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  • Crítica | Pokemón: Detetive Pikachu

    Crítica | Pokemón: Detetive Pikachu

    Pokémon é uma série de jogos que fez muito sucesso no Japão, no Brasil e no mundo. Aqui, teve uma ascensão meteórica graças ao famigerado anime que passava nas manhãs da Record no programa da Eliana, ainda que claramente já tivesse um número grande de fãs graças aos jogos do portátil Game Boy da Nintendo. O lançamento de Pokemon: Detetive Pikachu era cercado de expectativas, que basicamente só passaram a existir quando saiu o primeiro trailer, onde os monstrinhos de bolso eram mostrados em uma pegada mais realista.

    Pois bem, o filme de Rob Letterman não passa muita mensagem além da sua premissa. Tim Goodman, personagem de Justice Smith é apresentado bem cedo, como um garoto solitário, que vai atrás de seu pai policial supostamente morto, e se vê “obrigado” a investigar o paradeiro dele, junto a um Pikachu que utiliza um boné parecido com o de Sherlock Holmes. O bizarro é que nesse mundo real com criaturinhas, no começo do filme, parece não haver os continentes dos games como Kanto, Johto, Hoen etc, e sim cidades comuns a Terra, e cada pessoa parece ter apenas um monstrinho, semelhante ao que acontecia em Digimon, mas no decorrer da trama Kanto é citada, fato que não ocorre na dublagem brasileira.

    Apesar do começo avassalador, envolvendo Mewtwo (fato já esperado para quem viu os trailers), o que se vê logo após é uma historia desinteressante e irritante, envolvendo o protagonista, que é um garoto responsável e que destoa do restante por não sonhar em ter um Pokémon, alias, suas interações com eles são esquisitas, pois os piores erros de escala ocorrem com ele em tela, variando o tamnho dos bichinhos de acordo com o que o roteiro confuso de Letterman, Dan Hernandez, Benji Samit e Derek Connolly prega.

    Há uma questão parecida com a de Jogador Numero 1 instituída aqui, das Indústrias Clifford situadas em Ryme City como algo inspirador, embora de maneira isso seja desenvolvido de modo bem raso, causando estranheza aos olhos mais atentos de cara. Visualmente não há do que reclamar, o CGI tanto dos objetos inanimados quanto das criaturas é sensacional, e há um sem número de easter eggs, como Snorlax dormindo em dias de acesso, e o uso de Squirtle por bombeiros, embora pudesse ter mais, como Chansey de enfermeira ou Growlithe como auxiliar da polícia. No entanto, da parte dos humanos a inteiração do elenco de famoso é pífia. Ken Watanabe faz nesse praticamente o mesmo papel que fez em Godzilla II: Rei dos Monstros, embora seja menos pedante aqui, assim como Bill Nighym e Chris Geere.

    Mesmo com Ryan Reynolds sendo bem engraçado como o ratinho elétrico, falta substância, consistência e conteúdo a praticamente todos os personagens, Pokémon ou não. Nenhum deles sobressai como algo realmente engraçado e munido de tridimensionalidade. A versão no áudio original é bem melhor que a dublada em português, e a Warner escolheu trazer poucas cópias em inglês, mesmo se vendendo que esse era um filme com o interprete de Deadpool, que empresta a voz ao protagonista monstrinho.

    O maior defeito certamente é o papel do vilão, com um plano tão esdrúxulo que faria inveja aos opositores de James Bond e Scooby-Doo, não há nenhuma obra de Pokemon que meramente lembre algo tão mal construído quanto aqui, alias, perderam uma bela oportunidade de amarrar o destino de Ditto e Mewtwo de uma maneira coesa, aproveitando a teoria de que os Dittos eram os protótipos de clonagem de Mew, mas não, não se utiliza isso e pior, ainda abre a possibilidade na relação entre os personagens Roger Clifford (Geere) e Lucy (Kathryn Newton) um estranho conceito, mostrando que a maior empresa desse universo, também detém o monopolio dos meios de comunicação, e não se tem qualquer reflexão sobre isso. Este desfecho faz piorar demais até a diversão que antes era bem presente no filme, tornando esse Detetive Pikachu um exemplar de aventura bem genérico, melhor que a média das adaptações de games, ainda que isso não seja grandes coisas essa classificação.

     

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  • Review | The Get Down – 1ª Temporada (Parte 2)

    Review | The Get Down – 1ª Temporada (Parte 2)

    The Get Down é uma série de duplo protagonismo, mas a segunda parte desta é dedicada claramente a ascensão de Mylene Cruz (Herizen F. Guardiola) ao patamar de possível diva, muito mais do que o curso da jornada de Ezekiel ‘Books’ Figuero (Justice Smith) e seus Get Down Brothers. Como foi com a primeira parte da temporada, novamente o ato começa morno, O tomo dois tem altos e baixos e ligeiramente inferior a sua parte um, graças principalmente ao acréscimo de uma animação mal executada, que por sua vez, representa as partes mais lúdicas do seriado.

