Tag: Patricia Niedermeier

  • Crítica | Reviver

    Crítica | Reviver

    Produção carioca maranhense, Reviver é o segundo capítulo da saga Filmes de Viagem, que Cavi Borges e Patricia Niedermaier comandam, lançado após Salto no Vazio como esforço metalinguístico e poético, que elucubra sobre a vida e os sentimentos inerentes a ela.

    O filme começa com uma narração nonsense acompanhado de  uma imagem de Patricia em uma tela amarela, que remete ao fogo que está presente na fala do homem que profere as palavras dramáticas. O modo como a história se desenrola une elementos líricos e simples, e isso se verifica não só nas cenas com câmera na mão, acompanhadas basicamente por uma música instrumental carregada de mistério, mas também pela figura de Jorge Caetano, que vive um roteirista, que passa boa parte do seu tempo entre cadernos, livros e fitas com áudios gravados, distante demais da modernidade. Em seus momentos de relaxamento, ele se vê fazendo isso, em outros em que trabalha, ele usa um computador moderno, mas ele só parece a vontade quando está longe de toda sorte de parafernalha eletrônica.

    Apesar de ter mais personagens que o anterior, Reviver parece ter sido menos pensado e elaborado que Salto no Vazio, sua contemplação se exacerba, para o bem, investindo bastante em poesia dramática, mas também para o mal, parecendo despropositado em muitos momentos. Sente-se falta também de uma exploração maior das paisagens, o máximo que aparece em tela são algumas praias maranhenses, mas não há um aprofundamento desse cenário.

    Aspectos técnicos como montagem e fotografia são bem econômicos, não se sobressaem nem para o bem e nem para o mal, deixando o protagonismo da obra nas mãos  do elenco e do texto. Os atores estão bem, na maior parte dos momentos, mas o script parece um pouco apressado, dando a franca sensação de que foi feito de maneira apressada.

    Talvez por conta das transições bruscas entre os momentos com Niedermaier e Caetano, o longa soa um pouco frio, e anti natural, sobretudo na parte que engloba o segundo personagem citado. O contador de histórias é um homem aflito, mas seu drama não é tão palpável, nem mesmo quando fala-se da questão terrível para o artista que é o bloqueio criativo. Ainda assim, Reviver tem seus bons momentos, principalmente quando sua diretora está em cena, transparecendo a poesia que o restante da historia não consegue.

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  • Crítica | Salto no Vazio

    Crítica | Salto no Vazio

    Parceria na direção entre Cavi Borges e atriz Patricia Niedermeier, Salto no Vazio é um registro cinematográfico que faz vezes de ensaio fílmico, começando com cenas de extrema intimidade entre os diretores. A primeira cena de fato é a de um beijo entre os apaixonados, acompanhado de uma poesia, dita em off pela própria Patricia, onde se nota muita paixão em sua voz.

    As viagens do casal de artistas servem como cenário para as falas de amor entre eles, pontuadas pela voz e/ou pelas imagens de Patricia se declarando de corpo e alma para o amor que promete ao seu par. É incrível como a forma e as falas do filme são simples e belas, combinando de uma maneira que só faria sentido realmente para a platéia que já desfrutou de um sentimento tão terno e puro quanto é o amor e a paixão.

    As partes mais acertadas são as recitadas por Niedermeier e pelo ator Alexandre Varella, e incrivelmente o filme tem um ritmo muito bom, não fica enfadonho ou desinteressante, ao contrário, o espectador se sente preso a história mostrada nos pouco mais de 60 minutos desta obra.

    Salto no Vazio tem um início um pouco superior ao seu final, mas consegue atingir um patamar de obra poética poucas vezes em filmes tão herméticos quanto o subgênero de filmes ensaísticos. É o capítulo um da Trilogia Filmes de Viagem mas independente de ser parte de uma série de longas ele funciona muito bem como obra solo, sendo bastante autossuficiente dentro da ideia de romantizar a saudade e a falta que um par faz ao outro.

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  • Crítica | O Que Seria Desse Mundo Sem Paixão?

    Crítica | O Que Seria Desse Mundo Sem Paixão?

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    Após um filme de qualidade e temática controversa – Introdução à Música do Sangue – o diretor Luiz Carlos Lacerda, decide dedicar seu tempo e trabalho para discutir uma situação fantasiosa envolvendo o encontro dos fantasmas dos escritores Lúcio Cardoso (Armando Babaioff) e Murilo Mendes (Saulo Arcoverde).

