem muito a oferecer exceto as boas atuações de Paes, Ribas, Hageensen e outros, mesmo as cenas de nudez ou semi-nudez não são picantes ou minimamente explícitas, fazendo perguntar o que pretendia o seriado que expande o tema do filme.

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  • Crítica | Sinfonia da Necrópole

    Crítica | Sinfonia da Necrópole

    Sinfonia da Necrópole

    A história de Sinfonia da Necrópole, primeiro longa solo de Juliana Rojas, cinco anos após realizar Trabalhar Cansa com seu parceiro de longa data Marco Dutra, começa em um cemitério, acompanhando a estranha rotina de agentes funerários, especialmente do coveiro Deodato (Eduardo Gomes), que tem sérios problemas com seu ofício, uma vez que se assusta e desmaia quase sempre que vê um morto. Para surpresa do rapaz resignado, e do público, os funcionários começam a cantar, poetizando em formato musical o oficio da construção da derradeira morada do homem.

    O fato de tocar em um assunto mórbido faz com que a leveza do roteiro seja ainda mais curiosa. Os números musicais são pontuais e discretos, sem exageros exorbitantes ou arroubos repletos de afetação. As ações ocorrem da maneira bastante sóbria. O acréscimo da personagem de Luciana Paes, Jaqueline, faz elevar tanto o serviço dos agentes funerários quanto a peregrinação por outras locações na tentativa de expandir os negócios.

    As cenas externas são bem filmadas, vibrando sobre a condição da metrópole paulista, como o belo cenário da mortandade comum a um mundo moderno e apressado como o da atualidade. É engraçado notar como são diferentes as partes cantadas e atuadas das que se passam num salão de videokê, com desafinações enormes, mostrando a diferença da entrega dos personagens nos eventos comuns e nesses exercícios bobos, como em tentativas de diversão não alcançadas com sucessos.

    A realidade de Sinfonia da Necrópole mistura aspectos agridoces com pitadas leves de realismo fantástico, especialmente nos sonhos.  As canções de Rojas e Dutra fazem sentido dentro da trama, e são bem executadas, tanto vocal quanto instrumentalmente, em um exercício que não é totalmente inspirado, mas que funciona minimamente dentro da proposta de sua diretora, a de falar levemente sobre algo grave.