Ano passado fizemos nossa primeira lista coletiva de melhores filmes do ano, a partir da seleção pessoal de cada crítico do site. Uma lista que representava, mesmo que em um pequeno grupo, o melhor dos melhores. O sucesso nos fez repetir essa fórmula ainda que uma lista sempre tenha comentários a favor e contra.
Nada mais junto se considerarmos uma equipe heterogênica, formada por diferentes estilos de crítica, cada um com uma tendência cinematográfica diferente. O resultado sempre é positivo, ainda que alguns leitores se perguntem porque este ou aquele filme não está presente.
Em nossa lista dos melhor dos melhores, é perceptível que o grande filão atual de Hollywood, os filmes baseados em quadrinhos, vem sofrendo uma queda. Se as bilheterias ainda mantém uma fatia gorda do mercado, o mesmo não se pode dizer da qualidade, fator com que dividiu as produções de quadrinhos na lista dos piores e com apenas um representante na de melhores (particularmente, eu acrescentaria mais duas produções nessa lista, mas, apesar de estarem em minha lista pessoal, não foram bem pontuados na lista geral, desculpe Strange e Rogers). A lista talvez não seja surpreendente ressaltando alguma grande obra ignorada pela crítica em geral, mas demonstra o quanto é possível realizar um bom cinema tanto em facetas autorais como no mais básico – e bacana – cinema pipoca de explosões, sangue e, se possível, quartas paredes quebradas.
A lista, enfim.
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10. A Grande Aposta (Adam McKay, 2015) – Por Fábio Candioto
A Grande Aposta apareceu nos cinemas de 2016 quase como uma surpresa. Adam McKay, responsável pelo filme, era mais conhecido pelos filmes de Ron Burgundy, como O Âncora, mas nesta produção indicada ao Oscar de melhor filme do ano passado, o passo dado adiante é gigantesco, ao contar a história de como alguns economistas americanos conseguiram observar e prever a crise imobiliária e financeira de 2008. Contando com grande elenco e um tom misturando comédia e sarcasmo (devido ao nível do absurdo de como as operações financeiras eram realizadas), A Grande Aposta traz um excelente e didático filme, que consegue entreter com seus personagens, diálogos e principalmente uma narrativa que poderia ser embromada e confusa devido ao tema, mas flui naturalmente tanto para interessados quanto para leigos no tema.
9. Carol (Todd Haynes, 2015) – Por Filipe Pereira
Todd Haynes executa um filme sucinto e tocante, que menciona temas de ternura e amor através de manifestações puras. O drama de Carol carrega semelhanças com outra produção de sua filmografia, Longe do Paraíso, ainda que que sejam diferentes em destalhes cruciais. Além de conter uma fotografia que faz abrilhantar ainda mais o incisivo roteiro, o filme ainda conta com uma atuação inspirada de Cate Blanchett, que faz uma mulher forte e decidida, que não se dobra diante da vontade masculina e conservadora que predomina no restante da humanidade. Rooney Mara executa também um trabalho brilhante que dialoga com perfeição ao de Blanchett, mesmo que seu personagem seja completamente diferente de Carol. As trocas de olhares falam muito e tornam a interação entre o casal principal em algo profundo e sentimental, denunciando a inevitabilidade do destino de ambas, explicitando o quão profundo era o laço emocional que as unia.
8. Capitão Fantástico (Matt Ross, 2016) – Por Amilton Brandão
Não é por acaso que o novato diretor Matt Ross inicia seu filme com um ritual de iniciação primitivo. O ritual tem sua valia tanto para Bo (George Mckay), filho primogênito de Ben (Viggo Mortensen) quanto para o espectador. A crueza e intensidade da cena serve como preparação para o conjunto de valores e idéias que serão apresentados e discutidos ao longo do filme.