    As aparições variam entre o fantasmagórico e a paródia involuntária, já que a maioria das performances não é bem construída, não por culpa dos atores, uma vez que há participações de Tonico Pereira, Paula Burlamaqui, entre outros, ou seja, artistas consagrados por ótimas atuações em trabalhos anteriores. A questão principal se dá na direção pouco inspirada dentro das esquetes propostas.

    Os assombramentos que alguns personagens fazem a Murilo e Lúcio dialogam perfeitamente com o assombrar que ocorre com o público que tem o terror de consumir o texto fraco de O Que Seria Desse Mundo Sem Paixão?. A tentativa de ser poético não funciona, pelo contrário, os diálogos transbordam banalidade e didatismo, quando não são acompanhados por uma narração que pouco acrescenta ao roteiro.

    A performance de Patrícia Niedermeier destoa do todo, exatamente por alcançar tudo o que o filme não consegue, que é inspiração e combinação de atuação com o texto dito. Sua participação torna-se um desperdício em meio a um produto que é trôpego. As partes mais interessantes são os links com o cinema dos outros e não com os de Lacerda. A falta de naturalidade e fluidez compromete a suspensão de descrença do público.

    Outro fator positivo é a personagem de Natália Lage, que está deslumbrante ao trabalhar como uma mulher cambaleante e empática, arrebatadora em sua condição de extrema humanidade. No entanto, essa é mais um ponto fora da curva, como mais um acerto em meio a um gigante volume de erros.

    Lacerda é um diretor que ficou conhecido por suas participações como assistente de Nelson Pereira dos SantosRuy Guerra, e seus maiores méritos foram com filmes documentais. Ainda assim nos momentos que misturam ficção com alguma realidade as sequências são risíveis, principalmente a que põe frente à frente um dos escritores entrevistado por um crítico de cinema famoso. A cena é pensada com boas intenções, mas a execução é complicada e toda a composição soa equivocada, causando risos ao invés de emocionar por inspiração e reverência, sendo essa a o resumo da qualidade de O Que Seria Desse Mundo Sem Paixão? especialmente em suas complicações e extrema pretensão.

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  • Crítica | Um Filme Francês

    Crítica | Um Filme Francês

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    Após um período trabalhando como co-diretor, Cavi Borges volta para a direção solo em seu Um Filme Francês, longa-metragem que finalmente encontra exibição no circuito brasileiro de cinema – seguido do recente Dois Casamentos, de Luiz Rosemberg Filho, também produzido pela Cavídeo. O roteiro de Cavi evoca as sensações típicas de um cinéfilo, apresentando uma história que mistura aspectos muito pessoais, enquanto amante do cinema, abarcando a universalidade de quem tem no ato de consumir filmes um vício constante.

    A fotografia em preto e branco faz referências óbvias ao cinema de Jean Luc Godard, fazendo dele e de sua Novelle Vague o ponto alto de influência no argumento, além de simbolizar um marco de reverência dentro do ideário de seu diretor. As semelhanças com Acossado também são vistas dentro dos arquétipos físicos do trio de protagonistas Cleo (Patricia Nidermeier), Michel (Erom Cordeiro) e Patrícia (Juliana Terra) que, reunidos, começam a planejar um script, discutindo ideias a partir do mero acaso, seguido por uma filmagem que mescla ideias ainda brutas e muito improviso, em uma prática ensaísta a qual remete a um tipo de cinema tristemente ignorado  pelo público e especialmente pela indústria.

    Um Filme Francês passa a sensação de uma ode à sétima arte, se valendo apenas do talento dramatúrgico, da engenhosidade de quem carrega a câmera e da volúpia por contar uma história com imagens, ainda que os recursos para fazê-lo sejam bastante escassos, como era na época mais romântica do cinema.

    As conversas e diálogos quase não têm significado além das alusões ao amor pela película e o fanatismo pelo celuloide. Nos pequenos detalhes filmados, nota-se uma entrega dos personagens à execução artística e seus derivados. É interessante notar que o mesmo mote utilizado por Borges em Mateus, O Balconista é reinventado em Um Filme Francês, ainda que o foco seja o cinema alternativo, dito preconceituosamente como “de arte”. A evolução do cineasta se percebe no tom mais sério e no claro amadurecimento na abordagem do tema.

