Tag: Marlon Wayans

  • Crítica | O Lance do Crime

    Crítica | O Lance do Crime

    Jeff Pollack conduz o longa O Lance do Crime, e seu início traz dois rapazes treinando basquetebol num ambiente nada propicio. Logo se revela uma tragédia que a partir dali mudaria a vida de Shep, personagem de Leon (Leon Robinson na época), que teria seu destino reaberto e abordado mais tarde.

    Kyle Lee (Duane Martin) vem a ser uma promessa do colegial, à espera de uma bolsa de estudos para a faculdade jogando basquetebol, seus jogos pelo Monarch High School Panthers estão sempre lotados, frequentado por toda  sorte de pessoa, inclusive pelo traficante Birdie, interpretado pelo rapper Tupac Shakur que fez todo um trabalho de pesquisa com traficantes reais, mas infelizmente é bem pouco aproveitado aqui. Aos poucos, o destino dos dois se cruzam, graças a presença de personagens secundários que habitam os dois ambientes.

    O filme mostra que o aliciamento de estudantes do ensino médio pode ter relação com outras esferas criminais, e por mais moralista que esse argumento seja, não está tão distante da realidade. Pollack tem como experiência mais conhecida o trabalho de roteirista em séries como Um Maluco no Pedaço, e lá ele não tinha muita necessidade de tratar de maneira complexa os dramas dos jovens negros dos Estados Unidos.

    Há momentos durante a jornada de Kyle verdadeiramente engraçados, especialmente quando ele está junto a Bugaloo (Marlon Wayans), eles eventualmente encontram Shep, já mais velho, como agente policial. Mesmo nas partes que deveriam soar mais cômicas, se percebe um forte drama, como se algo estivesse escondido da ciência do espectador.

    Ao passo que Shep transpira complexidade, graças ao desempenho de Leon, Kyle parece apenas um garoto fútil, soberbo demais para lidar com as responsabilidades. Ele é teimoso, impulsivo, ignora os conselhos e ordens de seu técnico, mas isso tudo é executado de um modo tão caricato que faz perder o peso real dessas situações. O desequilíbrio entre as forças e em como esses dois lados da historia são retratados assusta um pouco, um de maneira silenciosa e cuidadosa, enquanto outro é simplesmente sensacionalista e gritante.

    A trama do campeonato de basquete de rua, que deveria ser o plot principal do longa inteiro só ganha força nos vinte minutos finais, em compensação a relação mentor e pupilo de Shep e Kyle se inicia um pouco antes, compensando um pouco os defeitos de falta de foco na história. As disputas são legais, com muitos lances plásticos, sobretudo de ataque, as infiltrações, enterradas e bandeias reproduzem bem o que é o basquete de rua.

    Os momentos finais de O Lance do Crime mostram uma sequência dramática, mas que soa piegas e desimportante, exatamente por conta do tom meio infantil da abordagem que o diretor impõe. Pollack tenta fazer às vezes de John Singleton, em Os Donos da Rua, ainda que não consiga apresentar nem de longe a mesma complexidade. Seu final ao menos é mais otimista, fato que tira um pouco do caráter de pastiche e de primo pobre desta outra obra, cujos maiores acertos moram na demonstração das partidas, e não em sua face dramática.

  • Crítica | O Sexto Homem

    Crítica | O Sexto Homem

    Produção da Touchstone, a versão do estúdio  Disney que lançava filmes que não cabiam tão bem na sua divisão comum de filmes, O Sexto Homem é uma obra que usa o esporte do basquete como pano de fundo para sua historia engraçada e dramática. O inicio do filme de Randall Miller mostra James Tyler (Harold Sylvester), pai dos pequenos Kenny e Antoine assistindo um jogo mirim de basquete, onde um dos meninos tem medo de arriscar um chute embaixo do garrafão, basicamente por insegurança.

