Tag: Paulinho Serra

  • Crítica | Divórcio

    Crítica | Divórcio

    Pedro Amorim é um diretor cujo cinema normalmente é sinônimo de comédia. Seus mais recentes trabalhos são Mato sem Cachorro e Superpai, duas comédias sem nada de muito especial, mas que tinham dentro de si alguma inteligência e sofisticação. Eis que finalmente chega em suas mãos uma ideia que poderia gerar um filme carismático e engraçado, e esse é Divórcio, protagonizado por Murilo Benício e Camila Morgado, que vivem o casal Júlio e Noeli, donos de uma marca famosa de molho de tomate, que claramente caíram na rotina mas que ainda guardam um amor intenso apesar dos anos de convivência.

    O ponto de partida do argumento de LG Tubaldini Jr. é a declaração de amor do sujeito pela moça, quando ambos eram muito novos e tinham toda a vida pela frente. O destino tratou de os unir e eles fizeram fortuna sem qualquer chance de ocorrer isso. No entanto, como era de se esperar, a rotina chega para o casal e isso é mostrado com maestria através do desempenho de Benício e Morgado, de uma forma bem diferente de Bem Casados.

    O filme apela para piadas locais. Seu estabelecimento na cidade de Ribeirão Preto facilita a proximidade com a cena do sertanejo universitário, que vez por outra serve de chacota e inspiração para os personagens viverem seus dilemas. Aliás a versão de Paula Fernandes de Evidências pontua bem o início e o fim da trama, servindo como a trilha preferida de uma dupla de enamorados que insistem em se manter distantes.

    As consequências da separação são ensaiadas e ambos colocam para fora toda a raiva e frustração encruada e escondida por anos de relação em que claramente o foco não era a resolução de seus problemas. Os infortúnios e desgraças que ocorrem com ambos tratam de provar o que sentem de fato um pelo outro e o quão inevitável é esse conjunto de sensações entre a dupla.

    Apesar do roteiro não ser exatamente primoroso, há uma ironia muito fina no texto final, que faz lembrar outro produto brasileiro de gênero completamente diferente, que é A Frente Fria Que a Chuva Traz, no sentido de se debochar do homem médio e rico brasileiro, mostrando o quão fúteis e desinteressantes são seus pensamentos e atitudes. A comédia não apela para eventos físicos, ao menos não demasiadamente, e é tão sacana quanto deveria ser Ninguém Entra, Ninguém Sai, por exemplo.

    Os sotaques que pareciam extremamente forçados no trailer soam naturais em meio a trama do longa e há algumas participações especiais bem espirituosas, como a de Paulinho Serra, que mesmo com pouquíssimo tempo de tela, rouba a cena com seus diálogos e piadas rasgadas. As piadas feitas com o estigma de cidade interiorana, onde todos se conhecem ajudam a formar uma identidade própria para Divórcio, o que já o deixa muito à frente da concorrência em humor nacional, uma vez que ele foge do usual e do genérico, ao menos no seu modo de contar sua história.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Internet: O Filme

    Crítica | Internet: O Filme

    Exposição boba e vaidosa de sub celebridades da internet brasileira disfarçada de filme mashup – ou cinema de esquetes Internet: O Filme é o filme de estreia em longa duração Filippo Capuzi Lapietra, especialista em produtos de duração curta. A trama mostra oito situações distintas, que tem em comum a convenção de youtubers chamado Webmett, que ocorre em um hotel de luxo.

    As esquetes tem um conteúdo diferente para cada uma, algumas vezes levando em conta o conteúdo dos tais canais referenciados, em especial com Julio Cocielo (Canal Canalha) e Igão Underground, mas eventualmente trata de situações que nada tem a ver com o dito pelos trabalhos os presentes no elenco, em especial, Felipe Castanhari, que não ocorre em quase nada relacionado a nostalgia. Há uma bagunça geral no plots tencionados.

    O texto é de Rafinha Bastos, Dani Garuti e Mirna Nogueira abusa de piadas fracas e óbvias, desde cantadas datadas até diálogos que fazem lembrar o humor de Zorra Total e A Praça é Nossa, até tentativas tolas de lição de moral por quem claramente não está dentro do ambiente da internet. Há um desnecessário uso de pseudônimos por parte dos personagens, já que a maioria do elenco interpreta a si mesmo, praticamente.