    A nudez e exploração do feminino são feitas e um modo delicado, sexualizado mas não comum, fugindo da pecha de sensualidade sem vulgarização. As curvas de Terra e Nidermeier são exploradas muito além das coxas, nádegas, seios e afins; os detalhes flagrados pela câmera têm um tom poético valorizando pessoas reais. Apesar de se enquadrarem nos padrões de beleza normativos, também possuem imperfeições físicas, não necessitando em se encaixar em neuras comuns da vida adulta.

    O filme dentro do filme, Um Segundo, tem sua produção mostrada em detalhes mínimos, com todo o processo de brainstorm, captação e montagem analisados e bastante criticados. O comentário metalinguístico tem muito de Truffaut e dos outros mestres da Nouvelle Vague, e a extensão desta influência passa também pela percepção de quem assiste ao primeiro corte do trabalho de Cleo. O conjunto de sensações resulta em uma grande noite de gala, no Cine Odeon, o bravo sobrevivente dentre os cinemas de rua da Cinelândia, que resulta em mais uma das muitas homenagens ao cenário cênico tradicional carioca.

    Tudo em Um Filme Francês possui um significado, desde os maiores e mais emblemáticos, até os mais modestos. Este aspecto remete ao emular da vida, o que deveria ser o principal papel do cinema, tantas vezes esquecido pelos cineastas. O fim, de análise do trabalho alheio, serve de ponte com o público, utilizando o ato de analisar e replicar um filme como exercício profundo, um papel poucas vezes valorizado no cenário audiovisual brasileiro, que ganha uma bela homenagem no longa de Cavi.

  • Crítica | Dois Casamentos

    Crítica | Dois Casamentos

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    Após uma carreira vasta e um hiato de quase 20 anos, Luiz Rosemberg Filho vai retomando sua carreira de realizador, após três filmes de temática interessante – Desertos, Trabalho e Linguagem. Sua tônica de cinema remete ao expressionismo ligado à produção teatral em Dois Casamentos, protagonizado pelas atrizes Ana Abbott, que faz Jandira, e Patricia Niedermeier, intérprete de Carminha. Ambas são mulheres à espera de subir ao altar, e passam a discutir as vicissitudes da humanidade e, claro, das obrigações do matrimônio.

    O texto de Rosemberg resgata a fina ironia de seu antigo América e o Sexo, atualizando-o para uma nova plateia e para os inerentes acontecimentos ligados à rotina: o tédio, a hipocrisia social e, claro, a falta de interesse e tesão. Carminha acaba por tornar-se uma figura semelhante a mentora, para Jandira, graças à compleição de mulher madura e sua experiência.

    Temas como homossexualidade feminina são debatidas de modo franco por personagens que, a priori, têm na base de sua moral o conservadorismo – talvez até com um bocado de machismo – em cada palavra presa na garganta, especialmente da moça de cabelos ruivos cujo maior sonho é construir uma família, ainda que pobre, fortalecendo um argumento arcaico, tradicional e envelhecido.

    A câmera transita pelo cenário escurecido, focando as duas figuras femininas, que usam seus diálogos para desconstruir uma quantidade exorbitante de aspectos do status quo, sob um modo dramatúrgico que vai na contramão da mesmice típica das telenovelas mencionada nas falas de Niedermeier, em um misto de opinião forte com comentário metalinguístico, especialmente por causa do background da prolífica atriz.

    O diretor consegue imprimir um lirismo visual ímpar, graças à ótima performance da dupla de atrizes, que exalam qualidade e química mútua, fruto de um intenso trabalho de corpo e ensaio. O intimismo e as falas francas compensam o quase silêncio da trilha, que só aparece quando não há diálogos ou monólogos. Ao contrário do que o estereótipo possa sugerir, a métrica do filme é excitante, especialmente por se tratar de uma crônica sobre o abandono, contrapondo a falsidade do discurso belo e irreal programado em nome do bem estar social inalcançável, ao menos em vias sentimentais normativas.

    Os gemidos no escuro da tela remetem a uma liberdade que não é vista atualmente, especialmente no cenário cada vez mais reacionário protagonizado no Brasil, contraponto com a crescente necessidade de assumirem-se os direitos dos secularmente excluídos. O aspecto mais interessante de Dois Casamentos é que seu texto faz eco com tantas situações, mas não panfleta em nome de nenhuma das desigualdades mostradas no argumento, pelo contrário, apresenta tudo sob uma ótica emocional e repleta de simbolismo, dando margem para essas e outras tantas interpretações sensitivas.