Ben vive com seus seis filhos em uma floresta reclusa, longe de praticamente todas influências da sociedade moderna como a conhecemos. Nesse pequeno refúgio eles cultivam uma vida de acordo com os valores da contracultura, onde discussões literárias ao redor da fogueira são casuais e incentivadas, assim como a música e artes em geral. Essa quebra do antiquíssimo modelo da família nuclear por si só traz uma reflexão necessária em tempos onde o moralismo e o conservadorismo ainda ameaçam qualquer vertente filosófica que desafie o status quo. Sempre entregando qualidade em sua atuação, Mortensen demonstra o quão difícil e conflituoso pode ser uma vida na qual um pai realmente têm que ouvir seus filhos argumentando e usando as ferramentas intelectuais que ele mesmo os ensinou para fazer valer suas próprias vontades.
O roteiro demonstra maturidade ao deixar claro as vantagens e as desvantagens desse estilo de vida. Os filhos de Ben são poliglotas, versados em literatura clássica e até física avançada. Seu pai é o próprio responsável por grande parte dessa educação e o mesmo estimula seus filhos a realmente pensar, analisar, refletir e argumentar suas idéias. Quando uma de suas filhas tenta usar a palavra “interessante” para descrever o livro que estava lendo no momento (Lolita), Ben replica dizendo que isso é uma “não-palavra”’ e pede que ela analise e discorra sobre sua visão da obra. Até os mais jovens, são capazes de um questionamentos sócio-político sagaz. O filme nos apresenta essas situações de maneira criativa e descontraída, casando com o tom do primeiro ato. Ao mesmo tempo deixando claro que a ausência da mãe começa a pesar cada vez mais sobre toda a família.
7. Os Oito Odiados (Quentin Tarantino, 2016) – Por Jackson Good
Certa vez definiram Quentin Tarantino como “o mais cool dos cineastas cult” – seja lá o que isso signifique exatamente. O fato é que diretor sempre transita entre as alas de quem curte analisar sub-textos e metalinguagens e daqueles interessados simplesmente numa diversão sanguinolenta. Ainda que sua imagem de ídolo “alternativão” construída pré-Kill Bill venha sendo contestada a cada novo filme lançado, é gratificante vê-lo solto e despreocupado, fazendo claramente o que quer no seu último longa, intitulado Os Oito Odiados.
Mais uma vez ambientando-se no Velho Oeste, assumidamente um dos seus gêneros preferidos, Tarantino naturalmente homenageia clássicos, começando pela trilha sonora do mito Enio Morricone. Há também espaço para auto-referências bastante claras, como uma releitura de Cães De Aluguel e o uso de seus atores-fetiche Kurt Russell, Tim Roth, Cristoph Waltz e Samuel L. Jackson (fantástico, aliás). Se você quiser dar pontos pela sátira/crítica à sociedade norte-americana e sua formação baseada em violência, misoginia, paranoia e imoralidades afins, tudo bem. Mas a impressão é de que o plot (diferentes personagens presos em uma estação de diligências durante uma nevasca, todos com segredos e interesses obscuros) é apenas uma desculpa para o velho Quentin se divertir com suas homenagens, cenas longas com diálogos expositivos onde os atores brilham, reviravoltas regadas a alguns litros de sangue, e outros de seus brinquedos habituais. E nem precisa de mais do que isso para ser um dos destaques do ano.
