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  • Crítica | Scott Pilgrim Contra o Mundo

    Crítica | Scott Pilgrim Contra o Mundo

    Adaptação de quadrinhos que foi malfadada no quesito bilheteria, Scott Pilgrim Contra o Mundo talvez seja o passo mais pretensioso e grandioso da carreira do cineasta Edgar Wright, ao menos até então, já que contava com participações de muitos atores que ganhariam notoriedade com o passar dos anos, além de também possuir uma necessidade grande de cenas em CGI, caraterística normalmente driblada na parte britânica da carreira do diretor.

    O filme conta a história de Scott (Michael Cera), um jovem de 22 anos, sem muitas perspectivas de futuro, que gasta seu tempo tocando com a sua banda, além de colecionar decepções amorosas, entre elas, uma relação com uma menina que ainda está no colegial. As suas experiências são mostradas como as de um fracassado inveterado, que mal percebe o tempo passar, sensação essa maximizada pelas caricatas (e estilizadas) passagens de tempo que seu diretor escolhe empregar entre uma cena e outra.

    As razões para o insucesso financeiro do longa são até hoje misteriosas. Um dos fatores ditos é que nos quadrinhos Scott Pilgrim, de Bryan Lee O’Malley, as referencias aos videogames podiam ser mais explicitas, enquanto o produto da Universal não poderia mostrar os mesmos easter eggs, em razão de questões envolvendo direitos autorais. Outro motivo levantado é o excesso de cores utilizados nos figurinos e cabelos dos personagens, com tons gritantes, fator que reafirma o clima e a atmosfera camp do produto, e lhe conferem um charme. De certa forma, Wright prevê uma tendência dos futuros blockbusters, e paga pelos pecados medíocres de seus contemporâneos.

    A edição dinâmica e moderna ajuda a aplacar até o que seria um defeito do filme, que é a maratona de dramalhões adolescentes. O caráter lúdico das sequências dos sonhos de Pilgrim envolvendo especialmente sua amada inalcançável, Ramona Flowers (Mary Elizabeth Winstead). Tal ideal o faz enfrentar alguns guardiões, desde suas próprias decisões mal pensadas, assim como alguns de seus ex-namorados. Os embates são estilizados, tanto as lutas quanto as provações que o herói sofre.

    A mistura presente nas piadas é sensacional, em especial quando se coloca em cheque a questão dos vegetarianos serem considerados pessoas evoluídas em comparação com todo o resto – arquétipo esse explorado no personagem de Brandon Routh. As referências a cultura pop também soam afiadas quando se trata de seu personagem, Todd Ingram, principalmente graças as comparações dele com a versão do Azulão que Routh executou, em Superman: O Retorno.

    O fato de Michael Cera exalar um ar de homem patético só acresce ao filme, mesmo que Pilgrim não seja exatamente um fracassado na sua versão original. A escolha por mostra-lo como um loser é acertada, uma vez que abrevia questões como a insegurança enorme que acomete o herói falido. O embate que ele tem com o último dos interesses amorosos de Ramona, Gideon Graves (Jason Schwartzman) é não só ideológico, e mirado na garota ideal, mas serve também ao propósito da jornada de autoconhecimento.

    As lutas entre Scott e os adversários da liga dos ex-namorados de Ramona servem não só para Writght exorcizar seus demônios, podendo finalmente colocar em tela toda sua admiração por produtos pop antigos que normalmente são subestimados – em especial Buffy: A Caça-Vampiros e os filmes de ação dos anos oitenta que se valiam de flashs, cores vibrantes e neon – além é claro de servir ao propósito básico de mostrar a evolução do personagem título, que deixa a tela mais maduro do que era no início. A cafonice de Scott Pilgrim Contra o Mundo é proposital e confere ao filme um charme nostálgico, sendo um belo manifesto de um cineasta que consumia a iconografia visual da TV e cinema durante as décadas de 1980 e 1990.

  • Resenha | Scott Pilgrim Contra o Mundo

    Resenha | Scott Pilgrim Contra o Mundo

    Scott Pilgrim Contra o Mundo - Bryan Lee O´Malley
    Scott Pilgrim é um jovem roqueiro de Toronto, meio lesado, desempregado por opção e que mora com um amigo gay – os dois dormem na mesma cama, pois só têm uma. Sua rotina consiste em jogar video game, ensaiar com sua banda horrível, namorar uma colegial porque isso é simples (um namoro em que nem pegar na mão rola) e basicamente não fazer nada. Scott está satisfeito com sua preciosa vidinha. As coisas mudam quando ele se apaixona pela misteriosa americana Ramona Flowers: pra ficar com ela, Pilgrim terá que derrotar os sete membros da Liga dos Ex-Namorados do Mal de Ramona.

    A maluquice acima é a sinopse de Scott Pilgrim Contra o Mundo, lançamento da editora Quadrinhos na Cia. para livrarias e comic shops. A edição reúne os dois primeiros volumes da série, de um total de seis. Trata-se de uma criação do cartunista canadense Bryan Lee O’Malley, e de obra independente e underground rapidamente se tornou cult, aclamada e premiada. E como não poderia deixar de ser, virou filme. Dirigido por Edgar Wright (de Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso) e estrelado pelo onipresente Michael Cera e a coisinha linda que papai do céu botou na terra, Mary Elizabeth Winstead.

    Mas qual é a dessa hq, afinal? É até meio difícil descrever, pois é algo diferente de tudo. Uma coisa única. Acho que Scott Pilgrim, no fim das contas, é como as cebolas e os ogros: tem camadas. A primeira, mais visível, é uma comédia romântica. Engraçadinha, bonitinha… e completamente viciante, por conta do carisma dos personagens. O traço, aliás, causa um certo choque à primeira vista, por ser MUITO caricato, tosco até. Mas em pouco tempo você se acostuma e percebe que o autor consegue passar uma expressividade absurda com um desenho tão simples.

    A segunda camada é a da diversão non sense. O clima de história realista é quebrado quando chega a hora da pancadaria: superpoderes, elementos de games (os inimigos são derrotados e deixam moedas e itens!), além de um humor insano e incompreensível as vezes… creio seja humor canadense, sei lá. Também há referências mil à cultura pop em geral (quadrinhos, games, música, cinema, etc.) e uma certa metalinguagem, quando alguém pergunta algo do passado e Scott diz “deixa isso pro próximo volume”.

    E por fim, mais uma camada, essa nas entrelinhas: o retrato social de uma geração. Aí reside a genialidade de O’Malley, e é o que diferencia as OBRAS-PRIMAS do resto no mundo do entretenimento, a capacidade ser profundo e simples ao mesmo tempo. Scott e aqueles que o cercam estão na fase da vida que alguns chamam de pós-adolescência, vinte e tantos anos. Quando as pessoas estão começando a enfrentar as responsabilidades (e chatices) da vida adulta, com a síndrome de Peter Pan batendo forte. Medo do que vem pela frente, vontade de mandar um f*da-se pro mundo e só se divertir. Fala sério, quem não se identifica com isso? Nosso herói Scott atravessa essa jornada de crescimento e amadurecimento, seja psicológico, emocional, financeiro… HUMANO.

    Por tudo isso, é uma obra recomendadíssima para todos, sem ressalvas. Esqueça qualquer preconceito e curta essa viagem. Quer você aproveite só uma, duas ou as três camadas, sem dúvida vai valer a pena.

    Texto de autoria de Jackson Good.