    Kenny e Antoine Tyler crescem, se tornam Marlon Wayans e Kadeem Hardison, e viram promessas de craques, que jogam juntos no Washington Huskies, já sem a companhia de seu pai, que faleceu nesse meio tempo. Os dois permanecem são bem unidos e mantém vivo o sonho de seu pai. Em um jogo decisivo da temporada universitário, Ant após enterrar uma bola, cai no chão e sofre um ataque cardíaco, falecendo e causando em Wayans uma reação emocional diferente das que normalmente o humorista faz, mostrando uma faceta mais séria e sentimental do mesmo, isso um pouco antes de Sem Sentido, filme que o marcaria basicamente como um sujeito engraçado e com capacidades de interpretação bem limitada.

    Coisas estranhas passam a acontecer, na quadra dos Huskies, bolas somem, o jogo de Kenny melhora mesmo ele estando extremamente mal e depressivo após a despedida do irmão, e então o filme mostra uma ação sobrenatural tosca e ao mesmo tempo engraçada, mesmo quando apela para o besteirol. Sem muitos motivos ou consequências graves, Ant retorna para “assombrar” seu irmão, e começa a ajudar ele, sobretudo na hora dos jogos, e o filme vira um autêntico longa dos irmãos Wayans (aliás, Shawn Wayans quase fez Antoine nesse filme), dando vazão a piadas físicas terríveis, com direito a gente voando, perucas de comentaristas se levantando sozinhas, e bloqueios e faltas cometidas pelo fantasma.

    A partir daí o filme se perde bastante, há muito espaço para piadas sobre tamanho de pênis, ou interferências do irmão no encontro do outro. O cúmulo é quando Antoine entra na bola de basquete, que ganha olhos, boca e fala. No entanto o que faz pouco ou nenhum sentido é que quando era vivo, Ant era muito mais discreto e menos imaturo do que prova ser no além vida, e aqui o roteiro de Christopher Reed e Cynthia Carle basicamente serve para Marlon agir como um perfeito imbecil, que se molha com a água de seu copo.

    Mesmo as reclamações do time, de que antes de Antoine morrer ele era individualista e egoísta não fazem muito sentido, embora ele seja claramente mais vaidoso que o caçula. Os momentos em que ele realmente parece isso, vem da infância, quando Kevin era inseguro demais para se arriscar nos chutes. O final dele é bastante piegas, a exemplo de toda a exploração temática, e há pouco de positivo neste O Sexto Homem, exceto é claro pelo início, que é mais sério, e essa mudança de gênero é esquisitíssima, não há muita lógica nisso, e foi um dos primeiros filmes besteirol envolvendo alguns dos Wayans, que piorariam muito dali para frente.

    https://www.youtube.com/watch?v=5p7Hg2nOY40

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  • Crítica | Inatividade Paranormal 2

    Crítica | Inatividade Paranormal 2

    Ao contrário do que ocorria na outra saga paródica em que Marlon Wayans estava envolvido – Todo Mundo em Pânico – o começo do segundo filme de Michael Tiddes inicia-se após um acidente, que teria ocorrido logo após os acontecimentos mostrados nos instantes finais de Inatividade Paranormal, unicamente para ter todo o plot abandonado, minutos após, com um chancela de “passado um ano depois”. Malcolm (Wayans) aparece em outra vizinhança, capitaneando um família branca, novamente com seus registros videográficos engraçadinhos.

    O fato de Jaime Pressly interpretar Megan é somente um pretexto para existir uma gama cada vez mais crescente de piadas raciais, reforçando estereótipos que só não são mais incômodos do que o over-action de Wayans. São momentos de puro constrangimento, seja nos lamentos pela morte de seu cão, seja nas brincadeiras sexuais com uma versão de Annabelle que reprisa cenas do primeiro filme. Demonstra-se, assim, que o ineditismo passa longe da obra, pois não seria somente o formato que coincidiria, mas também algumas das piadas.