6. Deadpool (Tim Miller, 2016) – Por David Matheus
Se existe um exemplo de que a internet pode mover montanhas, esse exemplo é Deadpool. O filme solo do mercenário tagarela ficou anos no papel e só ganhou notoriedade graças à rede mundial de computadores. Há poucos anos, Hollywood tinha uma espécie de costume em que filmes para maiores de idade não faziam dinheiro algum, uma vez que se limitava a quantidade de público que iria ao cinema. Com isso, diversos personagens que mereciam ter suas histórias contadas de forma justa ganharam adaptações bizarras para as telonas para que todos as pessoas pudessem assistir. Wolverine é um caso recorrente e Deadpool, coitado, teve seu projeto enfiado debaixo dos tapetes após a bizarrice vista no filme solo do carcaju. Mas o astro Ryan Reynolds e o diretor Tim Miller seguiram em frente e gravaram apenas uma cena para convencer os executivos de que Deadpool merecia um filme à altura do personagem. “Não”, eles disseram. Então, porque não “vazar” a cena e ver o que o mundo acha? E o resultado foi estrondoso e a dupla Reynolds e Miller ganharam sinal verde para o que quisessem fazer, mas com um orçamento limitado. Deadpool não perdoa ninguém. Não perdoa o espectador, não perdoa o Lanterna Verde. Não perdoa a Marvel, não perdoa as celebridades e não perdoa nem a sua casa, a Fox, levando ao chão as super (e as vezes desastrosas) produções dos X-Men. O filme em si não é uma maravilha, mas está entre os melhores filmes do ano não por ser “violento e divertido” e trazer justiça para o personagem, mas sim por ser corajoso e por quebrar paradigmas e quartas paredes que foram levantadas ao longo dos anos em Hollywood.
5. Spotlight: Segredos Revelados (Tom McCarthy, 2015) – Por Bernardo Mazzei
Principal vencedor do Oscar do ano passado, Spotlight: Segredos Revelados poderia ter facilmente caído no melodrama barato ou no sensacionalismo, uma vez que lida com uma questão extremamente delicada. Entretanto, o diretor Tom McCarthy conduz o filme de forma segura e brilhante, conseguindo grandes atuações de todo o elenco, principalmente de Mark Ruffalo. Spotlight é um filme que se preocupa em contar bem uma história, mas é nas relações humanas em que se destaca. Todos os personagens tem nuances próprias e fogem dos arquétipos do gênero. Mais que isso, não há nenhuma forma de maniqueísmo. Executado de forma simples e direta, Spotlight é um excelente longa que fez por merecer a estatueta de melhor filme.
4. A Bruxa (Robert Eggers, 2015) – Por Flávio Vieira
O gênero de Terror parece ter se reinventado na última década, ainda que essa reinvenção seja questionável, já que a maioria dos bons filmes que têm saído nesses últimos anos ainda utilize seus principais nomes como referência, entre eles, William Friedkin, John Carpenter, Wes Craven, Tobe Hooper, entre outros. A Bruxa, de Robert Eggers, vai além do momento fértil que o cinema de terror vive e sabe como trabalhar suas influências e transmitir medo.
Na cena de abertura, acompanhamos o chefe de uma família sendo levado perante um conselho de seus concidadãos, sendo acusado e sentenciado ao banimento da colônia, tendo de sair com sua família e todas as suas posses para a floresta. Não sabemos qual o crime cometido, mas segundo o pai “ele apenas praticou o evangelho do Senhor”. O deserto e a escuridão os espera, como uma forma de provação, assim como Jesus foi provado. Os resultados não serão os mesmos, aqui remetem muito mais ao destino de Caim, após ser expulso do Éden. Um horror que não pode ser diminuído aguarda por cada membro da família, e esse horror, de maneira psicológica, é transmitido aos telespectadores.
A Bruxa relembra até mesmo os incrédulos que há momentos onde a racionalidade não tem lugar, neste momento não se pode varrer as cinzas ou apaziguar a maldade que existe dentro de cada um de nós.
3. Elle (Paul Verhoeven, 2015) – Por Rafael W. Oliveira
Se o cinema de Paul Verhoeven é marcado por subversões, satirizações, sensualidade desmedida e uma visão bastante ampla em suas particularidades sobre a análise de temas corriqueiros do cotidiano, Elle pode ser uma síntese tanto quanto foi Instinto Selvagem, RoboCop, Tropas Estelares ou Showgirls. E é nisso que olhamos para um destes filmes e dizemos: é puro Verhoeven. O “puro” define um cineasta cujo cinema sempre fora recebido com tamanho carinho pelo próprio, mesmo em seus projetos mais revistos por estúdios. Elle, lançado tanto tempo após o último longa de Verhoeven, é mais uma obra de sensibilidade singular sobre a banalidade das discussões em temas corriqueiros do cotidiano. E também sobre a força que o Cinema têm de nos fazer desafiar e reavaliar nossas próprias questões de moralidade.