    As situações mostradas em tela são degradantes, variando entre momentos constrangedores para cada uma das pessoas ali retratadas, misturando com citações banais do idioma internetês repleto de neologismos que abundam nas redes sociais. O único núcleo que de fato funciona é o entre Cesinha Matos (Rafinha) e seu stalker, Adagalmir (Paulinho Serra), que são exatamente os mais experientes em matéria de cinema e televisão. A mistura de gerações de geradores de conteúdo soa forçada e mesmo algumas participações que fazem rir destoam do todo, especialmente de Cauê Moura, próxima do fim do filme.

    O filme é basicamente uma reunião boba de celebridades de brilho solo discutível, excluindo claro Kéfera e Porta dos Fundos que conseguiram protagonizar seus próprios filmes (É Fada! e Contrato Vitalício). Mesmo as tomadas que Laprieta tenta usar para inovar soam frívolas e sem sentido diante do todo, o que é uma pena, uma vez que grande parte dos convidados consegue realmente fazer humor em seus canais, resultando nesse em mais uma fracassada transposição de mídia que soa apressada e caça-níquéis, apesar claro da boa intenção de seus realizadores.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Mundo Cão

    Crítica | Mundo Cão

    Mundo Cão 1

    Iniciado a partir de uma estética blockbuster, com ideias interessantes que até começam bem pelo carisma inicial das primeiras aparições de Paulinho Serra (em uma caricatura sensacional de muitos membros da patuléia), Babu Santana e Lázaro Ramos. Já no preâmbulo, nota-se que a violência seria a tônica do longa-metragem, mas o espectador é levado a um engano, visto que a aura é muito mais da comédia do que de ação.

    Marcos Jorge teve ótimos momentos em sua carreira de realizador, especialmente em Estômago, sua obra mais lembrada e merecidamente elogiada. O roteiro começa demonstrando uma violência gráfica que cada vez mais toma de assalto o cenário de filmes de ação brasileiros, com uma agressividade puramente gráfica, pop até o extremo. O recheio do texto envolve gírias, palavrões, maloqueiragem e paixão por cães e futebol, ingredientes suficientes para adocicar o paladar do público, ainda que todo o espectro seja um despiste.

    O potencial para ser um filme redondo existia, pois o texto começa interessante, determinando dois universos distintos, um capitaneado pelo bandido Nenê (Lázaro Ramos), que usa seus amados cães para executar seus serviços de extorsão, e o funcionário da carrocinha (e pai da família) Antônio Santana (Babu Santana), que vive humildemente em seus domínios do gueto, frequentando uma igreja evangélica junto a todos os membros de seu clã. O embate entre ambos acontece após o sacrifício do cachorro Nero, um rottweiler encontrado em uma escola, e que encontra óbito após a demora de seu dono em buscá-lo.

    A perseguição ocorrida após estes eventos é crível, especialmente por envolver uma briga de egos desnecessária e carregada de testosterona e infantilidade, da parte dos dois homens. Os problemas começam pouco antes da metade do filme, quando a briga se alastra e envolve as crianças, que em princípio, não comprometem a trama, alvo que evidentemente muda. A personagem de Thainá Duarte fundamentalmente reúne de forma resumida todos os problemas da produção, com cenas não críveis, incoerências dramatúrgicas e incongruências que acachapam qualquer possibilidade de acreditar nos ares de comédia para onde o filme foi levado.

    Todos os arquétipos que poderiam ser graves, profundos e complicados são diluídos pelas péssimas coincidências do texto, que prima pelo óbvio. Apesar de uma boa dedicação de Adriana Esteves ao papel que executa, fato raro aliás dentro do filme, é uma lástima por si só, já que havia potencial tanto pelo talento de Ramos, Serra, Santana e companhia, bem como pelas ideias do argumento. A inversão de banditismo e a denúncia ao descaso das autoridades se perdem, fazendo perder força até as reviravoltas frequentes do filme.

    Mundo Cão talvez agrade ao grande público, especialmente o espectador mais desatento, mas resultar uma cena de um estádio de futebol com meia dúzia de pessoas reais, preenchendo a lotação com bonecos digitais, é demasiado agressivo para qualquer aficionado por futebol, mesmo para os que sabem a diferença entre um bom produto e um que se vale de gráficos dos piores jogos de videogame de 32 bits.