Criado na editora Wildstorm, selo independente de Jim Lee, em 1993, a série Stormwatch sofreu mudanças significativas quando Warren Ellis assumiu o roteiro na edição 37. O britânico deu nova estrutura ao conhecido grupo comandado pelo Homem do Tempo, acrescentando maior densidade em sua narrativa, permanecendo até o final do título quando a DC Comics adquiriu os direitos da obra e inseriu-a em seu universo.
Lançado pela Panini Comics, Stormwatch – Volume 1 é o primeiro de quatro edições que reúnem toda a fase do roteirista à frente da revista, sendo este primeiro número uma compilação das seis primeiras histórias. Ao público que desconhece a origem do grupo, não é necessária nenhuma apresentação anterior. Na primeira história, as equipes são realinhadas, novos personagens surgem e antigos membros da equipe saem de cena ou ganham nova função, e a base necessária é apresentada de maneira enxuta: vivendo em um satélite na órbita da Terra, a equipe dos Stormwatch, criada pelas Organização das Nações Unidas, atende qualquer chamado para conter crises.
A visão mundial da época do lançamento original das edições demonstra variáveis em relação a percepção contemporânea. Tal afirmativa advém tanto da concepção do roteiro quanto da arte. Distante da era da informática em que o mundo se mantém conectado, a visão de uma equipe centralizadora e vigilante parecia mais urgente do que hoje. A personagem do Homem do Tempo, mesmo líder do grupo, adquire contornos dúbios como alguém além de um mero observador. Ainda que realize ações de contenção e viva sob um protocolo heroico, a personagem demonstra ganância diante da contenção de tanto poder e informação. Uma característica que parecia proeminente para um vilão da ficção mas que hoje soa profético devido ao fato de grandes países guardarem informações sobre seus próprios cidadãos, e a internet mantida sob vigia constante. Alguns aparatos tecnológicos especulados na época soam datados, mas funcionam dentro do conceito ficcional da trama.
Da mesma forma, a arte de Tom Raney mantém também o marco temporal, representando o ápice do estilo Image de personagens estilizados em corpos perfeitos e cenários com poucas sombras e excesso de informação e cores. Embora algumas cenas de ação sejam perceptivelmente mal realizadas, sem uma continuidade possível de ser interpretada, os traços mantêm coerência com a narrativa e, mesmo causando possível estranhamento no leitor que não acompanhava quadrinhos na época, são bem delineados nesta vertente.
As seis histórias que acompanham este primeiro encadernado contêm histórias fechadas, fundamentando as três equipes Stormwatch criadas por Ellis: Prime, Red e Black, cada uma voltada a um tipo de apoio diferente, difundindo frontes diversas e ampliando a possibilidade do autor desenvolver tramas diferentes com formações distintas. É evidente que há uma trama que perpassa as histórias com um viés político, apresentando uma crítica à possível ideologia totalitária de vigilância de países. Ao mesmo tempo, nascia nesta revista – em edições posteriores – o conceito da Sangria, fundamental também na história do Planetary e que hoje faz parte do tecido que permeia o espaço interdimensional multiverso da DC Comics, a editora a qual reintegrou a equipe.
Bem-sucedida desde seu lançamento, Stormwatch é uma grande história, demonstrando a qualidade costumeira de Ellis em compor, a partir dos quadrinhos, uma narrativa densa cuja aventura se desenvolvia em paralelo a temas mais profundos, sem perder força em nenhuma destas vertentes.