Pois enquanto Elle faz uma sátira impiedosa sobre uma gama de tempos, em uma experiência extremamente prazerosa ao senti-los no decorrer da narrativa, Verhoeven também chega diante do caos do mundo e nos entrega um filme sobre o controle, podendo isso ser entendido como quisermos. E em uma Isabelle Huppert sólida, magnética e dona de uma presença de imposição assombrosa, o diretor encontra sua nova catarse sobre o cotidiano, o mundano, o banal, o sujo e o amoral. E levando-o a uma definição banal e ainda pouco representativa para tal, Elle é uma obra-prima.
2. Creed: Nascido Para Lutar (Ryan Coogler, 2015) – Por Rafael Moreira
Creed: Nascido Para Lutar é a retomada em grande estilo de uma das maiores mitologias do cinema. Continuando com Rocky passando o bastão de protagonista para o filho de seu grande amigo dos tempos áureos, Apolo Creed. Depois de uma boa retomada da franquia em Rocky Balboa que tirou o gosto amargo que o quinto filme tinha deixado com os fãs, Creed nos leva de volta a origem da série. Tanto em qualidade como nas próprias metáforas para a vida que o Sly sempre faz questão de colocar. Além disso, seja por mérito do diretor ou do próprio Stallone, essa é possivelmente sua melhor atuação.
Enfim, Creed é a história de uma vida. De um ator. De um lutador. Seja no ringue ou fora dele. Que luta tanto por si próprio quanto por quem está a sua volta. Podemos dizer que Creed é a materialização em forma de arte da melhor frase do cinema brucutu. “Não importa o quanto você bate. Mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar. O quanto pode suportar e seguir em frente. É assim que se ganha”. Ah, Rocky. Que saudades que estávamos de você.
1. A Chegada (Denis Villeneuve, 2016) – Por Thiago Augusto Corrêa
Dennis Villeneuve se mantém como um dos diretores mais interessantes na ativa. Suas obras são capazes de integrar o roteiro e a imagem sem medo que a narrativa se torne parcialmente subjetiva. Baseado no conto de Ted Chiang, A Chegada mantém o estilo do diretor em uma potente história apoiada na tradição da ficção científica para destacar a falta de comunicação entre as comunidades. A transmissão da linguagem se transforma no conectivo de compreensão entre os povos, retomando simbolicamente o necessário uso da expressão e da palavra como transmissor de conhecimento.
A ficção científica na história marca o desconhecido, potencializa a mensagem principal da produção em um roteiro reflexivo que exige do público uma parcela de análise e comprensão, tanto em sua mensagem quanto no paradoxo exibido em cena. Enquanto outros diretores cedem ao caminho mais fácil, Villeneuve mantém a confiança no público para que seus filmes adquiram um significado completo.
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Confira também nossa lista dos Piores Filmes de 2016.
Participaram desta votação: Flávio Vieira, Rafael Moreira, Thiago Augusto Corrêa, Filipe Pereira, Amilton Brandão, Jackson Good, André Kirano, Pablo Grilo, Bernardo Mazzei, David Matheus, Douglas Olive, Marcos Paulo Oliveira, Fábio Candioto, Halan Everson, Dan Cruz, Leonardo Amaral, Cristine Tellier, Marlon Faria e Rafael W. Oliveira.
tem q fzer podcast cooorooi
CAROL? AH NÃO…
Aquarius, O Homem nas trevas, O filho de Saul, O quarto de Jack, Anomalisa, O Regresso
Até Deadpool é melhor que Carol…
Queria o cast pra tentar entender, mas ainda assim será difícil.