Após o desastroso X-Men Origens: Wolverine, de 2009, é natural que qualquer fã do mutante mais famoso dos quadrinhos ficasse com um pé atrás a respeito de um novo filme do personagem, mesmo que os primeiros boatos a seu respeito fossem de um projeto com um cineasta de renome, como Darren Aronofsky, que acabou não se concretizando (para alegria de uns e tristeza de outros).
Porém, as notícias da adaptação do clássico arco de histórias de Chris Claremont e Frank Miller com Wolverine no Japão permitiram novas possibilidades e o diretor James Mangold acabou por entregar uma história que por mais que não envolva totalmente o espectador nem apresente nada de novo em relação ao protagonista, ao menos não ofende o fã dos quadrinhos, de cinema e qualquer pessoa com senso crítico, como a produção anterior.
Na nova história, Logan (Hugh Jackman) decidiu abandonar de vez a vida de herói e passou a viver sozinho na selva. Deprimido, ele é rastreado pela jovem Yukio (Rila Fukushima), enviada a mando de seu pai adotivo, Yashida (Hal Yamanouchi), que foi salvo por Logan algumas décadas antes, na detonação da bomba atômica em Nagasaki (em uma bela sequência). Yashida a princípio deseja reencontrar Logan para se despedir de seu salvador (já que está em seu leito de morte), mas depois faz uma proposta: transferir seu fator de cura para ele, de forma que Logan possa, enfim, se tornar mortal e levar uma vida como uma pessoa qualquer. Logan recusa o convite, mas acaba infectado por Víbora (Svetlana Khodchenkova), uma mutante especializada em biologia que é também imune a venenos de todo tipo. Fragilizado, Logan precisa encontrar meios para proteger Mariko (Tao Okamoto), a neta de Yashida, que é alvo tanto da máfia japonesa Yakuza quanto de outros oponentes que surgirão no decorrer da história, um tanto quanto cansativa.
A trama, apesar de simples, é problemática em várias maneiras. Primeiro ao abordar novamente a Yakuza e seus membros tatuados e especialistas em artes marciais. Acredito que esse clichê já foi suficientemente usado em filmes de ação demais nos anos 80 e 90 (aliás, outro clichê é exatamente este: será que todo oriental sabe lutar e manejar armas?). A tentativa de dar ao filme um tom realista ao adotar a máfia como vilã inicial até funcionaria caso isso se sustentasse ao longo da narrativa, mas após sermos apresentados a Víbora e ao Samurai de Prata, toda a sequência com a Yakuza parece perder o sentido. Segundo por adotar corretamente a postura de dar tempo para os personagens se desenvolverem nos dois primeiros atos, mas se esquecer totalmente disso no terceiro, que é inchado com sequências de luta longas demais e, de certa forma, desnecessárias. E terceiro ao transformar radicalmente as relações dos personagens entre si e suas motivações gratuitamente de acordo com cada situação de maneira preguiçosa, a fim de encaixar a trama com um trabalho menor, torcendo para que ninguém perceba a incongruência.
Exemplos disso não faltam: Shingen é envenenado pela Víbora e sofre alucinadamente, para depois aparecer e lutar de igual para igual com Yukio e vencê-la. Ela que antes havia dito que ele lutava “para o gasto”. Depois de vencê-la, Shingen ainda luta ferozmente contra Wolverine, em uma tentativa de remeter a icônica luta dos quadrinhos, mas extremamente mal-executada, já que, de uma hora para outra, Wolverine solta uma frase de efeito e abandona a luta para, segundos depois, voltar e matar o vilão que nunca deixa nada passar. Harada (Will Yun Lee) também é outro que age em um padrão o filme todo para no final, tomar uma atitude totalmente descabida. Há também a excessiva aparição de Jean Grey (Famke Janssen) nos sonhos de Logan, na função de servir de guia e desnecessariamente explicar a plateia cada momento do filme e o estado psicológico do protagonista.