    No entanto, ouso extensivo das partes desenhadas não torna o programa em algo desprezível, especialmente pela construção em volta de Zeke e pelos confrontos que tem com Shaolin Fantastic (Shameik Moore), no ponto de vista ideológico.  Essa dualidade faz um comentário muito inteligente com outros produtos de temática semelhante, em especial Faça a Coisa Certa, de Spike Lee e Os Donos da Rua de John Singleton, mostrando que a luta da juventude negra era por se desassociar da vida de gangster, da rotina do tráfico de drogas e da marginalidade comum.

    Para os membros da geração anterior, a música executada pelos meninos se confundia com o dia a dia dos criminosos e com o uso indiscriminado de drogas. Em meio aos anos setenta, onde a guerra contra os entorpecentes era financiada por governos extremamente conservadores. Apesar de não verbalizar, a versão de Books nos anos noventa – interpretada por Daveed Diggs – claramente julga diferente a questão que na sua juventude o fez entrar em rota de colisão com Shaolin, não que isso justificasse a comercialização de drogas, mas aos poucos o personagem enxerga a realidade que o envolveu durante a infância e adolescência e o quão desesperador era para um homem negro já adulto, mas tradicionalmente desamparado, sobreviver tendo ao seu lado o caminho do tráfico.

    O ponto de virada na trajetória de Mylene ocorre em Gamble Everything, quarto episódio, onde a garota finalmente decide ir na direção contrária ao seu pai Ramon Cruz (Giancarlo Esposito), finalmente ignorando suas normas conservadoras e reacionárias, que por sua vez, acabam sendo o catalisador da pausa que quase ocorre na sua ascensão musical. Ruby Coin é descrita como um antro de sexualidade e de uso livro de drogas e entorpecentes, ainda que seja bem diferente dos becos onde os Get Down Brothers normalmente se apresentam, já que a diversidade sexual lá é completamente diferente dos outros universos estabelecidos na série. Essa é só mais uma demonstração de que a cena gay já estava a frente do seu tempo mesmo em meio aos anos setenta, e essa função na série é ótima por ajudar a quebrar paradigmas, especialmente porque toda a sequência da dança de Mylene e Regina (Shirley Rodriguez) poderia se passar perfeitamente em 2016 ou 17, que são os anos da produção desta temporada.

    A boate Ruby Coin é o maior dos ritos de passagem para a protagonista, primeiro por ela ter que superar a perda de Yolanda (Stefanée Martin) como sua parceira de dança e performance, depois por se ver competindo com Misty Holloway (Renée Elise Goldsberry), a diva da geração anterior que mistura elementos de várias cantoras ícones da época – sendo inclusive a imagem e semelhança física de Diana Ross – além evidentemente de ser encarada por seu repressor pai. Um a um os desafios são vencidos e ela se prova madura e adulta o suficiente para se entregar como possível musa da cena musical e cinematográfica.

    Talvez o maior defeito de Get Down seja o apelo as péssimas animações que lembram os piores momentos do Adult Swin. A ideia de cortar orçamento soa boba e infantil na maior parte das vezes, quebrando a aura mágica dos episódios sempre que ocorrem sequências com os bonecos (des)animados. Os produtores certamente optaram por isto para encurtar custos, sendo isso uma mostra do quão difícil é realizar a série, temendo-se até que esta tenha o mesmo fim precoce de Marco Polo. De certa forma, cresce um desejo por parte do público de que não haja continuações sobre esta, mesmo que o destino dos personagens não esteja totalmente findado.

    Outra subtrama bem explorada a de Shaolin Fantastic, que finalmente se entrega ao arquétipo de herói falido, tendo uma queda em seu plano de viver da música e não mais do tráfico para abrir mão de tudo através da vaidade que lhe acomete. A possível retirada dele do disco que estaria para ser gravado o faz ser rude com Fat Annie (Lillias White), sofrendo assim represália dela, seus capangas e de seu filho Cadillac (Yahya Abdul-Mateen II). No confronto ali estabelecido há também um embate ideológico e que se torna caro por se assemelhar a mais um ato de ópera, fato que também está presente na atitude egocêntrica de Ramon Cruz, que em seus últimos atos, faz questão de gravar uma mensagem para a posteridade,

    O caráter de fantasia e magia se fortifica no ultimo episodio, Only from Exile Can We Come Home, especialmente na bifurcação entre a epifania pós luto de Mylene e a perseguição a Shaolin e seus comparas. No núcleo de Ezekiel, há um embate fantástico dos MCS, Djs e B-boys com os capangas do homem da Disco visto em Cadillac. Em alguns momentos, os discursos soam um pouco infantis, valorizando o aspecto idealizado das letras de Rap,  mas tudo isso é passável, uma vez que o objetivo é mostrar o lado idealizado da filosofia que se tornaria o hip-hop. Por sua vez, Mylene busca seu lugar ao sol de maneira sóbria e bem adulta. Mesmo os momentos de despedida são econômicos em melodrama, mérito esse enorme do diretor Ed Bianchi que consegue equilibrar mesmo os momentos morosos (os animados especialmente), exaltando ainda mais as inspirações e aspirações dos personagens, fazendo dessa temporada agora findada um belo exemplar de ópera rap, contabilizando bem tragédias, sacrifícios e ideais, levando em conta também a identidade de classe e cor de seus heróis, bandidos e coadjuvantes.