    Logo, o roteiro de Wayans e Ricky Alvarez trata de inserir as inconfidências de Malcolm como catalizadores dos fantasmas que voltam a assombrá-lo, inserindo cenas em que ele literalmente explica os motivos de ter mais câmeras pela casa, para, caso algum dos espectadores não tenha notado, fazer perceber que, naquele momento, tudo está lá, direitinho. As paródias com Invocação do Mal revelam uma verdadeira obsessão com os filmes de James Wan, uma vez que Sobrenatural foi um dos principais alvos de paródia do primeiro filme.

    Os fantasmas emocionais do passado do protagonista retornam através de sequências fracas, cujo humor é de baixo nível mesmo para os acostumados a paródias de humor rasgado e a piadas com flatulências. Todas as desculpas possíveis para que os atores do primeiro filme retornem são utilizadas, cada uma com a sua justificativa esdrúxula, tendo em nenhuma delas o necessário para proporcionar um momento realmente hilariante.

    As cenas que focam monólogos são excessivas e até garantiriam alguma graça ao filme, caso as piadas fossem melhor pensadas. O freak show é ainda repleto de piadas racistas, especialmente as protagonizadas por Cedric the Entertainer. A fita não consegue acertar nem quando repete os mesmos elementos dos filmes mais antigos dos irmãos Wayans, nem as caretas de Marlon, tampouco as cenas da refilmagem dos momentos clássicos dos filmes de terror são bem filmadas. A falta de originalidade do roteiro – algo já esperado – consegue atormentar menos o público do que o péssimo modo de filmar de Tiddes.

    O temor pelos dias que virão se agrava, com o gancho, mostrado ao final do filme, cometendo um autoplágio tão desnecessário quanto a duração dos dois filmes até agora realizados pelo time Wayans/Alvarez/Tiddes. O preocupante é que filmes como este ainda possuem um público cativo, o que chama a atenção para o estado de saúde mental da população mundial.

  • Crítica | Matadores de Velhinha (2004)

    Crítica | Matadores de Velhinha (2004)

    74 - The Ladykillers (Matadores de Velhinha)

    Um grande problema dos grandes artistas é que sempre após uma grande obra, as atenções se voltam para a próxima com a inevitável comparação de qualidade entre ambas. Desde fins dos anos 80, os Coen se mantiveram em produções de altíssimo nível, mesmo em gêneros diferentes. Porém, no início dos anos 2000, a famosa crise parece ter chegado, dando sinal de esgotamento em “O Amor Custa Caro” e comprovando isso definitivamente agora com Matadores de Velhinha.

    Adaptação de um filme de 1955, aqui traduzido como “O Quinteto da Morte”, a história gira em torno do professor Goldthwait Higginson Dorr (Tom Hanks), arquiteto de um grande plano para assaltar um cassino. Ele aluga um quarto na casa da senhora Munson (Irma P. Hall), uma simpática velhinha, onde convoca seus comparsas para o plano de ação, que era o de disfarçar o ato transformando o grupo de ladrões em um conjunto musical. A situação se complica quando a senhora Munson descobre o plano, o que faz com que os ladrões tenham de alterar os planos várias vezes, até chegarem a conclusão que deveriam matá-la.

    Caracterizado novamente no sul dos EUA, o filme dá espaço a toda a musicalidade negra, assim como em “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?”, porém, na música gospel, com toda a energia característica dos cultos evangélicos daquela região. Também há no filme as características clássicas dos Coen, como o humor negro (porém, aqui um pouco gratuito e deslocado), os erros que avançam a história e os estereótipos clássicos, porém, o elenco dessa vez não ajuda muito. Se antes tínhamos Frances McDormand, agora temos o irritante e previsível Marlon Wayans, trazendo o lado negativo dos estereótipos, ao contrário daqueles que favorecem a história e familiarizam o espectador com o ambiente, como a personagem da sra. Munson.

