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  • Resenha | Sandman: Prelúdio – Volume 3

    Resenha | Sandman: Prelúdio – Volume 3

    Sandman: Prelúdio é uma minissérie do Senhor dos Sonhos, escrita por Neil Gaiman e ilustrada pelo magistral J. H. Williams III. Os três volumes (dois capítulos em cada), narram a história que deixou Morpheus fraco a ponto de ter sido capturado por mortais na estreia do lendário título The Sandman, publicado em 1989, antes mesmo da criação do selo adulto Vertigo, da DC Comics. Nesta resenha, abordaremos o primeiro volume. Vamos para a análise do terceiro volume da trilogia.

    Sandman está perdido. Na Cidade das Estrelas, depois de ter encontrado seu Pai, o “Tempo”, na jornada para desfazer uma falha íntima que levou ao assassinato de uma versão de si, entra em confronto com estrelas e acaba dentro de um buraco negro, uma estrela morta. Dentro do fim, na ausência total de vida, o personagem revela que aquele era seu objetivo: encontrar sua Mãe, a “Noite”.

    Como expliquei na resenha do segundo volume, o Pai e a Mãe dos Perpétuos (seres que precedem os deuses mitológicos), não são apresentados em Sandman, mas em Sandman: Prelúdio, encontramos o Senhor dos Sonhos lidando com eles. As rusgas familiares são inevitáveis; não é qualquer um que os encontra para conversar sobre algo tão falível quanto a Existência. Tempo e Noite não tem qualquer ligação ou vontade de interferir no Fim das coisas porque sempre persistirão a qualquer colapso.

    Do outro lado do universo, Destino, o irmão cego de Sonho que tem o Livro do Destino acorrentado ao braço, defronta-se com algo que não existe em seu livro: um barco. O veleiro toma a visão do jardim de Destino e ele imediatamente o reconhece como obra de Sandman. O Senhor do Sonho, exausto e à beira da morte, é convocado por seu irmão para dar explicações sobre o barco. Não reconhecendo como obra sua, Sandman entra na embarcação e encontra seres de milhares de planetas; todos coexistem como últimos representantes da sua própria raça. O motivo deles estarem ali é o gancho para o final e resolução do conflito.

    O último volume de Sandman: Prelúdio é o mais filosófico e caótico da trilogia. Os grafismos de J. H. Williams III trabalham a imersão do leitor em páginas muito coloridas (essencialmente cores quentes), que simulam a atmosfera de um sonho. Tudo é real e ao mesmo tempo não é. Em adicional, a história também é mais explorada pelos desenhos, estes cumprem papel especial em contar o não dito, dialogando por vezes com a expectativa do porvir e a natureza simbólica do fim de todas as coisas.

    A caoticidade aparente deriva de os diálogos acompanharem, assim como nos volumes anteriores, os desenhos, ao ponto de o leitor ser atingido por uma espécie de onda narrativa, ou seja, grande volume de informação em curto espaço. Por isso “Sandman – Prelúdio” é para ser lido devagar, apreciando a disposição das imagens, as cores e os significados dos diálogos. Tudo impecável, “Sandman – Prelúdio” é uma obra excelente.

    Lembrando que Gaiman já confirmou o lançamento do Sandman Universe, que contará com quatros novos quadrinhos lançados em comemoração aos 30 anos do personagem. A primeira edição sai em agosto com volume único de The Sandman Universe, que mostrará os leitores o que tem acontecido no reino dos sonhos. As novas publicações serão: Dreaming, House of Whispers, Lucifer e Books of Magic.

    Texto de autoria de José Fontenele.

    Leia a resenha de Sandman: Prelúdio – Volume 1 e Volume 2.

    Compre: Sandman: Prelúdio.

  • Resenha | Sandman: Prelúdio – Volume 2

    Resenha | Sandman: Prelúdio – Volume 2

    Sandman: Prelúdio é uma minissérie do Senhor dos Sonhos, escrita por Neil Gaiman e ilustrada pelo magistral J. H. Williams III. Os três volumes (dois capítulos em cada), narram a história que deixou Morpheus fraco a ponto de ter sido capturado por mortais na estreia do lendário título The Sandman, publicado em 1989, antes mesmo da criação do selo adulto Vertigo, da DC Comics. Nesta resenha, abordaremos o primeiro volume.. Vamos a análise do segundo volume da trilogia.

