Tag: Armando Babaioff

  • Crítica | Homem Livre

    Crítica | Homem Livre

    O começo de Homem Livre é estranho. Helio (Armando Babaioff) chega em uma casa escondido no porta malas, e é levado para dentro de um local escuro. Trata-se de uma igreja, um lugar que serve como reabilitação, onde ele passa os dias refletindo sobre a Bíblia a fim de esquecer um pouco sobre seu passado. Ele foi um roqueiro famoso, mas passou muito tempo na cadeia, e ouve do Pastor Gileno Maia (Flavio Bauraqui), um homem muito solícito e atencioso, tão munido dessas duas características que soa até falso. Helio está o tempo inteiro tenso. Parece preocupado com algo, assombrado por um som estranho, mas que não revela sua origem. Entre os terrores noturnos, ele vê a imagem de uma mulher estranha e fantasmagórica, que provavelmente tem relação com o crime que o levou a cumprir pena.

    O personagem não tem muitos afazeres e o fato de não ter com o que ocupar o tempo faz aumentar a paranoia. É curioso como apesar do roteiro de Pedro Perazzo tratar com cinismo os ritos evangélicos, também leva em conta o ditado “cabeça vazia, oficina do diabo”. Eventos estranhos acontecem.

    O filme de Alvaro Furloni tem todo um clima de suspense que parece ter um potencial grande, mas ao longo dos 81 minutos mesmo as paranoias do personagem parecem vazias tanto de razão e significado, quanto em perigo real. A relação que ele tem com a jovem Jamily (Thuany Andrade) carece completamente de química ou algo que o valha, e pouco se gera curiosidade nas causas da culpa de Helio assim como nas consequências dos seus atos pós-libertação do cárcere.

    Apesar de subverter as expectativas, ao menos em um ponto Homem Livre acerta, que é na demonstração de como o homem pode ficar perdido e sem referencial, ainda mais depois de passar uma vivência traumática como normalmente se reclama ao falar do sistema penitenciário brasileiro, mas ainda assim, este comentário não encaixa tão bem com todo o resto do espírito do filme, que carece de um entendimento sobre o que realmente quer passar ao público.

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  • Crítica | O Que Seria Desse Mundo Sem Paixão?

    Crítica | O Que Seria Desse Mundo Sem Paixão?

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    Após um filme de qualidade e temática controversa – Introdução à Música do Sangue – o diretor Luiz Carlos Lacerda, decide dedicar seu tempo e trabalho para discutir uma situação fantasiosa envolvendo o encontro dos fantasmas dos escritores Lúcio Cardoso (Armando Babaioff) e Murilo Mendes (Saulo Arcoverde).

    As aparições variam entre o fantasmagórico e a paródia involuntária, já que a maioria das performances não é bem construída, não por culpa dos atores, uma vez que há participações de Tonico Pereira, Paula Burlamaqui, entre outros, ou seja, artistas consagrados por ótimas atuações em trabalhos anteriores. A questão principal se dá na direção pouco inspirada dentro das esquetes propostas.

    Os assombramentos que alguns personagens fazem a Murilo e Lúcio dialogam perfeitamente com o assombrar que ocorre com o público que tem o terror de consumir o texto fraco de O Que Seria Desse Mundo Sem Paixão?. A tentativa de ser poético não funciona, pelo contrário, os diálogos transbordam banalidade e didatismo, quando não são acompanhados por uma narração que pouco acrescenta ao roteiro.

    A performance de Patrícia Niedermeier destoa do todo, exatamente por alcançar tudo o que o filme não consegue, que é inspiração e combinação de atuação com o texto dito. Sua participação torna-se um desperdício em meio a um produto que é trôpego. As partes mais interessantes são os links com o cinema dos outros e não com os de Lacerda. A falta de naturalidade e fluidez compromete a suspensão de descrença do público.

