Crítica | Os Novos Mutantes
Envolto em muitas polêmicas e adiamentos, Os Novos Mutantes é o longa de Josh Boone que aborda as histórias do grupo mutante da Marvel que seria a geração posterior aos clássicos X-Men. Baseado nas HQ homônimas de Chris Claremont e Bob McLeod, o filme ficou por muito tempo em um limbo de exibição após a compra dos estúdios Fox pela Disney, e entre a possibilidade de estrear direto em streaming e ir para o cinema, acabou indo pela segunda vertente, embora por pouco tempo devido a pandemia de Covid 19.
A história começa mostrando uma perseguição a Dani Moonstar, personagem de Blu Hunt que, nos quadrinhos, vem a ser uma das líderes da equipe Novos Mutantes. Não demora a aparecer ela sofrendo um grande trauma, sendo acolhida por uma médica, a Dra. Reyes, personagem de Alice Braga que tenta parecer simpática, mas que em momento nenhum engana o espectador mais atento. Logo ela vai até uma estranha mansão, onde se encontra com um quarteto de jovens, a saber Illyana Rasputin/Magia (Anya Taylor-Joy), Sam Guthrie/Míssil (Charlie Heaton), Roberto da Costa/Mancha Solar (Henry Zaga) e Rahne Sinclair/Lupina (Maisie Williams).
A maioria dos jovens são diferentes de suas contrapartes dos quadrinhos, o que não é exatamente um problema normalmente, mas que em alguns casos, se torna bem incômodo por conta de serem personagens excluídos socialmente para além até do preconceito com mutantes. No entanto, nenhuma incongruência irrita mais do que a quantidade de arquétipos vazios apresentados. Há a garota problema, o rapaz conquistador barato, o menino do interior que tem dificuldades de lidar com os outros, além de rivalidades que fazem pouco ou nenhum sentido e supressão da identidade indígena da protagonista.
Mesmo que essas questões possam ser importantes (e são, em sua maioria) se forem ignoradas sobram questões complicadas de roteiro. Uma delas, relativa ao poder de Sam. Nos quadrinhos ele se torna invulnerável ao voar e por mais que não se fale isso de maneira categórica no filme, imagina-se que funciona da mesma forma, já que suas roupas ficam intactas quando entra em ação, no entanto ele fica com uma tipoia no braço graças a um machucado de quando está usando o poder. Além disso, o choque do quinteto de jovens com a figura vilanesca não faz muito sentido, pois eles são bem mais poderosos que esse opositor.
Um dos boatos mais fortes a respeito do filme, era que o material de trailer dele era um viral irônico, que brincaria com a possibilidade de um filme de terror com elementos de super heróis. A teoria da conspiração consistia em afirmar que Boone mudou o tom do filme para se adequar ao horror já que o trailer fez sucesso, e mesmo que isso seja negado, em alguns pontos parece ser verdade, uma vez que as partes focadas no horror não assustam, não há sequer clichês ruins mas bem encaixados ao menos, como jumpscares, e o tal terror psicológico não se justifica.
A essência dos personagens também não tem muito a ver com os originais, Sam é demasiadamente perturbado, condição essa compartilhada entre todos em menor grau, são traumatizados e isso os torna como bem genéricos entre si, diferenciando-os apenas pela aparência e poderes. A maioria deles tem até um lugar do cenário para ficar a maior parte dos momentos, e essas condições todas juntas fazem com que o filme se assemelhe demais com os desenhos animados de herói dos anos 60, onde todos os personagens eram iguais, tirando suas cores de colantes.
Apesar do roteiro tentar manter algum mistério a respeito do lugar e da intenção das pessoas que circundam o lugar de estudos, não há sutilezas nas relações entre os garotos. Eles não são tridimensionais, se prendem demais aos arquétipos e tabus comuns a filmes de delinquência juvenil. Hunt não parece ter talento dramático o suficiente para protagonizar um filme de proposta tão ousada, tampouco a direção e roteiro parecem maduros para seguir essa toada diferente para um filme do Universo X. Do ponto de vista técnico a fotografia é clara demais até nos momentos de horror, os efeitos especiais não são muito realistas, e ficam pior sob essa luz.
Os Novos Mutantes foi sabotado pelos filmes da Fox, especialmente X-Men: Fênix Negra, mas também não se sustenta bem, as intenções dos personagens, que deveriam soar dúbias, são obvias até para quem jamais leu os gibis, além disso, a tentativa de mostrar a sexualidade de alguns personagens é tola e reducionista, não se trabalha dramaticamente os romances, tampouco a relação de camaradagem entre personagens, que é um dos alicerces da HQ original.