    Todos os gatos sonham. Morpheus segue a jornada para resolver a causa da morte de uma versão sua, acompanhado por outro Senhor do Sonho, um Gato. Quem leu Sandman provavelmente se lembrará da história contada por um Senhor do Sonho com forma de Gato.

    Eis o conto: os gatos dominavam a Terra antes dos homens e os escravizaram continuadamente. Eram reis que mantinham a subserviência da espécie humana. Certo ponto os homens passaram a sonhar em tomar o lugar dos gatos e esse sonho coletivo fez com que as pessoas destronassem os felinos. O Gato do Sonho, em Sandman, é um Senhor do Sonho que vaga contado aos gatos para sonharem novamente com a época em que eles eram reis. Se os gatos retomarem esse sonho, poderão novamente ocupar o seu antigo posto.

    Fecho o parênteses do Gato do Sonhar para retomar ao Prelúdio. Os dois Senhores do Sonho vagam até os confins do universo até se depararem com as Parcas (ou Moiras), Cloto, Láquesis e Átropos, a trindade fiandeira que decide o passado, presente e o futuro das pessoas. Entidades da Antiguidade Clássica Grega que poderiam, na mitologia de Sandman, também ser substituídas pelas Nornas da Mitologia Nórdica. As três advertem os Senhores do Sonho sobre o comportamento incomum dele em tentar desfazer o passado por egoísmo, ao que Morpheus se esquiva e sai da presença delas.

    Em seguida, os dois Senhores do Sonho se deparam com uma criança próxima da Cidade das Estrelas, seu nome, enigmático, é Esperança. Eles pretendem chegar a cidade para barganhar com estrelas negras, mas antes, Morpheus tenta pedir um favor ao seu Pai. O Pai e a Mãe dos Perpétuos não são mencionados em The Sandman, apenas em Prelúdio ficamos sabendo que os Perpétuos derivam de “Tempo” e “Noite” (com essa definição, Gaiman se aproxima da Mitologia Grega ao descrever que os universos e os Perpétuos derivam de apenas dois seres primordiais).

    Morpheus barganha para que seu pai refaça o passado. A relação familiar não existe e o Tempo se esquiva porque não caber a ele desfazer um erro do filho a custo de bilhões de vidas que serão apagadas por conta da mudança. Gaiman trabalha com a perspectiva dos multiversos e relações de causa e efeito temporais, ou seja, cada mudança, por menor que seja, no passado, acarreta novos seres e novos desdobramentos em todos os universos possíveis. Não cabe ao Tempo, portanto, livrar a prole e os universos do seu fim; o Tempo é inexorável e infinito. Sem sucesso com o pai, Morpheus chega a cidade das Estrelas, é capturado e logo está à beira da inexistência.

    Nos grafismos, o segundo volume de Overture é menos inventivo e onírico que o primeiro. Os desenhos de J. H. Williams III acentuam mais as formas físicas dos seres conscientes e atmosfera ao redor. A palheta de cores continua vasta, percorrendo as cores frias e quentes com voracidade e acentuando as ações dos personagens de Gaiman com zelo. As cenas se acomodam pelos ambientes com naturalidade e mesmo o diálogo críptico de várias páginas é bem compreendido pelos leitores. Várias imagens são duplas ou dividem entre si a mesma gama de tonalidades, trabalho magistral de organização e coloração.

    Sandman:– Prelúdio – Volume 2 é tão bem feito quanto o primeiro e o mais significativo dos três porque expande a mitologia por trás dos Perpétuos; entendemos melhor os conflitos entre eles, a origem, a relação “familiar” e como os sentimentos particulares e tidos como “humanos” interferem na tomada de decisões das tramas. Uma obra sensacional que alia clareza textual, grafismo cuidadoso e trama envolvente. Muito recomendada.

    Texto de autoria de José Fontenele.

    Leia a resenha de Sandman: Prelúdio – Volume 1 e Volume 3.

    Compre: Sandman: Prelúdio.

