Tag: Larry Bird

  • Crítica | Once Brothers

    Crítica | Once Brothers

    De Michael Tolajian, Once Brothers é mais um documentário 30 for 30 da ESPN focado em basquete, mas não focado necessariamente na NBA, e sim na inteiração entre dois ex-companheiros de seleção, Vlade Divac e Drazen Petrovic, de nacionalidade Sérvia e Croácia respectivamente, mas que antes, eram da mesma geração vitoriosa da Iugoslávia no Basquete.

    A narrativa começa a partir da fala de Petrovic, a uma repórter americana, com a Estátua da Liberdade ao fundo, onde ele discorre sobre a preocupação que tem com seus conterrâneos e a guerra que acontece no solo de sua nação, conflito ideológico pesado, e que para ser entendido precisa de muito contexto e estudo, pois a situação da Iugoslávia é complicada, e tem nessa geração de basquete um capítulo diferente, de uma união pessoal e competitiva bem diferenciada e longeva em comparação com a unidade do país.

    Não demora a entrar uma entrevista bem pessoal de Divac, que está almoçando com sua família, nos Estados Unidos, onde lembra do time multi vencedor, o mesmo que com ele, Petrovic e Toni Kucok, foi campeão europeu e até mundial, com ótimos resultados em olimpíadas. Obviamente há um resgate das raízes do mesmo, uma visita a família, e a sua terra, Prijepolje, chegando até a primeira quadra onde ele jogou, a essa altura, coberta de neve por ser uma daquelas a céu aberto. A Iugoslávia ou qualquer uma das nações balcânicas que formaram esse conglomerado dificilmente seriam uma potência no basquetebol caso não houvesse insistência por parte das autoridades.

    Repúblicas de mentalidade socialista tendiam a investir em esportes. A URSS foi um fenômeno, Cuba também tem um bom desempenho até hoje em Pan-Americanos e Olimpíadas, bem como a China. Por ter uma população menor, a Iugoslávia não tinha como ser uma grande potência em tudo, e a geração de Petrovic e Divac o foi no basquete, em uma população que não tem tanta gente alta, e que tem de dividir os potenciais atletas com outros esportes, como futebol, tanto que boa parte dos meninos e meninas disputavam mais de uma modalidade por vez no período da puberdade.

    A evolução do basquete, a variação tática e de posição, que fazia com que a maioria dos jogadores não se prendesse necessariamente a mesma posição – em uma variação em quinteto do carrossel holandês do futebol de 78 com Johan Cruijff e Cia – seria coroado não só com títulos, mas também com um encontro casual, mas que se tornou histórico, com a visita do Boston Celtics tricampeão da NBA ao país europeu, e o encontro entre Larry Bird, um símbolo do basquete vitorioso norte-americano, com aquela geração de jogadores europeus, que viriam para a NBA no final dos anos 80, mesmo que ainda houvesse uma grande desconfiança.

    Eles passariam por muitos percalços até começarem a jogar pelo Los Angeles Lakers (Divac) e Portland Trail Blazzers (Petrovic). Vlade ainda tinha o agravante de ter uma aparência desleixada, sempre aparecia descabelado, mal sabia falar inglês, mas ele estabeleceu uma boa amizade com Magic Johnson, e logo após a aposentadoria de Kareem Abdul-Jabbar, ou seja, ele viria para ocupar a vaga de um dos líderes técnicos do time.

    O filme tem uma abordagem um bocado maniqueísta, e associa de certa forma o drama de Petrovic não se enturmar em Portland, com o episódio durante um dos títulos iugoslavos onde  uma bandeira da Croácia foi lançada na direção de Vlade, que prontamente a recusou, mas o roteiro é honesto o suficiente para afirmar que aquilo foi um erro de interpretação, pois o jogador não desprezava a bandeira ou a causa croata, só achava que aquele não era o momento para explorar isso, mas evidentemente que houve mais foco midiático na pseudo rejeição dele, e no sentimento que Petrovic teve, que gerou inclusive uma cisão entre os antigos amigos.

    Junto com a guerra, com as terríveis perdas de cidadãos comuns, também se foi a amizade entre Vlade e Drazen, e esse é o maior foco dramático do especial, que busca entender como o afastamento dos dois ocorreu, além de discorrer também sobre o agravamento de relação entre eles e Divac, que passou a ser mal encarado por quase todos os croatas, e os poucos que ainda eram simpáticos a ele, tinham que manter distância.