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  • Review | The Get Down – 1ª Temporada (Parte 1)

    Review | The Get Down – 1ª Temporada (Parte 1)

    Get Down 1

    Situada em Nova York, explorando a violência e o blaxploitation tanto do Rap dos anos noventa quanto nos bairros suburbanos da década de 1970, The Get Down é uma história épica, focada na trajetória de Books (Daveed Diggs), que no passado, era Ezekiel ‘Zeke’ Figuero(Justice Smith), um homem que recita sua poesia de rua nas duas linhas temporais, discorrendo sobre miséria, sobrevivência e amor, este último envolvendo primeiramente a bela Mylene Cruz (Herizen F. Guardiola), uma menina de voz doce e espírito arredio. Os seis episódios desta parte um se dedicam a aprofundar a questão dos dois personagens, em sua busca pessoal e conjunta pelo sucesso.

    O programa criado por Stephen Adly Guirgis e Baz Luhrmann mostra, no passado, Mylene e Ezekiel não conseguindo ficar juntos, basicamente porque o rapaz não consegue o ímpeto de mostrar a sua arte. O encontro dos dois ocorre na boate Les Infernos, onde a parte latina da população negra se encontra para ouvir o som do famoso Dj Malibu (Billy Porter) e onde a menina acredita que poderá se exibir aos olho de quem faz acontecer na vizinhança. A família de Maylene é a responsável pela igreja local, e seu pai, Pastor Ramón Cruz (Giancarlo Esposito) é um fanático religioso que sente nojo pela simples possibilidade de envolvimento de sua família com qualquer rastro de vida mundana e pseudo leviana, tendo a vida completamente diferente da de seu irmão Francisco ‘Papa Fuerte’ Cruz (Jimmy Smiths), um sujeito boêmio e influente dentro da comunidade. O objetivo do velho é manter seus herdeiros longe da volúpia do Bronx contemporâneo, cerceando a liberdade da moça e bloqueando sua estrada para a fama.

    Paralelo a isso, Zeke busca entender sua vocação e identidade enquanto escritor e intérprete. Ambas jornadas são guiadas sob um ponto de vista estilístico, que mescla a fantasia típica dos filmes de Baz Luhrman – que dirige o primeiro episódio- e o visual de clássicos como Warriors, Cleópatra Jones e Shaft. O piloto estabelece não só o ideal que Ezekiel passa a buscar como a descoberta de todo um mundo novo, para ele, para seus amigos, Marcus ‘Dizzee’ Kipling (Jaden Smith), Ra-Ra Kipling (Skylan Brooks) e Boo-Boo Kipling (Tremaine Brown Jr.) junto ao novo mentor, Shaolin (Shameik Moore), que o introduz na cultura do repente e da comunicação via batalha rimada, nascendo assim o Fantastic Four Plus One, que depois se tornariam os The Get Down Brothers.

    A trama de The Get Down é essencialmente visual. O subtexto que no inicio beira o raso é muitas vezes escondido pela inventividade dos diretores Ed Bianchi, Andrew Bernstein e Michael Dinner, que conseguem junto ao departamento de arte produzir uma identidade visual grandiosa, que insere o espectador automaticamente no mundo proposto ali.

    Não demora para a qualidade do argumento subir, a partir de Esqueça a Segurança, 4º Episódio, onde os elementos dissonantes, entre religião e descoberta de uma nova cultura produzida pelos negros americanos surge, se valendo do talento e beleza arrebatadoras de Maylene e de seus duas amigas Regina (Shirley Rodriguez) e Yolanda (Stefanée Martin). A estrada para o sucesso seria pavimentada ainda com muitos sacrifícios e concessões, tudo desenvolvido de modo gradual, levando em conta todas as condições e nuances de uma trajetória difícil.

    O núcleo adulto é até bem desenvolvido, em especial nos detalhes da ascensão artística de Mylene e profissional de Zeke, especialmente nos detalhes da rotina do produtor Jackie Moreno (Kevin Corrigan) mas as nuances dramáticas mais fortes moram nos dramas dos meninos, que são obrigados a crescer sob um olhar castrador e conservador, ao mesmo tempo que tem que lidar com as descobertas de uma nova existência, de um novo patamar de desventuras, amores e sonhos.

    The Get Down mistura elementos dissonantes, unindo sentimento, talento, violência, ascensão social e simbolismo tudo com um abordagem absolutamente harmônico, que justifica em si até os exageros dramáticos. A apresentação dos The Get Down Brothers ocorre em paralelo com um comício politico, protagonizado por boa parte do elenco mais velho e por Ezekiel, sendo essa só mais uma mostra que o protagonista transitaria entre esses dois mundos. Mais do que falar sobre a gênese da cultura hip hop, a serie consegue elucubrar sobre alma e sobre a conexão que a arte tem com identidade dos homens e mulheres, ainda que não finde o assunto, uma vez que a temporada só terminará em 2017, em um novo formato testado pela Netflix. Ainda assim, a sensação mais comum ao público é de curiosidade pelo desenrolar de todas as histórias.