  • Resenha | Sandman: Prelúdio – Volume 1

    Resenha | Sandman: Prelúdio – Volume 1

    Sandman: Overture, traduzido pela Panini Comics como Sandman: Prelúdio, é uma minissérie do Senhor dos Sonhos, escrita por Neil Gaiman e ilustrada pelo magistral J. H. Williams III. Os três volumes (dois capítulos em cada), narram a história que deixou Morpheus fraco a ponto de ter sido capturado por mortais na estreia do lendário título The Sandman, publicado em 1989, antes mesmo da criação do selo adulto Vertigo, da DC Comics. Nesta resenha, abordaremos o primeiro volume.

    Todas as criaturas podem sonhar e para cada uma delas existe uma versão própria do Senhor dos Sonhos. Logo no início do Prelúdio somos apresentados a flores alienígenas que sonham. Repentinamente aqueles vegetais dotados de consciência passam a duvidar da natureza do Sonhar e isso acarreta a morte de uma versão do Senhor dos Sonhos. Isso nunca aconteceu antes.

    Temos um corte. Na cena seguinte Morpheus marca uma conversa com o Coríntio e os leitores ficam sabendo mais informações sobre esse personagem secundário e assassino, mas antes que o Sonho possa finalizar a visita, ele é invocado por uma força misteriosa. Morpheus sente que a pressão esmagadora da invocação significa problemas e, por isso, decide reunir seus objetos de poder no Sonhar.

    A força misteriosa o arrebata e logo Morpheus é jogado em um descampado oculto com outras figuras ao seu redor. Todos aqueles outros seres são ele mesmo. O Senhor dos Sonhos os reconhece e todos se reconhecem entre si; são Sonhos de todas as formas de vida de todos os universos que existem. Espelhos de mesma essência: o Sonho.

    Gaiman desenvolve a mitologia por trás do Senhor do Sonho ao deixar claro que todas as partículas sonham, desde a primeira forma de matéria até todas as outras que virão em todas as realidades possíveis. Voltando à história, quando todos eles param de se analisar, revelam o motivo da reunião: um Senhor do Sonho foi morto e essa ausência é capaz de criar uma anomalia que levará toda a Existência à morte.

    A partir daí, o Prelúdio acompanha Morpheus na jornada até a solução do assassinato. Rapidamente ficamos sabendo que o Senhor dos Sonhos sabe a causa do fim, pois mesmo a versão morta é parte da essência de cada um deles. A jornada, portanto, não é de investigação, mas de reparação de uma falta cometida pelo próprio Morpheus que originou o assassinato dele mesmo.

    Sandman: Prelúdio, é uma jornada íntima. Morpheus não é mortal, mas é tão falível quanto. Gaiman dota seus Perpétuos de méritos e falhas que se assemelham aos deuses politeístas mitológicos (a mitologia de Sandman explica que os Perpétuos são os predecessores dos deuses falíveis e imortais). Morpheus carrega defeitos de caráter que apenas foram amadurecidos com a disposição da eternidade para si. Antes, quando ainda era jovem (embora isso soe estranho) , cometia enganos.

    Em todos os aspectos, o volume é impecável. Textos curtos e suficientemente significativos por conta de Gaiman; páginas desenhadas com vigor, cores vivas e ousadia por parte do experiente J. H. Williams III. Como representar os elementos oníricos de uma forma inteligível e sedutora? Sandman: Prelúdio é a resposta. Atmosfera asfixiante e paralelamente fascinante. O zelo na produção de todas as histórias do personagem estão em outro patamar de criação artística. Impecáveis.

    Texto de autoria de José Fontenele.

    Leia a resenha de Sandman: Prelúdio – Volume 2 e Volume 3.

    Compre: Sandman: Prelúdio.

  • Resenha | Promethea: Edição Definitiva – Volume 1

    Resenha | Promethea: Edição Definitiva – Volume 1

    promethea-vol1Todas as resenhas que li sobre um quadrinho do Alan Moore tinham uma irritante mania de dizer sobre o autor e suas mais variadas obras e como ele mudou o mundo dos quadrinhos. Sinceramente, se alguém se interessou por ler uma resenha sobre um quadrinho chamado Promethea é que já tem a noção de quem é Moore e o que ele produziu, enfim, vamos parar de puxar o saco dele.