    Apesar de ter um arco fechado, a história passa sem que envolva o espectador nela. O filme é plano em todos os aspectos e não consegue sensibilizar. Apesar de garantir uma ou duas risadas por conta da boa atuação de Tom Hanks, a tentativa um tanto quanto rasteira de se apelar ao humor de “tipos” garante mais olhadas no relógio do que diversão, na curta duração do filme (apenas 1h36). O filme também falha na tentativa propositadamente simples de emplacar uma discussão moral a respeito de justificar um roubo se ele fosse para uma causa nobre, onde a incorruptível sra. Munson não cai na tentação e no argumento dos fins justificam os meios do prof. Dorr.

    Tecnicamente, o filme é primoroso, como tudo o que os Coen fazem. Tanto os planos milimetricamente encaixados quanto os diálogos quase ininteligíveis e rápidos para os não fluentes em inglês. O destaque dado à música gospel também é louvável, pois dá um vigor a mais em uma narrativa lisa e com poucas emoções.

    Ninguém discorda da capacidade dos Coen de produzir grandes obras cinematográficas, de apresentar e desenvolver personagens das mais variadas formas, de estabelecer tramas, simples e complexas, que envolvem o espectador de maneira inteligente e tudo isso de forma comercialmente viável, o que a indústria adora. Mas também poucos discordam que Matadores de Velhinha é provavelmente o ponto mais baixo da genial carreira dos diretores/roteiristas/produtores.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Inatividade Paranormal

    Crítica | Inatividade Paranormal

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    Populares na década de oitenta, principalmente por causa de David Zucker com Apertem Os Cintos… O Piloto Sumiu e Corra Que a Polícia Vem Aí, a comédia pastelão sempre foi um subgênero do humor que baseava-se em histórias anteriores para produzir o riso.

    A grande demanda de Terror na década de noventa gerou Todo Mundo em Pânico, uma comédia dos irmãos Wayans que satirizava uma quantidade vasta de filmes de assassinos e, até hoje, se mantém com suas continuações (a quinta delas, com Charlie Sheen no elenco, tem sido apontada como uma das piores produções deste ano).

    Retomando as sátiras de terror, Marlon Wayans roteirizou, ao lado de Rick Alvarez (produtor de outros filmes do Wayans como As Branquelas e O Pequenino), Inatividade Paranormal. Uma sátira dos filmes mais recentes do gênero, hoje calcados em espíritos, exorcismos e no baixo orçamento de  filmes produzidos com a câmera na mão.

    Se o primeiro Todo Mundo em Pânico fazia rir por certo ineditismo, pelo retorno de um tipo de humor escrachado que não se via na época, o mesmo não pode se dizer desta produção. Na trama, filmada em estilo documental com câmera na mão, Malcolm anuncia ao público que dividirá a casa com a namorada, Keisha, sem saber que, além dela, um espírito será também um novo morador.

    É o cenário ideal para que surjam diferentes tipos rasteiros de piadas como repetição de escatologias, diversas insinuações sexuais e uma ou outra piada que, pela entonação dos atores, pode gerar certo riso. Afinal, é quase impossível que em uma hora e meia de piadas não haja uma que produza ao menos um risinho frouxo.

    Como elemento comum nos filmes de sátira, o roteiro se desdobra pela paródia, enumerando cenas que representam filmes diversos. De Atividade Paranormal a trama se transforma na possessão de A Filha do Mal, outra produção em estilo documental. E prossegue pulando de referência em referência, exagerando em piadas sobre cheiros e fluidos corporais, estimulos sexuais e outras piadas que devem ter um público, já que há uma continuação anunciada.

    Pode-se considerar a tentativa de Marlon Wayans em tentar produzir um filme tão significativo quanto foi Todo Mundo Em Pânico. Mas, justamente pela popularização desta obra, tantas outras paródias pastelões surgiram – como Espartalhões, Saga Molusco: Anoitecer, que não há mais espaço nem criatividade para se produzir um filme no estilo sem soar mal feito, caindo no pior defeito que uma comédia pode ter: não fazer rir.