Os pontos positivos do filme ficam nas cenas iniciais (como a do urso e o enfrentamento no bar) e nas de ação, durante o enterro de Yashida e, principalmente, no trem, rendendo algumas cenas engraçadas. São cenas que, apesar de faltar violência e sairmos com a impressão de que ninguém foi morto pelas garras de Logan, conseguem transmitir perigo e um senso de urgência, além de serem bem executadas de modo que consigamos acompanhar, passo a passo, onde cada personagem está em determinado momento e o que estão fazendo, o que muitas vezes não é feito por diretores atuais. Porém, a melhor parte do filme ainda é a cena pós-crédito, que liga diretamente o filme ao próximo filme da franquia, chamado “Dias de um Futuro Esquecido”, trazendo personagens e atores conhecidos do público em um momento empolgante.
Ao final, fica a impressão de que talvez tenha chegado a hora de tanto Marvel quanto Fox (assim como Hugh Jackman) repensarem o que a superexposição do Wolverine pode causar no desgaste do personagem, já que o veremos novamente protagonizado a sequência do ótimo X-Men: Primeira Classe. Encerrar aqui este ciclo do herói a exemplo da trilogia Batman de Nolan/Bale, daria chance a outras pessoas retomarem o herói com outros olhos e revigorar a combalida franquia solo de “Wolverine” nas telonas.
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Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.
Um balde de água fria.
Ao contrário de todo mundo, não vi tanto problema na mudança de tom que ocorre no final do filme (ainda vou fazer uma campanha contra o uso excessivo da expressão TERCEIRO ATO), pra mim é muito tranquilo encarar como um clímax, uma apoteose que tem sim que ser mais bombástico que o restante do filme. Agora, furos de roteiro e personagens, principalmente vilões, mudando de objetivos de uma cena pra outra (Homem de Ferro 3 mandou um abraço), realmente não dá pra perdoar.
Mas pra mim os principais erros são de natureza conceitual, o filme já parte de algumas idéias terríveis, que fica até complicado apreciar os aspectos em que ele foi bem executado (ambientação, pegada de início mais psicológica, boas cenas de ação, etc). Imortal? O Wolverine não é um vampiro, CARALHO! Ele simplesmente envelhece mais devagar. E o fator de cura ser retirado dele e transferido pra outro, como? Que porra é aquela de “o que eles fizeram em mim não pode ser desfeito”??? Não foi a Arma X que implantou o fator nele junto com o adamantium, esse é o poder mutante dele, tá em sua genética. Mesmo que ele seja retardado, prejudicado, com o tempo acaba voltando. Pseudo-ciência, a gente releva. Mas tudo tem limite.
Outra coisa, como ele lembra de eventos da Segunda Guerra sendo que ele perdeu a memória depois da Arma X? Mesmo que Wolverine Origens seja apagado (o que ainda NÃO FOI ESTABELECIDO), na trilogia ele tava desmemoriado…
Cara, tem um lance bacana de escrever sobre filmes que é o seguinte: se você não sabe o que dizer, é só dizer que o terceiro ato foi ruim. Pronto! hahaha
Sobre seu último parágrafo, eu me lembro de ter pescado alguma citação no filme sobre o “Origens”, mas depois acabei perdendo no meio daquela salada toda, já que as referências a trilogia original X-Men foram colossais. Depois vou tentar lembrar.
parei de ler no “será que todo oriental sabe lutar?”
aprenda sobre a cultura oriental… lá artes marciais é disciplina escolar
Oriente não é país. Estava me referindo ao Japão, mas isso acontece em filmes chineses e coreanos também.
No Japão, a partir de 2012, começou a ser opcional o ensino de três modalidades: sumô, judô e kendô. Na China tem o Tai Chi Chuan também.
De resto, não.
Cartera o cara Fábio, deve ser curintiano o maluco!