    Porém, não estamos aqui para ficarmos no lugar comum e falar do óbvio, mas sim de um gibi que justamente foge disso, e nos proporciona uma leitura sensacional e também complexa em determinados momentos. Promethea se trata de um quadrinho sobre as aventuras e descobertas de uma heroína que tem por principal característica a possibilidade de se manifestar de tempos em tempos e de diferentes maneiras, cada qual com a sua própria personalidade e peculiaridades próprias.

    Aliás, este se trata do primeiro ponto a ser tratado aqui, os poderes e a manifestação do personagem são muito interessantes. Imagine como uma lenda que é revisitada de tempos em tempos, como que redescoberta pelas pessoas, ou melhor, pense como nos quadrinhos de heróis e como eles se manifestam de acordo com aqueles que o estão interpretando. O Batman do Frank Miller é bastante diferente daquele apresentado pelo Neal Adams, ou mesmo do próprio Alan Moore, que já deu a sua contribuição para o personagem. Cada qual trabalha sobre uma essência comum, mas contribuindo com especificidades. E de acordo com a força crença da pessoa na lenda de Promethea, ela pode se tornar a própria encarnação da mesma. Porém, a partir de algum tipo de arte, poetas, desenhistas, estudiosos, enfim, todos estes artistas que contribuem para a construção da lenda e da sua personificação, podem vir a sê-la. Como um tipo de escolhido. Essa origem incomum já se trata de algo especial e muito interessante para a HQ, que busca trabalhar esse conceito e mostrar a adaptação do “novo hospedeiro” para a heroína, além de nos apresentar as outras Prometheas do passado.

    Mas não pensem que a HQ para por aqui, apenas na exploração de um interessante conceito, mas tem na diversificação de temas e abordagens outro ponto forte. Como, por exemplo, a mostra de outras culturas, apresentação de assuntos ligados ao ocultismo e até mesmo personagens ligados a magia (sim, o barbudinho não podia perder a oportunidade). É impressionante como o quadrinho trata a questão da simbologia e o significado de vários elementos místicos em toda a sua trajetória. Inclusive, aqui se deve destacar a primorosa arte de J.H. Williams III e também do colorista Mick Gray, que estão em estado de graça. Fundamental entender a sintonia com que os três trabalharam para proporcionar um produto final exemplar. O quadrinho perderia muito com uma arte menos requintada.

    Além disso, também se deve destacar outras questões bastante relevantes como o papel que as mulheres desempenham em toda a história. Em tempos de discussão sobre o feminismo e o papel da mulher na sociedade, Promethea nos apresenta uma série de mulheres de personalidade forte que são as protagonistas da trama. Não espere donzelas em perigo, pois não há esse tipo de situação aqui. Aliás, esse é um dos pontos fortes, uma vez que o tema e a presença feminina são feitas de forma natural, em outras palavras, não são mulheres artificiais, mas mulheres comuns que se tornam Promethea.

    Há que se levar em consideração também como Alan Moore estabelece uma crítica e faz uma viagem pela própria História dos quadrinhos neste primeiro volume, pois uma parte da narrativa é conduzida para a Era de Ouro, tanto em termos literais quanto figurativos, e a outra demonstra uma violência e atitude mais década de 1990, lembrando a Image daquele momento. E a pegada e ritmo da narrativa ficam parecidas com cada uma dessas temporalidades que ele aborda, o que faz com que fique muito curiosa e variada a forma de se perceber a construção e velocidade com que as coisas se desenvolvem na trama.

    E também é bastante interessante como Alan Moore quebra a quarta parede (confesso não gostar dessa expressão, mas na falta de algo melhor fica essa mesmo) e estabelece uma ligação com o leitor, pois ele faz isso de forma sutil e quase imperceptível, o que é bastante louvável. Em tempos que pessoas elogiam Deadpool por supostamente fazer isso, digo supostamente, pois é tão grosso, ruim e descarado que perde o sentido de diálogo e aparenta ser mais um monologo, seria fundamental que leitores conhecessem essa abordagem de forma mais elegante e decente. Trata-se de mais um ponto extremamente positivo.

    Enfim, confesso que há muito não era surpreendido por uma HQ que merece várias releituras e que apresenta uma enormidade de temas e possíveis abordagens, a leitura e aquisição é mais do que recomendada. E ansioso pelo segundo volume.

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    Compre: Promethea – Volume 1

    Texto de autoria de Douglas Biagio Puglia.