Crítica | Transcendence: A Revolução
Com aproximadamente cinquenta trabalhos em fotografia cinematográfica, divididos entre longas-metragens, curtas e videoclipes, Wally Pfister estreia na direção, com uma ficção científica que recorre a uma das tradições do gênero – o futuro como visão pessimista do presente – para desenvolver seu argumento.
Transcendence: A Revolução apresenta um futuro destruído e primitivo em relação ao mundo contemporâneo. A trama retorna anos antes para a bem-sucedida vida do cientista Will Caster (Johnny Depp) e de sua esposa (Rebecca Hall). Considerado uma das grandes mentes vivas, o doutor é responsável por desenvolver o primeiro sistema com inteligência artificial autônoma. Após descobrir-se portador de uma doença terminal, decide transferir sua consciência para uma máquina – uma evolução de seu projeto de inteligência artificial – para permanecer vivo mesmo que em circuitos elétricos.
Diferentemente de seus personagens mais conhecidos, destacados pela interpretação levemente afetada e apoiada em caracterizações distintas, Depp faz um cientista sem muitos arroubos e nenhum estilo próprio. A ausência de qualquer elemento bizarro parece enfraquecer a interpretação do ator em um roteiro raso feito por Jack Paglen (estreante no roteiro de longas). Um material que não fornece nuances à personagem central além da natural mudança de comportamento, quando o Dr. Caster de carne e osso se transforma em um conjunto gigantesco de bytes.
A evolução das máquinas, e a tecnologia que proporciona tal avanço, foi o tema escolhido como estrutura da ficção científica. Dentro do sistema digital, o cientista perde as nuances humanas e torna-se um sistema de ação e reação, equilibrado em uma analise matemática que visa uma melhora tecnológica em escala global, mesmo que infrinja a lei para estes meios. Em contraparte dramática, há um grupo de ativistas (liderado pela personagem de Kate Mara) avessos à tecnologia e contra a evolução transcendental que prende o doutor.
A história desenvolvida além da superfície apresenta a análise filosófica sobre a evolução das máquinas e um futuro consciente a respeito da existência da tecnologia e de robôs artificiais que se tornariam mais inteligentes que a máquina humana. Sob este aspecto, torna-se evidente que Transcendence utiliza-se de um elemento da ficção científica como conflito e não como estilo, semelhante ao desenvolvimento de Oblivion, estrelado por Tom Cruise, que recorre a um futuro distópico somente como base para desenvolver a ação.
Retratando de maneira frívola o conceito da inteligência artificial em um argumento simples, a produção não se insere em linhas de estudo sobre robótica ou neurociência atuais que aproximariam a história de um senso de realidade, nem funciona como um produto genuíno da ficção científica pela falta de um rico material argumentativo que demonstre teses e teorias no interior da narrativa especulativa.
Vendida como história deste estilo, não à toa a recepção foi considerada inferior da esperada. O argumento breve pode conter potencial, mas ao ser executado no roteiro resulta em uma história que se demonstra precária, e o conflito do homem transformando-se em máquina, um mero apelo dramático. Um recurso que poderia ser substituído por outros sistemas narrativos igualmente interessantes em sua essência.
Levando-se em consideração as primeiras notícias que saíram na pré-produção do longa, o roteiro seria mais próximo de uma história de ficção científica, apoiada na evolução da tecnologia e nos consequentes avanços medicinais. Talvez procurando um apelo mais simples e universal – que sempre suscita uma intenção financeira por trás da obra – destruiu-se o verdadeiro potencial dramático e filosófico que a história poderia entregar. Uma transcendência que se transformou em blefe não correspondido, demonstrando que até um nome em alta como o de Christopher Nolan – que produziu o filme – não pode sustentar uma obra composta de maneira desequilibrada.