Diante de grandes publicações, a dupla Tim Sale e Jeph Loeb se tornou uma representação contemporânea de parceria de sucesso nos quadrinhos. Iniciada na DC Comics, em histórias solos que compuseram a coletânea Dia das Bruxas, a equipe produziu grandes narrativas fechadas focadas em aspectos distintos de personagens do estúdio, como O Longo Dia das Bruxas e Vitória Sombria para Batman e As Quatro Estações para Superman. Na Marvel, desenvolveram uma trilogia de cores – agora acrescida de uma nova aventura com Capitão América – retomando a origem fundamental de três personagens e compondo uma trama sentimental e dramática sobre suas trajetórias.
Em geral, as narrativas de cores formadas por Demolidor: Amarelo, Homem-Aranha: Azul, Hulk: Cinza e o recém-lançado Capitão América: Branco, retornam ao início das personagens, a partir de definições feitas por Stan Lee, para uma história de cunho mais pessoal, centrada em acontecimentos chave, narrados pela própria personagem. Trabalhando com um histórico de acontecimentos, a trama vai além de uma releitura de fatos, reordenando, com qualidade, as tensões da biografia do herói em uma nova visão.
Demolidor: Amarelo foi o primeiro destes lançamentos em uma minissérie em seis edições publicada originalmente entre 2001 e 2002. No país, três edições foram publicadas com toda a série, no formato Panini, maior do que o americano. Loeb reordena o passado de Matt Murdock a partir de acontecimentos recentes da personagem. Assim, dialoga tanto com um drama atual das histórias como retoma seus primeiros dias. O ponto de partida se situa na morte de Karen Page, um acontecimento narrado por Kevin Smith em Demônio da Guarda, primeira história do Volume 2 de Daredevil. A narração é composta por uma carta escrita para a falecida Karen, repassando os primeiros momentos em que tiveram contato em uma época a qual o Homem Sem Medo ainda utilizava o manto amarelo em homenagem ao pai – um figurino modificado a partir de Daredevil #8, em agosto de 1965, o que prova a abordagem em momento precoce na carreira.
A releitura adquire maior cunho dramático, perpassando acontecimentos do início da carreira, revivendo o trauma de outra namorada perdida. Ao dialogar com um personagem morto, a carga dramática se eleva e produz uma composição sensível que corrompe a estrutura de um herói perfeito. A morte nas tramas de Murdock sempre desenvolveram um conceito trágico na personagem, e o efeito causado por ela, sempre realista, é apoiado em dor e luto. O que o mantém como um representante heroico é a forte personalidade e o senso de obrigação moral de fazer o bem. Feitos que se sobrepõe e sempre abrandam as perdas violentas de Murdock desde a infância com a morte do pai, um traço psicológico que, desde sua fundamentação, foi inserido com precisão.
Loeb e Sale trabalham em sincronia, entrelaçando roteiro e imagens, desenvolvendo uma obra que ambos os aspectos se completam. Loeb inicialmente desenvolvia os roteiros com sugestões para o desenhista que expandia as informações, melhorando a visão artística em belos quadros. A edição também apresenta um novo estilo de colorização por computador, a partir das imagens preto e branco de Sale.
Cada capítulo retoma um aspecto diferente da vida de Murdock explorando a trajetória anterior, os momentos iniciais, a luta com os primeiros vilões, o amigo Foggy Nelson e a tensão amorosa existente entre ambos na relação com Karen Page. Uma retomada memorial que adquire tom pessoal em uma estética impecável, homenageando artistas que passaram pela primeira longeva série da personagem encerrada em Outubro de 1998 para um novo grandioso inicio com Smith que se manteve em qualidade com David Maack, Brian Michael Bendis, Ed Brubaker, Andy Diggle e Mark Waid nos roteiros.
Demolidor: Amarelo nunca foi relançado no país e se trata de uma história cuja reedição é necessária, pelo bom conteúdo além do natural pedido dos leitores, ainda mais considerando o novo formato estabelecido pela editora em edições capa dura. Nos Estados Unidos, há tanto uma reedição solo quanto uma contendo as três histórias, uma edição defasada devido ao lançamento de Capitão América.