    Outro fator positivo é a personagem de Natália Lage, que está deslumbrante ao trabalhar como uma mulher cambaleante e empática, arrebatadora em sua condição de extrema humanidade. No entanto, essa é mais um ponto fora da curva, como mais um acerto em meio a um gigante volume de erros.

    Lacerda é um diretor que ficou conhecido por suas participações como assistente de Nelson Pereira dos SantosRuy Guerra, e seus maiores méritos foram com filmes documentais. Ainda assim nos momentos que misturam ficção com alguma realidade as sequências são risíveis, principalmente a que põe frente à frente um dos escritores entrevistado por um crítico de cinema famoso. A cena é pensada com boas intenções, mas a execução é complicada e toda a composição soa equivocada, causando risos ao invés de emocionar por inspiração e reverência, sendo essa a o resumo da qualidade de O Que Seria Desse Mundo Sem Paixão? especialmente em suas complicações e extrema pretensão.

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  • Crítica | Introdução à Música do Sangue

    Crítica | Introdução à Música do Sangue

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    Filme que deveria ser o retorno das atuações de Ney Latorraca aos holofotes cinematográficos, Introdução à Música do Sangue é o novo longa de Luis Carlos Lacerda, inspirado no texto de Lúcio Cardoso. Seu começo é em um ambiente campestre, bucólico como a rotina na fazenda, e silencioso exceto pelos sons típicos da natureza. Os detalhes são dados em maior parte no serviço doméstico da jovem Maria Isabel (Greta Antoine), que obedece calada e desanimada às ordens de sua mãe, interpretada por Bete Mendes.

    A falta de assunto e o tédio são tão gritantes, que até a chegada de luz nas terras é um evento digno de falas repetitivas, que claramente enfadam Uriel (Latorraca). O surgimento de um novo capataz, Chico (Armando Babaioff) muda o panorama  familiar com seu carisma, causando furor e ciúmes dentro do núcleo familiar.

    O deslumbramento de Isabel se dá não só pelos encantos do moço novo, mas também por qualquer detalhe mais elaborado da rotina dos seus. Mesmo a demonstração da louçaria é um evento digno de estupefação e novidade. Esse mesmo vazio de lembranças acompanha a geração anterior, o que dá margem a duas possibilidades: considerar que  todos têm problemas sérios de ordem mental; ou esquecimento por parte dos roteiristas que construíram o texto confuso. O arremedo de cenas inúteis se avoluma durante o longa-metragem, o que incomoda e faz perder a força das questões graves, como a supressão da sexualidade masculina na velha idade, e as insinuações incestuosas muito presentes na ideia do romancista.

    A metade final perde-se em meio ao texto, misturando diálogos mal orquestrados e artificiais, com contradições em relação às alcunhas familiares, basicamente aludindo a confusão sobre a filiação de Isabel. A nebulosa origem da moça rivaliza em banalidade com o passado negro  e infiel de Uriel, que causou na esposa o asco ao sexo. Não há apelo nenhum que desperte interesse pelas situações vividas, talvez somente chamando a atenção para a nudez de Antoine e Babaioff, ainda que passe longe da perfeição, já que não existe química entre a dupla.

    Lacerda tenta dar importância às suas cenas, pondo de frente passado e presente do clã, mas não há por onde explorar conteúdo, sequer dentro da óbvia alegoria de os erros do passado estarem se repetindo no presente. Copiar a fórmula de um filme intimista não é fácil, principalmente quando os fatores que preconizam o sucesso da empreitada não são igualmente repetidos a partir dos bem-sucedidos. O texto, as atuações, o histrionismo e a tentativa de realizar uma cena de conteúdo explicitamente violento, mas sem tratar o drama com esmero, pesa demais nos últimos atos dos personagens, completamente deslocados, piorados pelas péssimas performances, o que inclui até a atuação de Latorraca. Introdução à Música do Sangue carece de sentido, tanto na trama mostrada, quanto na necessidade em dar luz a uma fita tão problemática.