    O fato do documentário ser narrado por Divac enriquece demais a experiência, pois torna o estudo em algo pessoal e emotivo. Mesmo seus maniqueísmos são driblados por um ponto de vista que certamente só poderia ser dado por quem participou disso, ainda que não haja tanta justiça para Vlade diante de seu país de origem.

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  • Crítica | Magic & Bird: A Courtship of Rivals

    Crítica | Magic & Bird: A Courtship of Rivals

    Filme pra TV, da HBO, Magic & Bird: A Courtship of Rivals de Ezra Edelman começa com Larry Bird afirmando que não importa onde ele está, e a ocasião, ele é sempre perguntado onde está Magic Johnson. Das rivalidades do basquete, essa sem dúvida é a mais duradouras e respeitosa, e que fez mais tradição. O longa busca explorar isso, retornando a 1979, numa final NCAA. Os dois atletas, bem promissores estavam lado a lado, competindo de maneira assertiva e já em alto nível, mostrando a historia até o estabelecimento da ligação direta que jamais será quebrada e será levada para o tumulo.

    Narrado por Liev Schreiber, o filme se debruça sobre a infância difícil e pobre de Magic, a época apenas chamado Earvin, em comparação com Bird, que vinha de família um pouco mais abastada, mas também com uma série de restrições financeiras, em Indiana. Johnson afirma novamente que não imaginava ser possível jogar em alto nível, ele queria ser empresário, mas foi surpreendido pelo destino. Fato é que esse mesmo destino fez os dois competidores jogar pela seleção de seu país.

    O documentário tem um bom serviço, de informar não só detalhes da vida dos jogadores, como a limitação física que Bird tinha ao não conseguir pular muito, como também a situação estranha pela qual passava a NBA, que era cada vez mais olhada como uma liga marginalizada, onde usuários de drogas entravam livremente, além do crescente acréscimo de negro nela, fato que aviltava a mentalidade racista dos conservadores americanos.

    Larry recusava a pecha de salvador branco, do Celtics e da NBA como um todo, e é bizarro o choque racial ainda nesses tempos,  pois havia uma rejeição dos jogadores negros a ele – agravada diga-se pela timidez, caladice e falta de esforço físico dele – e intolerância de torcedores caucasianos em verem os negros em quadra, não só pela cor, mas também ao estilo de competição, denominado em inglês como Black Game.

    É incrível como, mesmo após tantos anos, depois de Wilt Chamberlain e Bill Russell, a ideia de Black Game ainda existia, assim como uma forma bem preconceituosa e tosca de enxergar os negros como mais propensos a utilizar drogas, até por isso, Jonhson era visto como radical contra as drogas, até sofrendo com uma pecha de ser Caxias. Bird, por ser menos midiático também não se envolvia muito em polêmcias, mas como Earvin era mais conhecido, ele acaba sendo também, e a rivalidade entre Leste e Oeste fez bem ao basquete nacional – até então, a maiorias das rivalidades eram internos nas conferencias, como as do Philadelphia 76ers e Celtics – mas ainda se apelava demais para a questão racial, esbarrando na mentalidade meio Apartheid que ainda imperava no esporte. O Celtics ainda era encarado como um time de brancos, basicamente porque sua estrela era Larry, mesmo que a maioria dos companheiros de Bird fossem negros.

    O fato de terem se tornado estrelas do esporte tornou os dois atletas ideais para comerciais e propagandas, e o fato disso não ser tão comum para a época. Isso foi uma quebra de paradigma, para o bem e para o mal. Eles passaram a ser julgados como vendidos, ao passo que também tiveram suas marcas elevadas a um enorme nível, viraram alvo de muita discussão, abordados até no filme de Spike Lee, Faça a Coisa Certa.

    A parte que aborda a soropositividade de Johnson é um pouco carregada de emoção, mas isso é melhor abordado em outro filme, da HBO também, O Anúncio (The Announcement), e Larry sentiu uma vontade enorme de falar com seu adversário de quadras, em choque, por isso ter ocorrido com um dos seus. Com o tempo a relação dos dois evoluiu para a camaradagem.

    É justo que os atos finais do filme em homenagem a rivalidade e ao bromance, seja no Dream Team que conquistou o ouro em Barcelona, logo após a primeira aposentadoria de Johnson, onde pela segunda vez pós 78 os antigos inimigos estariam juntos. Se o filme de Edelman é um bocado quadrado e desconstrói pouco o racismo que imperava e impera nos EUA, há sobras de emoção e sentimentalismo, e essa barreira é difícil de romper.

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